São Paulo, sábado, 14 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO CPEM
Partido pune economista que denunciou suposto tráfico de influência de amigo de Lula, que foi absolvido
PT expulsa Venceslau e poupa Teixeira

CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local

O Diretório Nacional do PT decidiu ontem à noite expulsar do partido o economista Paulo de Tarso Venceslau, autor da denúncia do caso Cpem. O advogado Roberto Teixeira foi inocentado.
Venceslau denunciou suposta omissão de Luiz Inácio Lula da Silva diante de pressões que Teixeira teria feito para que prefeituras petistas firmassem contratos com a Cpem, empresa especializada em aumentar a arrecadação de tributos.
Segundo José Dirceu, presidente nacional do PT, Venceslau foi expulso por 60 votos, contra 2 abstenções. A votação no caso de Teixeira, compadre de Lula, foi mais equilibrada: 38 pelo arquivamento (absolvição das acusações de tráfico de influência), contra 22 dirigentes que queriam uma pena de advertência e outros 3 que se abstiveram.
Venceslau ainda pode recorrer da decisão ao encontro (convenção) nacional do PT. As duas votações se deram em cima de pareceres de comissões de ética abertas pelo partido.
Lula, pré-candidato do PT à Presidência da República, mora de graça em casa cedida gratuitamente por Teixeira.
Lula não queria que Teixeira fosse advertido e deixou claro, em conversas com petistas mais próximos, que se sentiria pessoalmente atingido se qualquer sanção fosse aplicada a seu amigo.
Venceslau não foi comunicado oficialmente que o partido discutiria e votaria o caso na reunião de ontem. Por isso, houve polêmica sobre a validade ou mesmo a legitimidade da decisão.
Dirceu, no entanto, alegou que o economista não foi comunicado oficialmente por ter mudado de endereço. "Além disso, era público e notório que o diretório analisaria hoje (ontem) o caso", declarou. O dirigente argumentou, ainda, que Venceslau, durante depoimento que ambos prestaram à tarde à Justiça (leia texto abaixo), fora informado que a Executiva do PT já decidira pela sua expulsão.
O presidente do PT foi cuidadoso ao responder se a decisão de expulsar o denunciante e poupar o amigo de Lula poderia ser mal recebida pela opinião pública. "Acho que a opinião pública pode se dividir". Na sequência, avaliou que o desfecho dado pelo partido ao caso não trará reflexo na campanha eleitoral de Lula.
O pré-candidato petista não se manifestou sobre a votação. Teixeira esteve na sede do partido, acompanhado de seus advogados, mas também não se manifestou.
Venceslau, procurado ontem em sua casa, não foi encontrado.
Avaliação
A avaliação no PT, antes da reunião, era de que a exclusão partidária de Venceslau e, também, o aval ao procedimento de Teixeira eram indispensáveis para a tentativa de superação do desânimo atual de Lula, que parece arrependido de ter aceitado mais uma empreitada eleitoral.
Outra avaliação corrente no PT é que o caso Cpem trará prejuízo eleitoral a Lula. A possibilidade de não decidir ontem foi descartada pelo temor de que a falta de uma solução só aumentaria o desgaste.
O diretório petista vai discutir hoje os rumos da campanha de Lula. Uma parte da ala "esquerda" da legenda vai criticar a tentativa de aproximação com o ex-governador paulista Orestes Quércia (PMDB).
Lula vai insistir na tese de ampliação das alianças do partido, o que contraria o setor ortodoxo do petismo. Ontem, o deputado federal Luiz Gushiken, escalado por Lula para coordenar sua campanha presidencial, deu um recado claro aos setores que resistem à "flexibilização" exigida pelo pré-candidato.
"O Lula está sinalizando para as alas do PT ainda reticentes que não aceita que a política regional prevaleça sobre a nacional", afirmou Gushiken.
Além do Rio, Estado em que o PDT exige apoio petista na disputa local, há resistência de partidários de Lula para ceder a cabeça da chapa ao PSB no Pará.
Apesar da relutância de parte da "esquerda", aposta-se no PT que Lula conseguirá quase tudo que quer, menos a aproximação com o antigo desafeto Quércia.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.