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Projeto reflete desejo de aparelhamento do Estado, diz entidade
Para presidente de associação de TVs públicas, proposta atropela discussões promovidas pelo Ministério da Cultura
Estudiosos do setor dizem discordar da criação da rede nacional e afirmam que
ela foi apresentada em momento inoportuno
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente da Abepec (Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais), Jorge da Cunha Lima,
diz que há uma ruptura dentro
do governo em relação à televisão pública.
Para Cunha Lima, o projeto
do ministro Hélio Costa (Comunicações) reflete a posição
de segmentos do governo favoráveis ao aparelhamento político do Estado. "Felizmente, não
é esta a posição de todo o governo. Prevejo grandes crises."
A proposta do ministro atropelou a discussão sobre o futuro da televisão pública no país,
promovida pelo Ministério da
Cultura, que realizará, em abril,
o 1º Fórum Nacional de TVs
Públicas no Brasil.
O Minc, a Radiobrás, as TVs
educativas dos Estados, as TVs
legislativas e as que se definem
como do "campo público", como as comunitárias e as universitárias, defendem o conceito
de que a TV pública é a que tem
autonomia de gestão e programação voltada para os interesses da sociedade, e não para os
dos governantes.
O fórum é preparado desde o
ano passado. Na última sexta-feira, diante de rumores de que
setores do governo preparavam
uma proposta de criação de
uma rede nacional estatal, os
organizadores enviaram uma
carta a ministros pedindo que
nenhum projeto nesse sentido
fosse feito antes do evento.
A carta foi assinada pela Abepec, pela ABTU (Associação
Brasileira de Televisão Universitária), pela Astral (Associação
Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas) e pela Abccom (Associação Brasileira de
Canais Comunitários).
Hélio Costa diz defender que
a nova TV tenha perfil semelhante ao da BBC, famosa por
sua independência editorial em
relação ao governo britânico.
Público vs. estatal
Para estudiosos do setor, porém, a comparação é improcedente, pois a BBC é uma emissora pública. As divergências
deles com a proposta do ministro começam pelo nome dado
ao projeto - Rede Nacional de
TV Pública do Executivo.
"Há um equívoco conceitual", diz Gabriel Priolli, presidente da ABTU. "Se é uma rede
que vai usar um canal da União
tocado por órgãos estatais, não
é uma TV pública, é estatal. Vamos dar nome aos bois."
"Está havendo uma confusão
entre estatal e público na proposta do ministro", concorda
Laurindo Leal Filho, sociólogo
e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP. Para
ele, o Executivo não precisa de
outro canal se já possui o NBR,
vinculado à Radiobrás.
Eles lamentaram ainda a forma como o projeto foi apresentado -"a portas fechadas", de
acordo com Leal Filho- e antes
do fórum que ocorre em abril.
Procurada, a TV Globo não quis
falar sobre o projeto. A TV Record e a TV Cultura não responderam à Folha até o fechamento desta edição.
(EL)
Colaboraram ANGELA PINHO e RODRIGO RÖTZSCH, da Redação
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