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DÍVIDAS
Banco Central e CAE aprovam renegociação de títulos da Prefeitura de São Paulo no prazo de 30 anos
Senado legitima precatório irregular
FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília
O relatório da CAE (Comissão
de Assuntos Econômicos) do Senado vai acatar recomendação do
Banco Central para que a dívida
do município de São Paulo, estimada em mais de R$ 10,5 bilhões,
seja renegociada em um período
de 30 anos.
Isso significa que os senadores e
o Banco Central consideraram legítima a emissão de títulos realizada pela prefeitura durante a
gestão Maluf, em 1995, para pagar
precatórios (dívidas judiciais).
A recomendação irá constar do
parecer do relator da renegociação da dívida paulistana na CAE,
senador Romero Jucá (PSDB-RR).
A tendência no plenário da CAE
é confirmar o relatório de Jucá,
em votação que foi marcada para
a semana que vem.
O sinal verde do BC foi dado ontem pelo diretor Carlos Eduardo
de Freitas (Finanças Públicas),
um dos responsáveis na equipe
econômica pela renegociação das
dívidas de Estados e municípios
com a União.
Ele se reuniu com o presidente
da CAE, senador Ney Suassuna
(PMDB-PB), e disse que o BC encaminhará para o Senado, na próxima segunda-feira, um parecer
favorável à rolagem da dívida em
30 anos. Segundo resoluções do
Senado, os títulos para pagamento de precatórios emitidos irregularmente só podem ser rolados
em dez anos.
Investigação
As emissões de títulos pela Prefeitura de São Paulo para pagar
precatórios foram investigadas
por um CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Senado,
em 1997.
A CPI dos Precatórios concluiu
que cerca de 23% dos recursos arrecadados com a emissão dos títulos foram utilizados para pagar
precatórios e sugeriu que os papéis emitidos irregularmente deveriam ser anulados.
O próprio Banco Central, em
nota técnica preparada pelo Departamento da Dívida Pública e
obtida pela Folha, admite que no
máximo 27,06% dos recursos
captados pela prefeitura com a
emissão dos títulos foram utilizados devidamente. Ou seja: no pagamento de precatórios devidos
pelo município.
Mas, com base em dados fornecidos pela Prefeitura de São Paulo, o BC informa nessa mesma nota técnica que as emissões foram
regulares.
É essa parte da nota técnica que
será enviada ao Senado como parecer do BC sobre o assunto, permitindo que os títulos emitidos
pelo município sejam renegociados por 30 anos.
O presidente da CAE, senador
Ney Suassuna, quer votar o parecer do colega Romero Jucá sobre a
dívida paulistana na próxima terça-feira. Caso a votação seja suspensa pela oposição, Suassuna
marcará uma nova sessão da CAE
para o próximo dia 25.
Dois dias depois, o plenário do
Senado estará apto para votar a
rolagem. "A tese de rolagem por
30 anos é a reinante, mas o Senado ainda não disse que está tudo
bem", afirmou Suassuna.
Sobra de recursos
O presidente da CAE disse também que o parecer do BC deverá
apontar uma sobra de recursos na
Prefeitura de São Paulo em relação aos seus precatórios que poderá ser utilizada para pagar a primeira parcela referente à rolagem
da sua dívida. Como o estoque de
precatórios foi reajustado por diversas decisões judiciais, o montante de títulos emitidos acabou
ficando inferior ao total que é devido pelo município.
Essa diferença favorável à prefeitura, inicialmente calculada pelo BC entre R$ 400 milhões e R$
500 milhões, poderá ser abatida
da parcela inicial que terá que ser
paga pela prefeitura.
"O município de São Paulo tem
um santo muito forte", ironizou o
senador Ney Suassuna.
O principal argumento a favor
da rolagem é a dívida da prefeitura com o Banco do Brasil, que
comprou quase todos os títulos
- cerca de R$ 10 bilhões. Se a rolagem não fosse feita, os títulos
não seriam honrados e o banco
poderia quebrar.
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