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JUSTIÇA ELEITORAL
Governador é acusado de abuso de poder
Procurador-geral do TSE dá parecer a favor da cassação de Mão Santa
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governador do Piauí, Francisco de Assis de Moraes Souza, o
Mão Santa (PMDB), poderá ter o
mandato cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por abuso de poder na campanha à reeleição, em 1998.
Ele é acusado de ter cometido
pelo menos cinco tipos de abuso
de poder econômico e político,
como distribuição de remédios,
anistia de contas de luz e promoção pessoal por meio da divulgação de programas sociais com nomes associados a seu apelido, a
exemplo do "Sopa na Mão".
Mão Santa já sofreu a primeira
derrota no TSE. O procurador-geral eleitoral, Geraldo Brindeiro,
recomendou ao tribunal a sua
condenação porque considerou
provada a prática de várias irregularidades. Elas teriam força para alterar o resultado das eleições.
Se for condenado, o governador
ainda poderá recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal). Caso
fracasse, será substituído pelo senador Hugo Napoleão (PFL), que
ficou em segundo lugar por uma
diferença de apenas 23 mil votos.
A eventual condenação será o
primeiro caso de cassação de um
governador por abuso de poder.
O Tribunal Regional Eleitoral
do Piauí absolveu Mão Santa. A
maioria dos juízes considerou
que alguns abusos comprovados
não influenciaram o resultado da
eleição e que outras irregularidades não ficaram provadas.
O julgamento do TSE ainda não
tem data marcada. O relator, ministro Nelson Jobim, assumirá a
presidência do tribunal no início
de junho. Se não submeter o caso
aos colegas até aquele momento,
transferirá o processo para a ministra Ellen Gracie Northfleet.
Os sete ministros do TSE vão
examinar um recurso do senador
Hugo Napoleão contra a decisão
do TRE que absolveu Mão Santa.
Ironicamente, a possibilidade
de cassação poderá ser enfraquecida pelo fato de Napoleão, adversário a ser beneficiado, também
ser acusado de praticar abusos
-teria usado indevidamente a
mídia para atacar Mão Santa.
A decisão do TSE é uma incógnita, porque o tribunal não tem
tradição clara sobre abuso de poder. Em alguns casos, exige relação de causa e efeito entre a irregularidade e o resultado eleitoral,
o que é praticamente impossível.
Em outros, julga suficiente a confirmação de que o fato tinha "potencialidade" para influenciar.
Advogado é ex-ministro
O advogado de Mão Santa é o
ex-ministro do TSE Eduardo
Alckmin. Ao votar no caso de Ernandes Amorim (PPB-RO), acusado de, em 1994, como prefeito,
fazer uso eleitoral de obras, Alckmin votou pela condenação. O
então ministro entendeu que algumas inaugurações de obras da
rede elétrica foram transformadas em "showmícios".
No caso do governador do
Piauí, ele contesta muitas irregularidades e diz que outras são anteriores ao período eleitoral -o
que impediria tecnicamente a tramitação de ação movida por Napoleão após a derrota eleitoral.
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