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ELIO GASPARI
Conseguiram dar razão à privataria
Um concessionário não pode ser satanizado por ter lucro. Quem assinou contratos levianos foi o governo
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QUANDO O subprocurador-geral
da República Aurélio Virgílio
Veiga Rios diz que "a margem
de lucro das concessões [de rodovias
federais] só se compara ao tráfico internacional de drogas", de duas uma:
ou está reclamando da taxa de rentabilidade dos traficantes, ou quer dizer
que os negociadores do Ministério dos
Transportes e da Agência Nacional de
Transportes negociaram de forma
inepta com as empresas. Nesse caso, o
Ministério Público deve investigar a
conduta dos negociadores. O doutor, e
o Planalto, estão conseguindo o impossível: dar razão à privataria.
O governo suspendeu o lançamento
dos editais de sete concessões de 2.600
quilômetros de rodovias previsto para
as próximas semanas. Fez isso depois
de sete anos de lero-lero. O Tribunal de
Contas, assustado com os contratos,
conseguiu uma redução de até 35% nas
tarifas de pedágio. Se uma dona-de-casa consegue uma pechincha desse tamanho numa barraca de feira, desconfia do verdureiro.
A reação das empresas e das guildas
contrariadas foi típica do terrorismo
da privataria. Disseram que a medida
afeta a credibilidade do Brasil. Parolagem. O que abala a credibilidade do
país é ele ter governos que negociam
como se a Viúva vivesse na casa-da-mãe-joana.
Licitações realizadas quase simultaneamente deixam cheiro de cartel na
cozinha. As empresas se acertam, dividem a competição e cada uma ganha o
que quer, onde quer. Se o governo concedeu tarifas absurdas e armou leilões
desengonçados, o problema está no
Ministério dos Transportes e/ou na
ANTT. As rodovias privatizadas são
um caso de sucesso. Quando a doutora
Dilma Rousseff diz que pretende baixar o preço dos pedágios, atira no próprio pé. Se as propostas devem ser mudadas, diga-se claramente o motivo: a
modelagem das licitações está sob suspeita. E é bom que estejam.
Um empresário não pode ser satanizado porque sua empresa lucra. O subprocurador ressalvou que fez a comparação com os traficantes para "chamar
a atenção". Tudo bem, mas ele tem todo o direito de se zangar se alguém disser que poucos traficantes conseguem
uma renda mensal a partir de R$ 21
mil, que é o caso de sua grei.
Ficaria melhor se o doutor dissesse
que só o magnata Warren Buffett conseguiu resultados melhores que os privatas nacionais. Quem comprou 150
ações de sua investidora nos anos 60
por US$ 1.200, tem hoje US$ 13,3 milhões. Também chamaria atenção.
A SEVERA NUDEZ DA ELITE DO IMPÉRIO
Deu no "New York Times":
há uma nova modalidade de
festa nas boas universidades
americanas. Os convidados
entram, recebem um saco
plástico, guardam a roupa e
vão em frente. Fica-se só com
os sapatos, um cinto ou um
lenço de pescoço. Quem quiser, pode ficar de black-tie,
desde que vista só a gravata.
Coisa de gente fina, da garotada de Yale, Columbia e Brown.
Os organizadores dessas festas em Yale contam que Barbara Bush, filha do presidente
americano, foi a uma noitada
em 2002.
Trata-se de um entretenimento assemelhado às castas
praias de nudismo. Dança-se,
mas é proibido o toque físico.
Um estudante que seguiu uma
colega vestida quando ela foi
para casa tomou um processo.
Em Yale, um casal que se
amassou num canto viu-se expulso da festa. A idéia, dizem
os organizadores, é usufruir as
formas das pessoas, sem pudor nem enfeites. Uma moça
de Brown explica: "Tem gente
que parece pesada de roupa e
fica muito melhor nua".
No campo da experimentação, essa novidade se parece
com a velha piada: "Quantas
pessoas são necessárias para
atarraxar uma lâmpada na Califórnia? Duas. Uma para a
lâmpada e outra para compartilhar a experiência".
MAPA LULA
Alguém precisa tirar a cabeça
de Lula da África. Ele adora mapas e mandou colocar um,
enorme, numa sala de reuniões
do Planalto. Ocupa a parede
atrás da sua cabeceira. Quando
Nosso Guia é fotografado com o
mundo em segundo plano,
transforma-se em vinheta subsaariana, com orelhas emolduradas pelo Sudão e pelo Mali.
CAPTURA
Com a morte do crítico literário Léo Gilson Ribeiro, convém
saber que ele guardava um pequeno desenho de um mapa,
com traços a lápis preto, azul e
vermelho. Parece, e é, o traçado
de um rio e de uma fronteira.
Não tem legenda nem assinatura. Se alguém o encontrar, saiba
que não é um papel qualquer. É
uma descrição da disputa fronteiriça que houve nos ano 60
entre o Brasil e o Paraguai. Seu
autor foi o escritor Guimarães
Rosa, que, à época, chefiava a
divisão de fronteiras do Itamaraty. Rosa rabiscava a localização da hidrelétrica de Itaipu
exatamente no lugar em que ela
foi construída.
PSDB
A aliança do PSDB com o comissariado petista para colocar
Arlindo Chinaglia na presidência da Câmara indica a possibilidade de ele não chegar unido à
próxima eleição presidencial.
PPPS NA FILA
O congelamento da privatização das rodovias federais é
um sinal amarelo para os projetos federais e estaduais de Parcerias Público Privadas. (Pode me chamar de Para o Próximo
Pagar.) Os contratos nem estão
prontos e já há sinais de relações incestuosas entre consultorias, agentes do governo e empreiteiros interessados.
OURO DE TOLO
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, está comemorando com um livro uma obra anunciada em 1996 que ainda não está
pronta. Publicou um cartapácio
do tamanho de uma revista de
moda, com capa dura, 252 páginas em papel de boa qualidade e
cerca de 600 fotografias, mapas e
tabelas. Chama-se "Expresso Tiradentes Corredor Parque D. Pedro 2º -Cidade Tiradentes".
O Expresso é parte da versão
1.2 do Fura-Fila, nome inventado por Duda Mendonça para eleger Celso Pitta. Trata-se de uma
linha exclusiva de ônibus, com
32 km de extensão, do centro até
Cidade Tiradentes, na periferia
leste da cidade. Hoje essa viagem
consome mais de duas horas.
Kassab aprontou um trecho de
8,5 km. Não tem porque comemorar um expresso que ficará a
24 km de distância do ponto final, onde vivem 220 mil pessoas.
Na conta de quem entende,
uma tiragem de mil exemplares
de um volume semelhante (distribuído como brinde no andar
de cima) não sai por menos de R$
40 mil, ou 17 mil bilhetes de ônibus da turma do andar de baixo.
Com esse dinheiro, Kassab poderia dar ao pessoal de Cidade
Tiradentes duas horas de catracas livres, no pico da manhã, durante cinco dias.
Enforcaram a Viúva com o co-patrocínio da SPTrans, do Ministério das Cidades, do BNDES e da Caixa Econômica.
NOVOS NÚMEROS
O governo aguarda uma boa
notícia estatística. Uma nova
maneira de calcular o tamanho e
o crescimento do setor de serviços poderá abrandar a amargura
dos números da economia em
2006. Em 2005, esse setor cresceu 2%, ficando abaixo dos 2,3%
nacionais.
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