São Paulo, quarta-feira, 14 de março de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Decisão de expurgar aliados de ACM teria vindo de setores do PSDB e PMDB; Planalto teme perder votos

Governo recua na demissão de carlistas

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Passados 19 dias da demissão dos dois ministros ligados ao senador Antonio Carlos Magalhães -Waldeck Ornélas (Previdência) e Rodolpho Tourinho (Minas e Energia)-, o governo mudou a disposição de promover uma demissão em massa de aliados políticos do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) que ocupam cargos no governo federal.
Reportagem publicada pela Folha apresentou 28 cargos cuja indicação foi atribuída ao senador baiano e seus correligionários. Restariam, portanto, 26 nomes em observação.
Entre os indicados carlistas, quatro estão no Ministério de Minas e Energia, agora sob o comando do senador José Jorge (PFL-PE), e quatro na estrutura da Previdência, reportando-se ao novo ministro, deputado Roberto Brant (PFL-MG).
Os cargos mais visados dessa cota de ACM são a presidência da Eletrobrás, que está com Firmino Ferreira Sampaio Neto, e a do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), cujo titular é Crésio Rolim de Mattos.
Médico perito do INSS, Mattos foi trazido da Bahia, ainda nos tempos em que o ministro da Previdência era Reinhold Stephanes, no primeiro governo de FHC.
Sampaio Neto, que tem manifestado a ACM a preocupação com a demissão, é indicação pessoal do senador baiano. Ao indicado, o senador pefelista vem recomendando paciência.
Ontem, em reunião da cúpula do PFL, um recado foi dado: a bancada baiana consideraria "provocação" a saída de Sampaio Neto do cargo.
Como o partido está apostando na pacificação interna da base aliada, José Jorge pode manter o presidente da Eletrobrás. Ontem, os dois trocaram um cordial abraço na posse do novo ministro das Minas e Energia.
Roberto Brant também mostrou que pode manter Crésio Rolim. Ontem, fez elogios ao presidente do INSS. "É um técnico capaz e correto, que já estava no cargo antes do ministro Ornélas, desde o tempo do ministro Stephanes", disse.
Quando FHC demitiu Ornélas e Tourinho, no dia 23 de fevereiro, houve um clima de caça às bruxas contra os aliados de ACM. Mas, pelo que se diz hoje no Palácio, isso não ocorreu por vontade real do presidente, mas por incitação de tucanos e peemedebistas.
O líder do governo no Congresso, Arthur Virgílio, chegou a dizer que todos os aliados do senador baiano seriam demitidos. "O governo vai demitir um monte de gente", disse.

Mudança de clima
O clima agora é outro. Avalia-se que FHC agiu na hora certa ao demitir os dois pefelistas baianos. E que, num segundo momento, o presidente conseguiu o que queria com o apoio público do PFL à agenda de propostas que pretende implementar nos dois anos de governo que lhe restam.
Ir além disso seria avançar mais do que o necessário para o momento, o que não é do perfil do presidente, que prefere gastar todo o tempo que possui para tomar uma decisão.
"Eu nunca recebi nenhuma instrução do presidente sobre isso. O presidente estava preocupado com uma situação de governo, não com cargos. Os ministros vão compor suas equipes como acharem melhor", disse o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral).
Ontem, a Folha procurou Arthur Virgílio para que explicasse a disposição do governo de não demitir em massa, mas ele não foi localizado.
O Planalto avalia que ACM tem estado mais calmo. FHC não pretende reatar tão rapidamente com o senador baiano, mas também não quer perder os 21 votos do pefelista na Câmara e outros três no Senado.
Se resolvesse prosseguir na caça às bruxas, o presidente certamente esbarraria em indicações de congressistas ligados a ACM. E, mais do que medir forças com o pefelista, poderia perder votos preciosos.


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