São Paulo, quarta-feira, 14 de março de 2007

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Projeto reflete desejo de aparelhamento do Estado, diz entidade

Para presidente de associação de TVs públicas, proposta atropela discussões promovidas pelo Ministério da Cultura

Estudiosos do setor dizem discordar da criação da rede nacional e afirmam que ela foi apresentada em momento inoportuno


DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Abepec (Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais), Jorge da Cunha Lima, diz que há uma ruptura dentro do governo em relação à televisão pública.
Para Cunha Lima, o projeto do ministro Hélio Costa (Comunicações) reflete a posição de segmentos do governo favoráveis ao aparelhamento político do Estado. "Felizmente, não é esta a posição de todo o governo. Prevejo grandes crises." A proposta do ministro atropelou a discussão sobre o futuro da televisão pública no país, promovida pelo Ministério da Cultura, que realizará, em abril, o 1º Fórum Nacional de TVs Públicas no Brasil.
O Minc, a Radiobrás, as TVs educativas dos Estados, as TVs legislativas e as que se definem como do "campo público", como as comunitárias e as universitárias, defendem o conceito de que a TV pública é a que tem autonomia de gestão e programação voltada para os interesses da sociedade, e não para os dos governantes.
O fórum é preparado desde o ano passado. Na última sexta-feira, diante de rumores de que setores do governo preparavam uma proposta de criação de uma rede nacional estatal, os organizadores enviaram uma carta a ministros pedindo que nenhum projeto nesse sentido fosse feito antes do evento.
A carta foi assinada pela Abepec, pela ABTU (Associação Brasileira de Televisão Universitária), pela Astral (Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas) e pela Abccom (Associação Brasileira de Canais Comunitários).
Hélio Costa diz defender que a nova TV tenha perfil semelhante ao da BBC, famosa por sua independência editorial em relação ao governo britânico.

Público vs. estatal
Para estudiosos do setor, porém, a comparação é improcedente, pois a BBC é uma emissora pública. As divergências deles com a proposta do ministro começam pelo nome dado ao projeto - Rede Nacional de TV Pública do Executivo.
"Há um equívoco conceitual", diz Gabriel Priolli, presidente da ABTU. "Se é uma rede que vai usar um canal da União tocado por órgãos estatais, não é uma TV pública, é estatal. Vamos dar nome aos bois."
"Está havendo uma confusão entre estatal e público na proposta do ministro", concorda Laurindo Leal Filho, sociólogo e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP. Para ele, o Executivo não precisa de outro canal se já possui o NBR, vinculado à Radiobrás.
Eles lamentaram ainda a forma como o projeto foi apresentado -"a portas fechadas", de acordo com Leal Filho- e antes do fórum que ocorre em abril. Procurada, a TV Globo não quis falar sobre o projeto. A TV Record e a TV Cultura não responderam à Folha até o fechamento desta edição. (EL)

Colaboraram ANGELA PINHO e RODRIGO RÖTZSCH, da Redação


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