São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAMPO MINADO

Presidente da UDR faz declaração em depoimento à CPI da Terra

Stedile anuncia mais pressão; ruralista defende a sua prisão

Maurilio Cheli/Folha Imagem
Os economistas João Pedro Stedile (à esquerda) e Plínio de Arruda Sampaio participam de encontro do MST em Curitiba


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antonio Nabhan Garcia, pediu ontem que João Pedro Stedile, coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), seja preso por cometer "crimes" que acirram a tensão no campo. No mesmo dia, Stedile defendeu a atual onda de invasões promovida pelo MST e afirmou que a pressão pela reforma agrária não tem data para acabar.
"Esse sujeito [Stedile] veio publicamente ameaçar a ordem nacional, dizendo que iria infernizar, e sua pena deve ser de reclusão. Ele só alavanca o clima de tensão. Quem comete crime não pode estar solto", disse Nabhan.
A declaração do presidente da UDR foi dada à Folha minutos antes do início da sessão da CPI da Terra, que durou cerca de quatro horas no Senado e teve Nabhan como depoente. A sessão foi tensa, com bate-bocas entre parlamentares pró-fazendeiros e pró-sem-terra. O líder ruralista se envolveu na troca de acusações.
Já Stedile participou de encontro do MST em Curitiba, ao qual a imprensa não teve acesso. Na entrevista depois do encontro, Stedile defendeu a recente onda de invasões. Afirmou que ela ocorre "por necessidade do povo" e que a luta pela reforma agrária é histórica e sem prazo para acabar. "É uma longa luta que a sociedade vai desenvolvendo enquanto houver pobres no campo", disse.
Segundo ele, os assentamentos já realizados no Brasil só foram conquistados porque houve pressão. "E sem pressão social, sem mobilização, a lei não se cumpre neste país", afirmou, citando a garantia constitucional de acesso à terra para plantar e sobreviver.
Cerca de 30 líderes ruralistas estiveram na sessão da CPI. Sentados no fundo da sala, interromperam-na ao menos quatro vezes.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) propôs encontro entre UDR e MST. "Não há a menor hipótese de diálogo com o MST. Só quando se legalizar e parar de cometer crimes", afirmou Nabhan.

"Povo nas ruas"
Economista e um dos fundadores do PT, Plínio de Arruda Sampaio defendeu, no encontro do MST, que o "povo" vá para as ruas pedir reformas e manifestar apoio ao governo federal. "Ninguém faz mudança sem o povo nas ruas." Ele disse que o país "está sitiado e vive uma situação de guerra, como o Iraque", e que o governo "é refém" dessa situação, ditada pelo poder econômico internacional.
"Não tem soldado americano aqui, mas tem o FMI, tem os bancos, tem os credores que não nos deixam mexer [no dinheiro público]. Qualquer maior gasto que a gente queira fazer é impedido pela necessidade de manter um superávit primário", disse. "Basta ver que temos 15 meses de governo e o desemprego aumentou, o salário continua baixíssimo e discutimos [salário] mínimo ridículo, tudo porque tem uma tropa aqui dizendo: se você gastar mais, nós tiramos o dinheiro do Brasil."
Para ele, só manifestações populares podem mudar a situação. "O que o povo tem de fazer, considerando que seu governo é refém, é ir para a rua fazer pressão, democraticamente." Sampaio disse que as ações do MST são uma forma de "libertação" do governo.

Garanhuns
O líder do MST em Pernambuco Jaime Amorim disse ontem que o movimento não levou em conta o fato de que Garanhuns é a cidade natal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando invadiu, anteontem, uma fazenda na cidade. Amorim afirmou, no entanto, que é uma oportunidade para Lula mostrar "se tem compromisso com a reforma agrária".


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Invasões do MST desde março já chegam a 73
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.