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QUESTÃO AGRÁRIA
Número de fazendas passíveis de desapropriação aumentaria; Ministério da Agricultura ainda não aprovou plano
Governo quer nova regra de produção no campo
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal decidiu enfrentar o desgaste político e apresentou ontem a proposta de novos índices que exigem mais produtividade dos imóveis rurais e
devem ampliar o número de propriedades passíveis de desapropriação para a reforma agrária no
país.
Os números atuais se baseiam
no Censo Agropecuário de 1975.
A sugestão do MDA (Ministério
do Desenvolvimento Agrário) usa
dados de 1995, para a pecuária, e a
média de produção de 1999 a
2003, no caso da agricultura.
No entanto, a iniciativa de alterar os parâmetros de produtividade no campo para efeito de reforma agrária ainda não é consenso
no governo.
O Ministro das Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que só vai
se manifestar oficialmente sobre a
decisão depois da análise do Conselho Nacional de Política Agrícola, órgão colegiado do ministério.
Mas ele adiantou, por meio de sua
assessoria de imprensa, que "este
é um ano ruim para a mudança,
por causa da redução da produtividade no campo, em conseqüência da seca".
A mudança que foi apresentada
pelo MDA precisa ser feita por
meio de uma Instrução Normativa conjunta dos ministérios da
Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. Não há data para que a
medida entre em vigor, em princípio.
Além de refletir uma avaliação
mais atual das propriedades rurais, o objetivo da medida é ampliar o estoque de terras disponíveis para a reforma agrária. Mas o
governo ainda não dispõe de números de quantos hectares poderão ser desapropriados.
O ministro Miguel Rossetto
(Desenvolvimento Agrário) apresentou os novos parâmetros ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, e teria recebido apoio do Planalto para tocar o projeto. Na ocasião, o ministro obteve a liberação de R$ 400
milhões que estavam bloqueados
pela equipe econômica desde fevereiro.
O aperto nas verbas, porém,
continua para o restante da Esplanada. O anúncio de novos índices
de produtividade é o segundo sinal do governo de que pretende se
empenhar na reforma agrária em
menos de dez dias. Os movimentos sociais, em especial o MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), são tradicionais apoiadores do PT.
Ao apresentar os números ontem, o coordenador do Nead (Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural), Caio França,
afirmou que a atualização sugerida pelo ministério é "conservadora" e que "todos" os produtores
rurais hoje cumpririam as novas
exigências.
"Para todas as culturas, o desempenho dos produtores hoje é
superior ao nosso índice", explicou.
Quando o "Diário Oficial" publicar a Instrução Normativa
-algo que não tem data prevista-, os técnicos do Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) farão uma varredura nos cadastros estaduais
para verificar que propriedades
estariam fora dos novos parâmetros. Seus proprietários seriam
notificados e um novo laudo de
vistoria seria preparado, para
constatar a situação do imóvel.
O índice de produtividade é o
principal parâmetro avaliado pelos técnicos do Incra. No laudo, os
técnicos classificam a propriedade como produtiva ou improdutiva. Neste segundo caso, o imóvel
pode ser desapropriado para a reforma agrária, segundo a legislação em vigor.
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