São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUESTÃO AGRÁRIA

Hipótese foi levantada pelo ministro Raul Jungmann



PF vai apurar suposto elo entre tráfico e grilagem



A corregedoria-geral do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e a Polícia Federal do Amazonas não têm provas da existência de ligação entre o narcotráfico e a grilagem de terras da União na Amazônia.
Na última quinta-feira, o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) havia afirmado que a ligação existe, citando inclusive o suposto envolvimento do comerciante e suposto megagrileiro Falb Saraiva de Farias _que negou a insinuação.
Segundo o delegado especialista em conflitos agrários e fundiários Anilton Roberto Turíbio, que assumiu as investigações sobre grilagem na região, nos dois novos inquéritos abertos ontem para investigar as propriedades de Farias serão levantadas todas as possibilidades _inclusive as relações com o tráfico.
"A principal linha da investigação é comprovar fraudes nas escrituras dessas propriedades. Quanto ao problema do narcotráfico, eu não tenho indício. Nós vamos investigar", disse Turíbio.
Ele afirmou que, nos outros 12 inquéritos sobre grilagem abertos pela PF do Amazonas anteriormente, as informações eram muito genéricas. "Mas também não apontaram indícios com o narcotráfico”"
No Incra, um dos procuradores, que não se identificou, disse que o órgão encontrou indícios de relação com o narcotráfico nos municípios de Boca do Acre e Pauini, mas não conseguiu provas. Os procuradores teriam constatados a existência de várias empresas fantasmas do comerciante Farias.
Jungmann disse em Manaus ter "absoluta clareza de que a compra e venda de áreas gigantescas está relacionada à lavagem de dinheiro do narcotráfico".
O delegado Turíbio está em Manaus há quatro dias, destacado pela PF a pedido dos ministérios da Justiça e do Desenvolvimento Agrário para acelerar as investigações. Ontem, ele afirmou que irá pedir a quebra do sigilo bancário e fiscal de Farias. O comerciante afirma que agora só fala em juízo.
O diretor-geral interino da PF, delegado Wilson Salles Damázio, que acompanhou a blitz de Jungmann em Manaus, disse que os novos inquéritos serão instruídos rapidamente. O objetivo é indiciar o megalatifundiário Farias, apontado pelo Incra como proprietário de 10 milhões de hectares.
"Concluída a instrução e havendo o indiciamento do Falb, diante da magnitude da fraude que foi montada, a Polícia Federal vai representar pela sua prisão preventiva", afirmou Damázio. "Há uma possibilidade de haver lavagem de dinheiro. O leque é grande, mas a PF só se pronunciará oficialmente no final dos inquéritos", afirmou.
O procurador-geral do Incra, Mário Braule da Silva divulgou uma história nebulosa envolvendo Farias. Ele mostrou um documento de 18 de julho de 2000, emitido pelo estudante de Campo Grande Marco Antônio da Silveira e pelo administrador de Passo Fundo Érico Luiz da Silveira, requerendo registro de terras comprada de Falb Farias.
No local, segundo o documento, seria construído um assentamento particular para 400 famílias de russos. O pedido de registro foi negado pela procuradora Beatriz Pereira Abreu.
Dos cinco titulares de cartórios afastados por determinação do Tribunal de Justiça do Amazonas), por suspeitas de participação com o esquema de grilagem, a Agência Folha localizou ontem apenas Francisco de Jesus Barroso da Silva, de Pauini. "A decisão do tribunal foi uma medida moral, na correição vamos verificar quem está certo", disse ele.
O suposto grileiro Mustaf Said, que teve anulado, também pelo tribunal, registro de 1,2 milhão de hectares, disse em nota à imprensa que "adquiriu as terras por herança da família e que nunca falsificou documentos".

Texto Anterior: No Planalto - Josias de Souza: Um cheiro de queimado exala da contabilidade da Varig
Próximo Texto: Evento: Fórum Social Mundial deverá reunir 10 mil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.