São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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ELIO GASPARI

Conseguiram dar razão à privataria


Um concessionário não pode ser satanizado por ter lucro. Quem assinou contratos levianos foi o governo

QUANDO O subprocurador-geral da República Aurélio Virgílio Veiga Rios diz que "a margem de lucro das concessões [de rodovias federais] só se compara ao tráfico internacional de drogas", de duas uma: ou está reclamando da taxa de rentabilidade dos traficantes, ou quer dizer que os negociadores do Ministério dos Transportes e da Agência Nacional de Transportes negociaram de forma inepta com as empresas. Nesse caso, o Ministério Público deve investigar a conduta dos negociadores. O doutor, e o Planalto, estão conseguindo o impossível: dar razão à privataria.
O governo suspendeu o lançamento dos editais de sete concessões de 2.600 quilômetros de rodovias previsto para as próximas semanas. Fez isso depois de sete anos de lero-lero. O Tribunal de Contas, assustado com os contratos, conseguiu uma redução de até 35% nas tarifas de pedágio. Se uma dona-de-casa consegue uma pechincha desse tamanho numa barraca de feira, desconfia do verdureiro.
A reação das empresas e das guildas contrariadas foi típica do terrorismo da privataria. Disseram que a medida afeta a credibilidade do Brasil. Parolagem. O que abala a credibilidade do país é ele ter governos que negociam como se a Viúva vivesse na casa-da-mãe-joana.
Licitações realizadas quase simultaneamente deixam cheiro de cartel na cozinha. As empresas se acertam, dividem a competição e cada uma ganha o que quer, onde quer. Se o governo concedeu tarifas absurdas e armou leilões desengonçados, o problema está no Ministério dos Transportes e/ou na ANTT. As rodovias privatizadas são um caso de sucesso. Quando a doutora Dilma Rousseff diz que pretende baixar o preço dos pedágios, atira no próprio pé. Se as propostas devem ser mudadas, diga-se claramente o motivo: a modelagem das licitações está sob suspeita. E é bom que estejam.
Um empresário não pode ser satanizado porque sua empresa lucra. O subprocurador ressalvou que fez a comparação com os traficantes para "chamar a atenção". Tudo bem, mas ele tem todo o direito de se zangar se alguém disser que poucos traficantes conseguem uma renda mensal a partir de R$ 21 mil, que é o caso de sua grei.
Ficaria melhor se o doutor dissesse que só o magnata Warren Buffett conseguiu resultados melhores que os privatas nacionais. Quem comprou 150 ações de sua investidora nos anos 60 por US$ 1.200, tem hoje US$ 13,3 milhões. Também chamaria atenção.

A SEVERA NUDEZ DA ELITE DO IMPÉRIO

Deu no "New York Times": há uma nova modalidade de festa nas boas universidades americanas. Os convidados entram, recebem um saco plástico, guardam a roupa e vão em frente. Fica-se só com os sapatos, um cinto ou um lenço de pescoço. Quem quiser, pode ficar de black-tie, desde que vista só a gravata. Coisa de gente fina, da garotada de Yale, Columbia e Brown. Os organizadores dessas festas em Yale contam que Barbara Bush, filha do presidente americano, foi a uma noitada em 2002.
Trata-se de um entretenimento assemelhado às castas praias de nudismo. Dança-se, mas é proibido o toque físico. Um estudante que seguiu uma colega vestida quando ela foi para casa tomou um processo. Em Yale, um casal que se amassou num canto viu-se expulso da festa. A idéia, dizem os organizadores, é usufruir as formas das pessoas, sem pudor nem enfeites. Uma moça de Brown explica: "Tem gente que parece pesada de roupa e fica muito melhor nua".
No campo da experimentação, essa novidade se parece com a velha piada: "Quantas pessoas são necessárias para atarraxar uma lâmpada na Califórnia? Duas. Uma para a lâmpada e outra para compartilhar a experiência".

MAPA LULA
Alguém precisa tirar a cabeça de Lula da África. Ele adora mapas e mandou colocar um, enorme, numa sala de reuniões do Planalto. Ocupa a parede atrás da sua cabeceira. Quando Nosso Guia é fotografado com o mundo em segundo plano, transforma-se em vinheta subsaariana, com orelhas emolduradas pelo Sudão e pelo Mali.

CAPTURA
Com a morte do crítico literário Léo Gilson Ribeiro, convém saber que ele guardava um pequeno desenho de um mapa, com traços a lápis preto, azul e vermelho. Parece, e é, o traçado de um rio e de uma fronteira. Não tem legenda nem assinatura. Se alguém o encontrar, saiba que não é um papel qualquer. É uma descrição da disputa fronteiriça que houve nos ano 60 entre o Brasil e o Paraguai. Seu autor foi o escritor Guimarães Rosa, que, à época, chefiava a divisão de fronteiras do Itamaraty. Rosa rabiscava a localização da hidrelétrica de Itaipu exatamente no lugar em que ela foi construída.

PSDB
A aliança do PSDB com o comissariado petista para colocar Arlindo Chinaglia na presidência da Câmara indica a possibilidade de ele não chegar unido à próxima eleição presidencial.

PPPS NA FILA
O congelamento da privatização das rodovias federais é um sinal amarelo para os projetos federais e estaduais de Parcerias Público Privadas. (Pode me chamar de Para o Próximo Pagar.) Os contratos nem estão prontos e já há sinais de relações incestuosas entre consultorias, agentes do governo e empreiteiros interessados.

OURO DE TOLO
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, está comemorando com um livro uma obra anunciada em 1996 que ainda não está pronta. Publicou um cartapácio do tamanho de uma revista de moda, com capa dura, 252 páginas em papel de boa qualidade e cerca de 600 fotografias, mapas e tabelas. Chama-se "Expresso Tiradentes Corredor Parque D. Pedro 2º -Cidade Tiradentes".
O Expresso é parte da versão 1.2 do Fura-Fila, nome inventado por Duda Mendonça para eleger Celso Pitta. Trata-se de uma linha exclusiva de ônibus, com 32 km de extensão, do centro até Cidade Tiradentes, na periferia leste da cidade. Hoje essa viagem consome mais de duas horas. Kassab aprontou um trecho de 8,5 km. Não tem porque comemorar um expresso que ficará a 24 km de distância do ponto final, onde vivem 220 mil pessoas.
Na conta de quem entende, uma tiragem de mil exemplares de um volume semelhante (distribuído como brinde no andar de cima) não sai por menos de R$ 40 mil, ou 17 mil bilhetes de ônibus da turma do andar de baixo. Com esse dinheiro, Kassab poderia dar ao pessoal de Cidade Tiradentes duas horas de catracas livres, no pico da manhã, durante cinco dias.
Enforcaram a Viúva com o co-patrocínio da SPTrans, do Ministério das Cidades, do BNDES e da Caixa Econômica.

NOVOS NÚMEROS
O governo aguarda uma boa notícia estatística. Uma nova maneira de calcular o tamanho e o crescimento do setor de serviços poderá abrandar a amargura dos números da economia em 2006. Em 2005, esse setor cresceu 2%, ficando abaixo dos 2,3% nacionais.


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