São Paulo, quarta-feira, 14 de março de 2007

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Governo defende TV estatal para "mostrar suas idéias"

Ministro diz que falta espaço na mídia para discutir projetos de interesse público

Projeto apresentado por Hélio Costa a Lula prevê gastos de R$ 250 milhões em 4 anos e transmissão nacional em canal aberto


Lula Marques/Folha Imagem
O ministro Hélio Costa (Comunicações) em inauguração de mostra sobre os 25 anos da base brasileira na Antártida, no Congresso


ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, afirmou ontem, para justificar a criação de um novo canal de TV estatal, que o governo precisa de mais espaço na mídia para discutir projetos de interesse público, como o biodiesel, do que os 30 segundos de que dispõe no noticiário das emissoras comerciais. ""Fomos observando as dificuldades que o governo tem de mostrar suas idéias, de discutir diversos assuntos (...) Levei a proposta ao presidente", enfatizou o ministro.
Em entrevista à Folha, Costa disse que a nova TV seria ""menos chapa branca do que a Radiobrás" e poderia até mesmo criticar o governo, ""desde que a crítica fosse correta".
Anteontem, ele expôs ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva as linhas gerais do que chamou de Rede Nacional de TV Pública do Executivo. O projeto tem custo estimado de R$ 250 milhões, em quatro anos, dos quais R$ 100 milhões seriam usados, no primeiro ano, na compra de equipamentos.
Ainda não há clareza, segundo o ministro, sobre a participação da Radiobrás, emissora estatal responsável pela divulgação das ações do governo federal, no projeto. A estatal tem um canal de TV aberto, em Brasília, chamado TV Nacional, e um canal executivo, transmitido pelas redes de TV a cabo, chamado NBR.
Sobre a declaração de Costa de que a nova TV seria menos chapa branca do que a Radiobrás, Eugênio Bucci, presidente da estatal, confirmou que há muitas passagens de ""chapabranquismo" na história da Radiobrás, até durante sua gestão, mas que a empresa superou bem os vícios do passado.
""A Radiobrás não tem a pretensão de ser um modelo de jornalismo independente. Esse é um processo difícil de construir, e tem sido feito com humildade e sem presunção. Se Costa vai fazer uma comunicação menos chapa branca, só aplaudo", respondeu Bucci, que disse não ter participado das discussões da nova TV. As TVs legislativas e os dirigentes das emissoras educativas também foram surpreendidos com o anúncio de Costa.

Extensão
Segundo o ministro, a nova TV será transmitida em sinal aberto e ocupará uma das freqüências (entre os canais 60 e 69) disponíveis em todos os Estados, para que a programação chegue a todo o país. A transmissão começaria no sistema analógico. A cobertura da Radiobrás, segundo Costa, se limita a 30% do território nacional.
Os recursos, em princípio, viriam do Orçamento da União, mas o ministro cogita dividir custos com as Assembléias e as Câmaras municipais, que compartilhariam a infra-estrutura para os canais legislativos.
A proposta coincide com a resolução do PT para a criação de uma rede nacional de TV. Costa, porém, sustentou que vinha desenvolvendo a idéia há meses, e negou que o projeto tenha sido pedido por Lula.
Um dos argumentos de Hélio Costa na defesa da nova TV estatal é o de que a privatização do Sistema Telebrás, em 1998, restringiu a possibilidade de o presidente convocar uma rede nacional de TV. ""Antes da privatização, bastava ao governo pedir o link de satélite à Embratel. O governo não tem mais como ter um link imediato. Ou pede para as TVs ou pede para as companhias telefônicas. Até por segurança nacional, não se pode prescindir de uma rede pública", declarou.
Para o ministro Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), a nova TV estatal deverá ser, na prática, uma extensão da Radiobrás. "A minha opinião é que devem ser aproveitadas as estruturas de governo que já existem. Aliás, não são de governo, e sim do Estado brasileiro, que tem funcionários, estrutura, acúmulo de experiências que considero positivo", disse.
Ministro que responde pela Radiobrás, Dulci defende a criação de uma rede nacional de TV que divulgue temas dispensados pelas redes privadas.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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