|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASO CPEM
Partido pune economista que denunciou suposto tráfico de influência de amigo de Lula, que foi absolvido
PT expulsa Venceslau e poupa Teixeira
CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local
O Diretório Nacional do PT decidiu ontem à noite expulsar do
partido o economista Paulo de
Tarso Venceslau, autor da denúncia do caso Cpem. O advogado Roberto Teixeira foi inocentado.
Venceslau denunciou suposta
omissão de Luiz Inácio Lula da Silva diante de pressões que Teixeira
teria feito para que prefeituras petistas firmassem contratos com a
Cpem, empresa especializada em
aumentar a arrecadação de tributos.
Segundo José Dirceu, presidente
nacional do PT, Venceslau foi expulso por 60 votos, contra 2 abstenções. A votação no caso de Teixeira, compadre de Lula, foi mais
equilibrada: 38 pelo arquivamento
(absolvição das acusações de tráfico de influência), contra 22 dirigentes que queriam uma pena de
advertência e outros 3 que se abstiveram.
Venceslau ainda pode recorrer
da decisão ao encontro (convenção) nacional do PT. As duas votações se deram em cima de pareceres de comissões de ética abertas
pelo partido.
Lula, pré-candidato do PT à Presidência da República, mora de
graça em casa cedida gratuitamente por Teixeira.
Lula não queria que Teixeira fosse advertido e deixou claro, em
conversas com petistas mais próximos, que se sentiria pessoalmente atingido se qualquer sanção
fosse aplicada a seu amigo.
Venceslau não foi comunicado
oficialmente que o partido discutiria e votaria o caso na reunião de
ontem. Por isso, houve polêmica
sobre a validade ou mesmo a legitimidade da decisão.
Dirceu, no entanto, alegou que o
economista não foi comunicado
oficialmente por ter mudado de
endereço. "Além disso, era público e notório que o diretório analisaria hoje (ontem) o caso", declarou. O dirigente argumentou, ainda, que Venceslau, durante depoimento que ambos prestaram à tarde à Justiça (leia texto abaixo), fora informado que a Executiva do
PT já decidira pela sua expulsão.
O presidente do PT foi cuidadoso ao responder se a decisão de expulsar o denunciante e poupar o
amigo de Lula poderia ser mal recebida pela opinião pública.
"Acho que a opinião pública pode
se dividir". Na sequência, avaliou
que o desfecho dado pelo partido
ao caso não trará reflexo na campanha eleitoral de Lula.
O pré-candidato petista não se
manifestou sobre a votação. Teixeira esteve na sede do partido,
acompanhado de seus advogados,
mas também não se manifestou.
Venceslau, procurado ontem em
sua casa, não foi encontrado.
Avaliação
A avaliação no PT, antes da reunião, era de que a exclusão partidária de Venceslau e, também, o
aval ao procedimento de Teixeira
eram indispensáveis para a tentativa de superação do desânimo
atual de Lula, que parece arrependido de ter aceitado mais uma empreitada eleitoral.
Outra avaliação corrente no PT é
que o caso Cpem trará prejuízo
eleitoral a Lula. A possibilidade de
não decidir ontem foi descartada
pelo temor de que a falta de uma
solução só aumentaria o desgaste.
O diretório petista vai discutir
hoje os rumos da campanha de
Lula. Uma parte da ala "esquerda"
da legenda vai criticar a tentativa
de aproximação com o ex-governador paulista Orestes Quércia
(PMDB).
Lula vai insistir na tese de ampliação das alianças do partido, o
que contraria o setor ortodoxo do
petismo. Ontem, o deputado federal Luiz Gushiken, escalado por
Lula para coordenar sua campanha presidencial, deu um recado
claro aos setores que resistem à
"flexibilização" exigida pelo
pré-candidato.
"O Lula está sinalizando para as
alas do PT ainda reticentes que
não aceita que a política regional
prevaleça sobre a nacional", afirmou Gushiken.
Além do Rio, Estado em que o
PDT exige apoio petista na disputa
local, há resistência de partidários
de Lula para ceder a cabeça da
chapa ao PSB no Pará.
Apesar da relutância de parte da
"esquerda", aposta-se no PT que
Lula conseguirá quase tudo que
quer, menos a aproximação com o
antigo desafeto Quércia.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|