São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PROTESTO
Membro da tribo suruí quer aprovação de estatuto indígena
Índio aponta flecha para rosto de ACM durante manifestação

DANIEL BRAMATTI
da Sucursal de Brasília


O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), teve ontem uma flecha apontada para seu rosto por um índio que participava da marcha contra as comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil.
O índio Henrique Iabaday conseguiu furar a segurança e, empunhando uma flecha a poucos centímetros de ACM, exigiu dele a imediata aprovação do Estatuto das Sociedades Indígenas, que tramita há nove anos no Congresso.
O fato, ocorrido ontem no auditório Nereu Ramos, na Câmara, representou o momento mais tenso da marcha.
Antes de chegar ao Congresso, cerca de 500 integrantes da marcha já haviam atirado flechas no relógio da Rede Globo comemorativo aos 500 anos do Brasil.
No auditório, ACM foi surpreendido pela chegada do índio quando estava sentado à mesa e aguardava a vez de discursar para os líderes indígenas.
Henrique Iabaday, da tribo dos suruí, de Rondônia, balançava a flecha na direção de ACM enquanto falava. Depois de alguns segundos de indecisão, o senador levantou-se com o dedo em riste.
"Eu vou falar e exijo respeito", afirmou, enquanto seguranças afastavam Iabaday do local.
Pouco antes, ACM havia sido acusado pelo cacique Nailton Pataxó de ter distribuído títulos para fazendeiros em terras indígenas na época em que foi governador da Bahia.
"Quero pedir ao presidente do Senado que corrija o erro cometido por ele de doar terras dentro da área pataxó. Errar é humano. Corrija o erro e anule os títulos", disse o cacique, discursando da tribuna.
Nailton Pataxó exigiu ainda a interferência de ACM para acabar com o "cordão de isolamento" da Polícia Militar baiana na região de Porto Seguro, que impede a entrada de manifestantes contrários às comemorações oficiais dos 500 anos do Brasil.
Em resposta, ACM disse que "gestos impulsivos" não resolveriam os problemas. Ele se colocou à disposição para dialogar, inclusive com o governador da Bahia, César Borges (PFL).
"Vim com o espírito aberto para dialogar e para dizer que não pode haver comemoração dos 500 anos sem a presença dos senhores, mas a presença dos senhores também não pode impedir a comemoração."
Ao concluir, pediu uma demonstração de confiança: "Confiem no senador. Mais do que isso, confiem no Senado".
Ele não quis comentar a acusação de que teria distribuído títulos de propriedade em áreas indígenas. ACM foi convidado a ir ao auditório pelos senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Marina Silva (PT-AC).


Texto Anterior: Estados aceleram rolagem
Próximo Texto: Ato contra demarcação reúne 30 mil
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.