São Paulo, segunda-feira, 14 de janeiro de 2002

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RIO DE JANEIRO

Garotinho vai deixar dívidas para Benedita

ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO

O PT vai ter que fazer cortes em metade do programa de obras do Estado do Rio, a partir de abril, quando o partido assume o governo, com a vice-governadora Benedita da Silva. O programa é estimado em R$ 1,5 bilhão.
Benedita ocupará o cargo que será deixado por Anthony Garotinho (PSB), pré-candidato à Presidência da República. Os petistas e o governador romperam politicamente desde o início de 2000, depois de uma série de crises.
Os cálculos de cortes foram feitos pelo grupo de transição que assessora a vice-governadora. Levam em consideração a necessidade de pagar R$ 580 milhões de uma sentença judicial favorável aos professores do Estado do Rio e despesas ainda não pagas do ano passado com o Rioprevidência (fundo de pensão do funcionalismo estadual) que já atingiram R$ 208 milhões.
A sentença judicial, tomada em última instância, é resultado de uma ação iniciada em 1996, na qual os professores fluminenses reclamam ressarcimento pela interrupção no pagamento de benefícios à categoria.
Garotinho, ao elaborar o Orçamento para este ano, não previu a necessidade de fazer o pagamento do montante estimado na sentença. Segundo ele, foram os próprios deputados petistas que tomaram a iniciativa de fazer uma emenda determinando a quitação. "Agora cabe a eles escolherem o que cortar", disse o governador. Para ele, a sentença não estabelecia data para o pagamento. Assim poderiam ter sido negociados prazos mais longos.
Esse dinheiro, avalia José Augusto Valente, que assessora Benedita na análise da situação financeira do Estado, terá que sair de cortes em investimentos, devendo afetar programas como o Nova Baixada (que urbaniza municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro) e convênios de obras com prefeituras do interior.
Ao deixar a decisão sobre os cortes para o PT, Garotinho quer transferir para o partido o ônus político de uma decisão que vai afetar a população que seria beneficiada pelas obras.
Os petistas do Rio querem transformar a gestão de Benedita em um palanque para a campanha do partido à Presidência e para a candidatura dela mesma à continuidade no governo.

Evangélicos
Garotinho e Benedita se apresentam como políticos evangélicos e estão estremecidos desde que o governador acusou sua vice de ter participado do desvio de cerca de R$ 500 mil que seriam destinados por uma empresa privada a um programa social do Estado. A vice-governadora sempre negou qualquer irregularidade.
O processo de transição vai começar apenas depois do Carnaval, na segunda semana de fevereiro, cerca de 50 dias antes da posse de Benedita. Ela considera o prazo satisfatório para tomar conhecimento de todos os detalhes da administração. "Por enquanto estamos buscando informações, não queremos parecer um governo paralelo ao de Garotinho", diz.



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