São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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Cabral se diz "amigo de infância" de Lula

Em entrevista à Folha, o governador do Rio tece elogios a petista, a Serra e a Aécio; "fazer amigos é uma bênção", afirma

Peemedebista, que se define como "pragmático", começa governo sem metas e fala que administrar o Estado é "um gerúndio"

PLÍNIO FRAGA
RAPHAEL GOMIDE

DA SUCURSAL DO RIO

Nem situação nem oposição. Muito pelo contrário. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), que, durante o primeiro turno da eleição presidencial, cunhou a "neutralidade radical", define-se como um "pragmático".
Afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é seu "mais novo amigo de infância" e, rindo, imita o seu jeito de falar, com voz rouca e língua presa. Trata o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), por "meu líder" e o qualifica como "o maior gestor do Brasil".
Amigo há 26 anos do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), louva-o também como administrador e provoca: "É muito ciumento".
"Sou um pragmático. Estou próximo de quem está próximo do Rio. Fazer amigos é um dom, uma bênção. O carioca tem essa característica, não é litigioso", afirma Cabral, nascido no Engenho Novo, zona norte do Rio. Ele não quer se comprometer com metas, mas diz que seis meses é um prazo razoável para que o Estado esteja melhor.
"É um gerúndio, não tem prazo determinado. Escolhi as pessoas certas. Meu papel é liderar. Não sou big brother." Formado em jornalismo, Sérgio Cabral de Oliveira Santos Filho, 43, tornou-se o oitavo governador do Rio de Janeiro após a fusão do antigo Estado do Rio com a Guanabara, em 1975, e, em 14 dias, mostrou-se o mais midiático deles.
No discurso de posse, pediu um minuto de silêncio às vítimas dos ataques de traficantes na última semana de dezembro. Nos dias seguintes, fez vistorias, acompanhado pela imprensa, aos hospitais públicos. Apontou o horror no atendimento e demitiu um diretor, nomeado 24 horas antes, por supostamente estar acomodado com o mau atendimento.
Fez duas reuniões com os governadores do Sudeste, visitou cidades atingidas pela chuva, deu entrevistas diariamente e apareceu até no "New York Times", que destacou que o governador trabalha tendo como companheiros um laptop Sony e uma lata de Coca-Cola light.
Cabral falou à Folha no seu gabinete no Palácio da Guanabara na quarta-feira. A entrevista foi interrompida em dois momentos. Para mostrar sua boa relação com Serra, localizou o governador em Ribeirão Preto (interior de São Paulo) e trocou amenidades por telefone. Antes, havia se dirigido ao fotógrafo: "Faz uma foto minha falando com o Serra".
Em outro momento, a primeira-dama Adriana Ancelmo, advogada, 36 anos, foi despedir-se do marido. "Oi, riqueza minha", saudou o governador. Ela beijou-o. O fotógrafo da Folha não conseguiu registrar o momento. Cabral pediu que a mulher repetisse o gesto: "Dá um beijo aqui para a Folha".  

FOLHA - O presidente Lula de um lado e Serra e Aécio de outro. Se o sr. tivesse de escolher uma companhia, ficaria com quem?
SÉRGIO CABRAL
- Eu sou amigo de todos. Sou amicíssimo. Aliás, o Serra me ligou.

FOLHA - O Aécio chegou a fazer uma piada na reunião dos governadores na quarta-feira, dizendo que o sr. fala com o Lula todos os dias.
CABRAL
- Aécio é um ciumento há mais de 25 anos. [Dirige-se a um assessor.] Liga para o governador Serra. Ele andou me ligando e eu estava num evento no Maracanã. Liga para ele. Sou amigo do Aécio há 26 anos.

FOLHA - Muito mais do que do presidente Lula.
CABRAL
- O Lula é o meu mais recente amigo de infância. O Serra foi meu candidato a presidente em 2002. Eu entrei de cabeça na campanha dele. Fui visitá-lo antes de tomar posse porque o Serra é um craque da gestão. É um dos quadros de gestão mais qualificados do Brasil. E o Aécio se revelou também. [Um assessor entrega um pires com pílulas.] É só ortomolecular. Doutora Luísa me receitou. Não tem nenhuma bola aqui. Só natureba: catuaba, vitamina E, óleo de oliva. Fiz a campanha toda com isso. Ela queria colocar uma quimicazinha, eu disse não.

FOLHA - Em 2010, o sr. terá de optar entre Lula e Serra ou Aécio.
CABRAL
- O Lula tem dado demonstrações extraordinárias de apreço pelo Rio de Janeiro. Não é por mim não, é pelo Rio. Sou apenas um instrumento.

FOLHA - O sr. teve de segurar o Aécio e o Serra na reunião dos governadores? As declarações que o Serra deu no aeroporto foram mais incisivas do que a nota conjunta que vocês soltaram, que evitava fazer críticas diretas ao Lula.
CABRAL
- Como é que você soube? [Ri] Não... Não tive de segurar ninguém. Quem sou eu para segurar o Serra? Fizemos um documento, pensando no país. Muito diálogo...

FOLHA - O sr. vai acabar o governo amigo de todo mundo?
CABRAL
- Fazer amigos é um dom, uma bênção. A não ser que fira seus valores, fazer amigos é muito bom. O carioca tem essa característica. O carioca não é litigioso.


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