São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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Para Cabral, Serra é brilhante economista

Governador afirma que, em 2010, apoiará quem estiver "mais próximo do Rio de Janeiro" e faz elogio ao colega tucano

Peemedebista diz que, para ele, Presidência está "fora de cogitação" e, sem dar prazo, promete "adequar" o Estado em sua gestão

DA SUCURSAL DO RIO

Na continuação da entrevista à Folha, Sérgio Cabral exemplifica a relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fala com o colega José Serra [governador de São Paulo, do PSDB] ao telefone e recebe uma visita da primeira-dama.  

FOLHA - Na posse do sr., havia uma faixa em que estava escrito "Futuro presidente". Seu projeto é "passar a perna" em Serra e em Aécio Neves?
CABRAL
- Presidente do Vasco. Não tenho a menor intenção [de ser presidente da República]. Está completamente fora de cogitação. Penso em fazer um grande governo aqui, sem olhar o calendário eleitoral, até dia 31 de dezembro de 2010.

FOLHA - Nessa data, de quem o sr. vai estar mais próximo: de Lula ou de Serra/Aécio?
CABRAL
- De quem estiver mais próximo do meu Rio de Janeiro. Agarrado com meu Rio.

FOLHA - Um pragmático.
CABRAL
- Sou um pragmático. Isso é fundamental. Vou contar um episódio que vale a pena. Sexta, eu liguei para o presidente Lula. Liguei para o ministro Pedro Brito [Integração Nacional]. "Ministro, chuvas no Rio de Janeiro. Friburgo é a cidade com mais problemas." Domingo, estarei aí, me disse. Pego helicóptero com ele. Ele fica chocado. Reuni mais de 20 prefeitos, cada um relatando seu drama. Pego um helicóptero, volto para o Rio. Pousei às 19h40.

FOLHA - Mas o sr. não conseguiu o que queria com a Força Nacional e as Forças Armadas. Pediu tropas para a capital e queria que as Forças Armadas patrulhassem no entorno dos quartéis. Nada disso vai acontecer.
CABRAL
- A Força Nacional vai começar pela divisa e vir para a capital gradativamente. Vai ser excelente ter a divisa segura. [Toca o telefone. O governador José Serra está na linha.] Alô. É. Pois não... Meu líder, tudo bem? E aí? [...] Estou aqui com o pessoal da Folha batendo papo. [Ouve] Eles fazem muita intriga, é? Estava falando da nossa reunião. Perguntaram o que mudou, porque você teria chegado ao aeroporto falando num tom e a nossa nota teria outro. [Ouve] Você falou exatamente a mesma coisa... Exatamente o que diz a nossa nota... Tem que ter cuidado com esse pessoal, né? [Desliga o telefone] A entrevista já vem com o outro lado. O Serra é um brilhante economista. E ele curte imprensa. [Voltando ao Lula] Domingo à noite, sabendo que o Lula estava no Guarujá, decidi ligar para o Alvorada. Se ele achar importante e quiser me atender, vão localizá-lo e ele me liga de volta. Não deu três minutos: [Imitando a voz do presidente] "Sérgio, sou eu. O que você manda?" Eu disse a situação das chuvas. Ele: [imitando] "Ligue para o Paulo Bernardo amanhã". No dia seguinte, pá: R$ 80 milhões!

FOLHA - O sr. disse que acredita que, em seis meses, o Estado do Rio estará melhor. Não é vago demais para quem fala tanto em gestão?
CABRAL
- Serviços públicos melhores. Hospitais em melhores condições, segurança pública funcionando melhor, o Estado se adequando. Isso é um processo, é um gerúndio.

FOLHA - Como quantificar?
CABRAL
- É um gerúndio, não tem um prazo determinado. Você tem de qualificar o processo e acompanhar o processo. É difícil mensurar. O grande trabalho é arrumar a casa.

FOLHA - O Rio tem cerca de 6.000 homicídios por ano. Se o sr. não reduzir esse número em seis meses, pode-se dizer que sua política de segurança para o período fracassou?
CABRAL
- Não. Pode-se dizer que a nossa política de segurança precisa melhorar, não que fracassou. [A primeira-dama Adriana Ancelmo entra no gabinete do governador, acompanhada de uma prima.] Oi, minha riqueza.
ADRIANA - Passei aqui só para te dar um alô. Já estou indo.
CABRAL - Tá bom. [Beijam-se rapidamente. O repórter faz sinal para o fotógrafo, que não consegue registrar o beijo] Dá um beijo aqui para a Folha. [Afirma pedindo que a primeira-dama repetisse o gesto]
ADRIANA - Não, não, não!
CABRAL - Dá um beijo aqui, riqueza minha. Dá um beijo [desta vez, com o fotógrafo a postos].
ADRIANA - Ai, que vergonha!
Eles vão dizer que o governador não trabalha não, fica só fazendo graça, aí. [Risos.]


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