São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

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TODA MÍDIA

Diferenças de estilo

NELSON DE SÁ

Lula não informou por aqui, mas Hugo Chávez saiu anunciando em seu programa -e a Globo News reproduziu- que o Brasil e a Venezuela vão assinar ainda hoje "20 acordos nas áreas de petróleo, de ciência e tecnologia, infra-estrutura, medicina e cultura".
O canal de notícias não mencionou, mas o presidente da Venezuela incluiu também, entre as áreas com acordos a assinar, segundo a agência France Presse, "apoio militar".
Afinal, completou o venezuelano em seu programa, é uma "aliança estratégica".
 
Os dois são os maiores "ícones da esquerda latino-americana", dizia o "Financial Times" em sua apresentação do encontro. Mas eles também têm "grandes diferenças de estilo".
É mais do que estilo. Lula, que "mantém relações muito melhores com Washington", chegou ontem à Venezuela em meio a ameaças militares de Chávez aos EUA de George W. Bush e vice-versa.
No título de sábado, de uma longa reportagem do americano "Miami Herald":
- Chávez se arma para resposta a ataque dos EUA.
Não se trata só de retórica. A Venezuela estaria "mudando sua doutrina militar para fazer dos EUA o inimigo número 1" -e supostamente recorre agora às construções guerrilheiras do chinês Mao Zedong e do vietnamita Ho Chi Minh.
De Cuba, num discurso de seis horas, como se lia ontem no site do "New York Times" e outros, Fidel Castro acrescentou lenha, dizendo que vai "responsabilizar os Estados Unidos se Chávez for morto".
 
É o mesmo Chávez que, em seu programa de rádio e TV, saudou "o bom companheiro, bom amigo e lutador que é o presidente Lula".

O ANJO

Cid Moreira, na abertura do Fantástico:
- Crime! O assassinato da missionária no Pará vira notícia internacional!
Nos jornais estrangeiros de ontem, foram pequenas notas, quando muito, a partir de despachos de agências, inclusive a católica Zenith. O "Washington Post" deu na página 29 o registro de que uma "freira dos EUA" foi morta na "floresta tropical amazônica".
O londrino "Observer", em sua nota, citou que ela atuava com "camponeses sem-terra". No "New York Times", o registro de agência foi enxertado no fim de nova reportagem de Larry Rohter -dizendo que, "para consternação dos ambientalistas", o Brasil liberou o corte de árvores na Amazônia.
 
Equiparada a Chico Mendes pela ministra Marina Silva e a apresentadora Glória Maria, tratada como Anjo da Transamazônica em texto da agência AP em vários sites, a missionária Dorothy Stang não recebeu, pelo menos até ontem, uma cobertura de proporções comparáveis à do seringueiro, no exterior.
Mas não demorou, no Brasil, para virar personagem de disputas políticas anteriores à sua morte. O petista João Paulo Cunha dizia à tarde no Globo Online que Lula tem que "interromper as negociações" com os madeireiros do Pará, afinal, "o crime é desagradável para o Brasil". Dados como vilões, os fazendeiros paraenses reagiram com pelo menos quatro notas de entidades diferentes, segundo o site Consultor Jurídico, da federação de agricultura ao sindicato da indústria madeireira, todos contra "o ato de violência intolerável".
Já a organização ambiental Greenpeace, em seu site mundial, deu em destaque:
- Freira é morta defendendo Amazônia. Governo do Estado do Pará falhou em protegê-la.
 
De sua parte, a "irmã mais próxima" da religiosa disse ao Fantástico, nos EUA, que "a maior homenagem que as autoridades brasileiras podem prestar a Dorothy é conduzir uma investigação séria sobre quem está por trás do assassinato".
Ou, agora, dos dois assassinatos. No destaque da Folha Online e do paraense "O Liberal":
- Polícia encontra outro corpo na região.

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