São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2004

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PERFIL

Waldomiro morou com ministro, de quem é amigo há 12 anos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chefe da Casa Civil, José Dirceu, é, há pelo menos 12 anos, amigo, padrinho e chefe de Waldomiro Diniz da Silva, que encabeçou desde o início a lista de sua equipe no Planalto. Foi Dirceu, por exemplo, quem o indicou para Cristovam Buarque no governo do Distrito Federal, em 1994.
Apesar de pelo menos três testemunhos disso, o hoje senador Buarque prefere tergiversar: "Eu não me lembro direito. Acho que foram lideranças do PT que me indicaram o Waldomiro. Eu nunca o tinha visto na vida", disse.
Dirceu perdera as eleições para o governo de São Paulo, ficaria sem mandato e não queria deixar ao léu o fiel assessor -com quem, aliás, dividia o apartamento funcional de deputado. A nomeação foi um pedido do presidente do PT, e Buarque -apesar de escapulir da confirmação- acatou de bom grado. Hoje, diz que Waldomiro "foi um bom assessor". Ocupou a assessoria parlamentar do governo do DF, fazendo os contatos e as negociações com a Câmara Distrital durante todo o mandato de Buarque (1995-1998).
A história do paulista Waldomiro Diniz em Brasília começa em 1992, pelo Congresso, em plena CPI do caso PC Farias, ou seja, da comissão parlamentar que apurou irregularidades do governo Fernando Collor (1990-1992).
Ex-funcionário da CEF (Caixa Econômica Federal), demitido num dos planos de enxugamento de Collor, Waldomiro se tornou o expert em contas bancárias da CPI. E quebrava todos os sigilos -sigilosamente, claro, como voltou a fazer ao assessorar os relatores de uma outra CPI, a do Orçamento, no ano seguinte.
Aproximou-se assim de Dirceu, de políticos, de jornalistas e do PT, tornando-se um dos braços direitos do hoje ministro. Os dois gabinetes no Planalto ficavam próximos, questão de passos, um andar acima do do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quem conhece Waldomiro por ter trabalhado com ele ou por dividir almoços e jantares informais, recita um mesmo perfil: homem elegante, muito falante, inteligente. "Desses que têm lábia", diz um velho conhecido.
Entre o governo de Buarque e o Planalto, Waldomiro viveu uma curiosa dualidade. Depois de ganhar a vaga com Buarque por causa da derrota de Dirceu em São Paulo, ganhou vaga com Anthony Garotinho depois da derrota do próprio Buarque, que não se reelegeu no DF, em 98. Garotinho, então do PDT, era governador.
Waldomiro acabou em uma vaga na Representação do Rio em Brasília, onde ajudou o governador fluminense a encontrar o caminho das pedras, sobretudo durante a renegociação da dívida do Estado e na obtenção de verbas.
"Eu sabia tudo. Falava para ele: "Vai na Saúde que lá tem verba. E assim foi. Daí, ele precisou de alguém de fora para arrumar a Loterj [responsável pelas loterias no Rio] e me chamou. Fiquei lá até o final, inclusive nos nove meses da Benedita", relatou recentemente o próprio Waldomiro numa conversa informal.
Quando o PT ganhou a eleição presidencial de 2002, Waldomiro licenciou-se da Loterj e foi o único assessor que acompanhou todas as negociações de Dirceu para a montagem do ministério. Tem na memória todos os acertos para distribuição de cargos entre os partidos que apoiaram Lula ou aderiram depois da vitória.
Nas especulações da época, chegou a ser lembrado para presidir a CEF ou os Correios. Acabou na Subchefia para Assuntos Parlamentares, com a missão de negociar votações com congressistas.
São muitos os depoimentos de que "é muito competente, hábil articulador". Num almoço na última quinta-feira, no Planalto, o novo articulador político do governo, ministro Aldo Rebelo, comentou com amigos: "O Waldomiro foi a melhor herança do Dirceu". Horas depois, estourava o escândalo das fitas.


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