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Sem apoio de Lula, Marina anuncia saída do governo
Em carta, ministra do Meio
Ambiente alega dificuldades
Presidente convida Jorge Viana (PT-AC) para o cargo
Presidente se irrita com
gesto de Marina, que ficou
descontente com o fato de
Mangabeira gerir o Plano
Amazônia Sustentável
Alan Marques - 8.mai.08/Folha Imagem
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Marina Silva, durante a cerimônia de lançamento do Plano Amazônia Sustentável, no Palácio do Planalto
MARTA SALOMON
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de cinco anos, quatro
meses, 12 dias e uma coleção de
disputas no cargo, a ministra
Marina Silva (Meio Ambiente)
deixou o governo ontem. Ao
mesmo tempo em que um portador levava carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Marina relatava à equipe o caráter "irrevogável" de seu afastamento. Sem apoio do presidente, ela já não via condições
de permanecer no cargo.
Embora já esperasse pela
reação da ministra, cuja gestão
já não o satisfazia, Lula reagiu
com irritação ao formato da
saída: Marina nem sequer pediu demissão, apenas comunicou sua decisão de deixar o comando do Meio Ambiente.
A decisão de Marina foi amadurecida desde a manhã de
quinta-feira passada. Pouco antes da cerimônia pública do
lançamento do PAS (Plano
Amazônia Sustentável), no Planalto, a ministra participou de
reunião com Lula e governadores da Amazônia. Naquele momento, foi informada por Lula
que a coordenação do Conselho
Gestor do plano ficaria com o
ministro Mangabeira Unger
(Assuntos Estratégicos), que
não participara da elaboração
do plano, gestado desde 2003.
Mais do que surpreendida, a
ministra viu no gesto sinal claro de que já não contava com o
apoio de Lula para levar adiante medidas duras de combate
ao desmatamento na Amazônia. Após três anos de queda no
ritmo das motosserras, a devastação da floresta voltou a crescer no final de 2007.
Até momentos antes da reunião com Lula, Marina acreditava que coordenaria as ações
do PAS. Viu um sinal disso num
detalhe: o arranjo das autoridades nas cadeiras próximas ao
presidente no tablado no salão
nobre do Planalto -não havia
assento para Unger entre os
protagonistas da cerimônia.
A expectativa da ministra
frustrou-se momentos antes da
solenidade. Em relatos econômicos que fez dos motivos que a
levaram a pedir demissão, Marina contou que a reunião foi
"muito dura" e não deu a ela
condições de permanecer no
governo. Depois de perceber
que pressões contrárias à sua
permanência eram maiores do
que o apoio que esperava receber de Lula, Marina chegou a
dizer a um interlocutor: "Uma
mãe não abandona seu filho".
A frase é um contraponto ao
discurso feito por Lula na cerimônia. Mesmo depois de escantear Marina, o presidente
chamou a ministra de "mãe do
PAS". O epíteto já não lhe cabia,
julgou a ministra, num paralelo
a uma de suas principais antagonistas no governo, Dilma
Rousseff (Casa Civil), apontada
por Lula como a "mãe do PAC".
Os termos duros da carta de
demissão foram divulgados pelo Planalto. O texto atribui a demissão a dificuldades enfrentadas na condução da agenda ambiental: "V. Exa. é testemunha
das crescentes resistências encontradas por nossa equipe
junto a setores importantes do
governo e da sociedade".
A ministra passou o dia em
seu apartamento. Com mais
dois anos e meio de mandato
para cumprir no Senado, pensa
em tirar férias antes de voltar à
vaga hoje ocupada pelo suplente Sibá Machado (PT-AC).
Seus principais assessores se
dispõem a ficar só por um período de transição. Entre eles
estão João Paulo Capobianco
(secretário-executivo do ministério e presidente do Instituto Chico Mendes) e Bazileu
Margarido Alves, presidente do
Ibama. Thelma Krug, secretária de Mudanças Climáticas,
estava ontem na Finlândia.
Não foi a primeira vez que
Marina pediu demissão. No início do segundo mandato de Lula, sob pressão para apressar a
concessão de licenças para
obras do PAC, ela pôs o cargo à
disposição. Na ocasião, julgou
ter tido reiterado o apoio do
chefe e conduziu a revisão do
projeto de hidrelétricas do rio
Madeira (RO) para liberação da
licença ao empreendimento.
Na grande polêmica anterior,
que tratou da liberação de lavouras transgênicas de soja, a
partir de sementes contrabandeadas da Argentina, a ministra
assimilou a derrota, embora a
área ambiental do governo resista à liberação de organismos
geneticamente modificados.
Foi na execução da política
de combate ao desmatamento
que ela viu inviabilizada sua
permanência. Em janeiro, Marina associou o aumento do ritmo do desmatamento ao avanço de pastos e plantações de soja, estimulados pelo aumento
do preço de commodities.
Atraiu críticas dos governadores Blairo Maggi (MS) e Ivo
Cassol (RO) e do ministro Reinhold Stephanes (Agricultura).
Parte do PT tenta emplacar o
ex-governador do Acre Jorge
Viana, que deve conversar hoje
com o presidente Lula. Antes, o
petista Carlos Minc, do Rio, havia sido sondado.
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