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JANIO DE FREITAS
A escalada
O continuado empenho da
Presidência da República em reduzir a Polícia Federal a mera
figurante na ação antidrogas
-causa da queda de dois ministros da Justiça- advém de uma
decisão que o governo não pode
tornar pública. Precisa, ao contrário, escondê-la sob disfarces,
pelo temor das repercussões que
produziria entre os militares, no
Congresso e na opinião pública.
A criação da Secretaria Nacional Antidrogas, claro que feita
por Fernando Henrique Cardoso com uma medida provisória,
incluiu-a no Gabinete de Segurança Institucional como um artifício. Poderia ter um civil como
secretário para compor as aparências, porque, de fato, estaria
entregue ao comando e controle
de militares. O Gabinete de Segurança é só o novo nome do velho Gabinete Militar da Presidência. Com o artifício, o governo transgredia mais uma vez a
Constituição.
Os militares estão longe da
unanimidade em relação ao seu
envolvimento na ação contra o
narcotráfico. Onde quer que tenha havido esse envolvimento,
as Forças Armadas foram atingidas pela corrupção proveniente do farto dinheiro usado para
minar a repressão. Nem seriam
necessários outros exemplos: a
degradação na Colômbia e na
Bolívia se passa ali ao lado.
A insistência dos Estados Unidos para o envolvimento não solucionou a divergência entre os
militares brasileiros. Nem conseguiu eliminar, além de reservas
idênticas às de militares, a impressão de que os americanos estavam exagerando na sem-cerimônia com a soberania nacional brasileira.
A pressão aumentou nos últimos dois anos, sobretudo no ano
passado, quando militares e civis foram mandados ao Brasil,
embora disfarçando com uma
despropositada turnê por dois
ou três dos nossos vizinhos. Seu
trabalho, mesmo, era em Brasília. Foi no Planalto. Com os interlocutores Fernando Henrique
Cardoso e Alberto Cardoso. Ainda no primeiro semestre do ano
passado começou a montagem
da Secretaria Nacional Antidrogas.
A queda de Renan Calheiros
do Ministério da Justiça foi represália à sua recusa de policial
ligado aos militares da repressão
na ditadura, indicado pelo general Alberto Cardoso e logo nomeado por Fernando Henrique.
O escândalo impediu um passo
importante na montagem do artifício, que era ter na direção da
PF um policial que não seria
mais do que marionete operada
pelos militares do Gabinete de
Segurança Institucional.
A queda de José Carlos Dias
deu-se, agora, por causa de uma
operação antidrogas que seria
feita nas proximidades da Bolívia. As razões verdadeiras da divergência entre o então ministro
e a Secretaria Antidrogas ainda
não estão estabelecidas com clareza. Mas sustaram a operação.
E, com isso, frustraram o passo
mais importante, desde a criação da secretaria, na escalada
da adesão ao desejado pelos Estados Unidos: a soldadesca e
seus oficiais, a presença mais volumosa incluída na operação,
iriam consumar o envolvimento
direto dos militares na ação antidrogas. Daí por diante, isso
deixaria de ser novidade anormal.
Se aceitou o cargo deixado por
Renan Calheiros e José Carlos
Dias, José Gregori não pode ter
restrições, a menos que tenha
perdido todo o senso, aos ardis
que acobertam a entrega da
ação antidrogas às Forças Armadas. Não faltará muito para
que o narcotráfico continue progredindo, enquanto o Brasil estará mais parecido com a Colômbia e a Bolívia em mais um
aspecto.
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