São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Filiado ao PSB, ex-ministro da Integração Nacional assume o favoritismo diante da impossibilidade de o PT ter Nelson Jobim

Sem PMDB, Ciro é o mais cotado para ser o vice de Lula

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro da Integração Nacional e ex-candidato à Presidência em 1998 e 2002, Ciro Gomes, do PSB, é o mais cotado para ser o companheiro de chapa da candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dificilmente o atual vice-presidente, José Alencar (PRB), repetirá a chapa vitoriosa de 2002.
Lula disse nos últimos dias a aliados políticos e a dirigentes do PT que se preparassem para a formalização de uma aliança com o tradicional parceiro PSB. Incluiu na conversa a formação da chapa tendo Ciro como vice.
Entre as qualidades do ex-ministro para a campanha, o presidente e seu grupo destacam a capacidade de polemizar e de responder à altura a prováveis críticas. Isso facilitaria o caminho para Lula reviver a versão "paz e amor", associada à imagem de "pai dos pobres", que o PT passou a contrabandear do getulismo.

Arestas
A eventual confirmação de Ciro deverá gerar arestas no PT. Como vice de Lula, se o presidente for reeleito, Ciro passa a integrar a lista de nomes mais cotados para a sucessão de 2010. Lula elogia a lealdade de Ciro e já aventou a possibilidade de uma fusão no futuro entre PT e PSB.
Enquanto esteve no cargo, o ex-ministro surpreendeu muitos atores políticos, inclusive aliados, que não acreditavam na sua capacidade de manter-se longe das polêmicas, preservando-se em silêncio metódico diante da mídia.
Além de Ciro, que pode se firmar como o sucessor não-petista de Lula, outros nomes hoje aparecem como "herdeiros" de um PT pós-Lula: o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais), a ex-prefeita Marta Suplicy, caso recupere sua carreira política, e a ministra da Casa Civil, Dilma Rouseff. Uma aposta "mais futura", dizem dirigentes do PT, é o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel.

Sonho desfeito
Segundo a Folha apurou, o vice "dos sonhos de Lula", nas palavras de um auxiliar direto, seria o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim. A opção Jobim, porém, tomou uma ducha de água fria na última quarta-feira, durante almoço de Lula com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça).
Um dos expoentes da ala governista do PMDB, Renan deu a Lula uma notícia boa e outra ruim. A boa, na ótica do presidente, era que o PMDB não deveria ter candidato próprio ao Palácio do Planalto, conforme convenção que se realizaria ontem. Isso ajuda o presidente a polarizar com o PSDB de Geraldo Alckmin logo no começo da campanha e pode permitir que a eleição seja decidida logo no primeiro turno.

Sem o PMDB
A notícia ruim levada por Renan foi o preço de o partido não ter candidato próprio, sepultando de vez as pretensões de Anthony Garotinho: o PMDB não se aliaria a Lula nem a Alckmin. Ficaria livre para compor nos Estados segundo seus próprios interesses.
Como a chamada verticalização restringe a liberdade de alianças se houver candidato próprio a presidente ou aliança nacional, a maioria do PMDB prefere ficar fora dessa disputa.
Sem aliança formal com o PMDB, Lula não poderá contar com Jobim. Gaúcho, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal reforçaria Lula na região Sul, onde o presidente tem menos votos do que no Nordeste. Jobim foi indicado ao STF por Fernando Henrique Cardoso, mas se aproximou de Lula desde que o petista chegou ao Planalto.

Alencar e Minas
A cúpula do PT diz desejar que o atual vice-presidente, José Alencar (PRB), concorra ao Senado por Minas Gerais com o apoio do partido.
Lula incentiva a articulação. Gosta pessoalmente de Alencar, mas a relação entre os dois, com as inúmeras críticas do vice à política econômica, geraram muito desgaste político.
Lula avalia ainda que, do ponto de vista eleitoral, Alencar acrescentará pouco -ao contrário de 1998, quando a figura de grande empresário ajudou o PT a dissipar temores do mercado. Alencar também trocou o PL pelo pequeno PRB, partido que conta com ele e o senador Marcelo Crivella (RJ) como estrelas. O PRB (Partido Republicano Brasileiro) tem forte presença de evangélicos que ingressaram no PL antes do escândalo do mensalão.
Em Minas, segundo colégio eleitoral do país, Lula aparece bem nas pesquisas. Tem boas relações com o atual governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), favorito à reeleição. E também conta com a simpatia do ex-presidente e ex-governador de Minas Itamar Franco (PMDB).


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