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OPOSIÇÃO
Com 4.000 entidades filiadas e 35 mil ativistas espalhados pelo país, central marca presença em protestos
CMP quer ser a versão urbana do MST
LUIZ MAKLOUF CARVALHO
da Reportagem Local
Sede própria, comprada com dinheiro do exterior (R$ 110 mil),
manutenção anual proveniente da
mesma fonte (R$ 120 mil), um dirigente assalariado por tempo integral (R$ 680 mensais), 34 outros
sempre à disposição, 4.000 entidades filiadas e estimados 35 mil ativistas pelo país.
É essa a estrutura básica que move a Central de Movimentos Populares (CMP), a caçula, mas taludinha, das entidades populares que
se opõem ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Ninguém mais faz protestos
sem nos chamar", disse à Folha
Raimundo Bonfim, 34, o integrante da direção executiva (onze
pessoas) que recebe os R$ 680,00.
"Queremos ocupar, no meio
urbano, papel semelhante ao que
o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) ocupa no
meio rural."
Desejos à parte, o fato é que a
CMP ocupa, hoje, lugar de destaque na bancada que espicaça o governo nas ruas. Teve expressiva
participação nos últimos protestos
-como o de 20 de maio, em Brasília, quando houve confronto
com a polícia- e voltará a tê-la
nos próximos.
Faz parte, por exemplo, junto
com o MST, a Central Única dos
Trabalhadores (CUT), a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e o Setor Pastoral
Social da Confederação Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), da
direção que está organizando o
quarto "Grito dos Excluídos",
marcado para o próximo 7 de setembro e previsto pelos organizadores como o maior protesto que
o governo enfrentará, a menos de
um mês das eleições.
O "Grito" vem crescendo em
importância na logística das entidades que refletem o contencioso
social. Em 95 ecoou em 170 cidades; em 96, em 300; em 97, em mil.
"No que depender de nós, o governo só pode esperar o crescimento da mobilização", diz Bonfim, 34, piauiense morando em
São Paulo desde 82.
O nome dele, ou o de José Albino
de Melo, igualmente da executiva
nacional, é referência importante
na direção de entidades como o
MST e a CUT.
No caso dos saques no Nordeste,
por exemplo, uns poucos contatos
com a direção do MST foram suficientes para que a CMP organizasse a contrapartida urbana, ocupando, em 14 de maio, os estacionamentos de três supermercados
em São Paulo. "A proposta não
era saquear e sim colocar a questão da fome", diz Bonfim. "Se
quiséssemos saquear, teria sido fácil, mas não é essa a proposta, pelo
menos agora."
Na grande marcha que o MST fez
no ano passado -três caravanas
que se juntaram em Brasília, em 17
de abril-, a CMP fez bonito no
Distrito Federal. "Uns 3.000 militantes eram nossos", diz Bonfim.
A aliança nasceu depois de uma
reunião com João Pedro Stedile e
outros integrantes da direção dos
sem-terra e frutificou nas 12 marchas ("10.000 militantes", estima
Bonfim) que a CMP fez em São
Paulo, no sentido bairros/avenida
Paulista, em 25 de julho do ano
passado. Foi o certificado de qualidade para ser considerada uma
coirmã.
Nesse exato momento, além de
estarem organizando as marchas
do próximo 25 de julho (sem-terra, sem-teto e desempregados),
Bonfim e sua entidade estão às
voltas com a organização de mais
uma manifestação contra o governo, dessa vez tendo a questão do
desemprego como palavra de ordem. Deve acontecer "daqui a 10
ou 15 dias" e, segundo ele, "vai
dar o que falar". "Vamos mexer
com o capital", disse Bonfim, recusando-se a mais detalhes enquanto as sucessivas reuniões não
decidirem entre três propostas.
Quando fala "o capital", o tom
é de quem leu "dois volumes" de
"O Capital" (a obra clássica do
filósofo alemão Karl Marx), alguma coisa do filósofo italiano Antonio Gramsci e muita coisa de Carlos Alberto Libânio Christo, o popular Frei Betto.
Bonfim, que está fazendo o supletivo e quer cursar direito ou
jornalismo, define-se como
"marxista-cristão" e defende, como modelo de sistema, o "socialismo democrático".
As ligações da CMP com a Pastoral Operária da CNBB, em que Frei
Betto é muito influente, remontam ao final dos anos 70, quando a
Central de hoje era, então, a Articulação Nacional do Movimento
Popular e Sindical (Anampos) e,
depois, tornou-se a Pró-Central de
Movimentos Populares.
Virou CMP em 93, num congresso em Belo Horizonte (com
950 delegados de 18 Estados).
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