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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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Economistas divergem sobre críticas a Lula

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

As críticas do ministro José Dirceu (Casa Civil) ao documento "A agenda interditada", que se opõe à política econômica do governo, foram rebatidas ontem por economistas que o assinaram. No mesmo dia, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola fez coro a Dirceu nas críticas ao texto.
Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp que chegou a ser cogitado para um ministério da área econômica do governo, disse o seguinte: "O ministro José Dirceu não tem formação para discutir esse assunto".
Na "Agenda", divulgada pela Folha anteontem, cerca de 250 economistas recomendam ao governo controle de capitais externos e da taxa de câmbio. Segundo Ricardo Carneiro, um dos signatários, o manifesto agrupa desde economistas do PT até eleitores de José Serra na campanha presidencial de 2002.
Em encontro com deputados do PT, Dirceu insinuou que as propostas poderiam provocar uma "bolha" de crescimento e afirmou que, durante o Plano Cruzado [de 1986], as "medidas necessárias" não foram tomadas e a inflação voltou ao país.
"A taxa de câmbio tem que estar no lugar, a taxa de juros é excessiva e há uma interpretação errônea a respeito da inflação. Ninguém está pedindo para que se faça uma bolha de crescimento", afirmou Belluzzo.
O economista Plínio de Arruda Sampaio Jr., um dos coordenadores do manifesto, afirmou que o ministro "tem uma visão simplória do que foi a crise dos anos 80 e das causas do fracasso do [Plano] Cruzado".
Para ele, Dirceu não tem "nenhum dado objetivo para estar com tanta segurança". "Só um sonhador poderia imaginar que estamos próximos de um espetáculo de grande crescimento. É muito mais provável assistirmos a um espetáculo de recessão."
Para Carneiro, "é previsível, para um economista medianamente formado, aonde essa política [do governo] vai nos levar".

Gustavo Loyola
Em boletim da consultoria Tendências divulgado ontem, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola diz, em texto intitulado "Quando a insensatez não conhece limites", que as recomendações da "Agenda" são como "aconselhar o acendimento de um palito de fósforo para verificar o nível de gasolina num tanque".
"O que se sugere é um caminho para a explosão inflacionária", acrescenta o artigo.
O texto diz ainda que juros baixos, câmbio desvalorizado e inflação alta, recomendações implícitas, segundo Loyola, na "Agenda", "jamais trouxeram prosperidade a país algum no mundo".
Na última vez em que Loyola ocupou a presidência do BC, de maio de 1995 a julho de 1997 (ele também ocupou o cargo de outubro de 1992 a abril de 1993), o banco mantinha a cotação do dólar dentro de uma estreita faixa de flutuação. Essa política foi acusada de manter o real sobrevalorizado, prejudicando as exportações.


Colaborou a Redação


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