São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2006

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CAMPO MINADO

Movimento das Mulheres Camponesas recebeu ajuda de ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário

União deu R$ 79 mil a invasoras da Aracruz

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Associações de mulheres camponesas que promoveram a invasão de instalações da Aracruz Celulose na semana passada contaram com dinheiro dos cofres públicos para atividades de formação. Em dezembro do ano passado, o Siafi (sistema informatizado de acompanhamento de gastos federais) registrou o repasse de R$ 79 mil a duas associações estaduais subordinadas ao Movimento das Mulheres Camponesas.
Ao garantir a transferência de pouco mais de R$ 26 mil à Associação do Movimento de Mulheres Camponesas de Roraima, em 23 de dezembro, o Ministério do Meio Ambiente detalhou o destino do dinheiro: "Potencializar as mulheres camponesas (...), promovendo melhores condições no exercício do debate e das práticas diárias no meio em que vivem".
A associação estadual do Pará recebeu quase R$ 53 mil em 12 de dezembro, referente a uma parcela do contrato firmado com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. O objetivo do contrato é, segundo o ministério, "promover processos de mobilização para a gestão participativa do processo de desenvolvimento sustentável do território rural".
Na madrugada da última quarta-feira, cerca de 2.000 mulheres invadiram o horto florestal da Aracruz Celulose em Barra do Ribeiro (RS). O objetivo, segundo a página eletrônica do MMC Brasil, era denunciar o avanço de plantações destinadas à produção de celulose. "Somos contra os desertos verdes", afirma o texto. "A terra deve cumprir função social, deve alimentar a vida, não os lucros." No ato foram destruídas 1 milhão de mudas e material de pesquisa, resultado de 15 anos de trabalho.
Rosângela Cordeiro, da coordenação do Movimento das Mulheres Camponesas, confirmou que as associações nos Estados do Pará e de Roraima, beneficiárias de repasses de recursos públicos, integram a entidade nacional e participam da Via Campesina, que assumiu a responsabilidade pela destruição de mudas e viveiros da Aracruz. Cordeiro disse que não acompanha o repasse de verbas federais. Outras dirigentes do movimento não foram localizadas.

Contrato em curso
A assessoria do Ministério do Desenvolvimento Agrário informou que o contrato com a associação das mulheres camponesas do Pará ainda está em curso e a prestação de contas só será exigida no final de setembro, de acordo com os prazos estabelecidos.
Segundo o ministério, o dinheiro foi destinado à mobilização das mulheres camponesas para participar de processos de desenvolvimento sustentável, não à invasão de propriedades. O ministro Miguel Rossetto divulgou nota na semana passada condenando o ato.
Procurada pela Folha, a assessoria da ministra Marina Silva (Meio Ambiente) não se manifestou até a conclusão desta edição.
As ordens bancárias e notas de empenho que beneficiaram as associações foram pesquisadas pela equipe do site Contas Abertas, especializado em acompanhamento de contas públicas.

Passeata
Uma passeata reuniu cerca de mil pessoas ontem em Guaíba (região metropolitana de Porto Alegre), onde fica a fábrica para a qual era remetida a produção de Barra do Ribeiro, para dar apoio à empresa Aracruz.
Os manifestantes, organizados por moradores, comerciantes e a prefeitura, pediram punição e mais proteção.


Colaborou LÉO GERCHMANN, da Agência Folha, em Porto Alegre


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