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MÃOS SUJAS
Empresário financiava cartel de Cali, segundo polícia da Itália
PC e tráfico planejavam ter negócios na América do Sul
LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Roma
O cartel de Cali, da Colômbia, era
aliado do empresário Paulo César
Farias e de narcotraficantes italianos na montagem de uma rede de
negócios na América do Sul.
O objetivo da sociedade era comprar e montar empresas para ajudar na lavagem de dinheiro do narcotráfico. PC e seus sócios planejavam, por exemplo, comprar a estatal telefônica do Equador.
A Folha apurou a informação
junto a um dirigente da divisão de
ações especiais da polícia militar
da Itália (Carabinieri) envolvido
diretamente na operação que descobriu a rede.
Além de financiar parte das
maiores operações de tráfico de
cocaína para a Europa, PC era o
instrumento para os narcotraficantes participarem de forma privilegiada de negócios que estavam
surgindo com a abertura econômica na América Latina -e sobretudo no Brasil.
A Carabinieri e a Justiça da Itália
conseguiram chegar até o envolvimento de PC com a máfia italiana e
grupos de traficantes pela confissão do colombiano Gustavo Upegui Delgado, um dos caixas do
chefe do cartel de Medellín Pablo
Escobar, morto em 1993.
Delgado colabora com a Justiça
em troca de liberdade. Ele vive hoje
na Itália sob proteção da polícia,
provavelmente em Florença.
Na apuração, a Carabinieri descobriu que PC atuava no início e
no fim das operações de tráfico de
cocaína da Colômbia para a Itália.
De acordo com a polícia, o tesoureiro do ex-presidente Fernando
Collor de Mello financiava parte da
operação e, ao final, recebia seu
pagamento e também recursos
adicionais para tentar corromper,
no Brasil, políticos, empresários e
funcionários públicos.
Em meio aos documentos
apreendidos, estão comprovantes
da remessa de 32 bilhões de liras
(cerca de US$ 20 milhões) da Itália
para a Colômbia e repasse de parte
desses recursos para PC.
Cocaína e sapatos
A descoberta da ligação de PC
com o narcotráfico colombiano e
com a máfia italiana começou em
março de 94, quando a Carabinieri
realizou a maior apreensão de cocaína feita até hoje na Europa (5,5
toneladas) na província de Borgaro Torineze, perto de Torino, Norte da Itália.
Doze pessoas da N'drangheta,
máfia da região da Calábria, foram
presas quando descarregavam de
um caminhão pacotes de cocaína
escondida em caixas de sapato.
Para importar a droga da Colômbia, a N'drangheta formou um
cartel com cinco famílias mafiosas
italianas -Mazaferro, Morabito,
Barbaro, Ierino e Pesce.
A entrega da droga era intermediada por outras duas famílias mafiosas -Cuntrera e Caruana, da
cidade de Agrigento, Sul da região
da Sicília. De acordo com investigações, ao todo 90 pessoas participaram da rede de tráfico.
O carregamento de 5,5 toneladas
apreendido era o nono feito desde
91. Nas oito operações anteriores,
o grupo havia conseguido levar 11
toneladas de cocaína para a Itália.
Quando a droga chegava à Itália
a N'drangheta enviava o pagamento para o cartel de Cali. Da Colômbia, o dinheiro era novamente remetido para bancos da Itália, Suíça
e EUA para ser ``lavado''.
O dinheiro retornava então à Colômbia depois de legalizado. O cartel de Cali providenciava depósitos
na conta de PC Farias na Suíça e
Holanda, por intermédio dos argentinos Jorge Osvaldo de La Salvia e Luís Felipe Ricca.
A Polícia Federal brasileira já havia colhido indícios de que os dois
argentinos seriam testas-de-ferro
de PC para lavar dinheiro.
Prisões em Milão
A polícia italiana continua trabalhando no desmonte da N'drangheta.
Ontem pela manhã, numa ação
da Carabinieri batizada de "Operação Lua'', foram presos de uma
só vez mais 43 traficantes envolvidos diretamente no envio das 5,5
toneladas de cocaína para a Itália
em março de 94.
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