São Paulo, domingo, 14 de julho de 2002

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"Meu negócio era cassino e jogo do bicho", diz Gratz

DO ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA

O deputado estadual José Carlos Gratz (PFL-ES) tem um explicação simples para ter obtido por três vezes o cargo de presidente da Assembléia Legislativa.
"Venho das três coisas mais populares que já existiram: futebol, samba e jogo do bicho", afirma ele, presidente do conselho deliberativa da equipe do Rio Branco e que desfila nas nove escolas de samba do Estado, por razão óbvia: é "patrono" de todas elas.
Gratz, que tem apenas o primário, foi eleito com a segunda maior votação do Estado na última eleição. A mais recente polêmica em torno do deputado surgiu depois que um funcionário da Assembléia enviou um e-mail a uma colunista social para informar que ele abriria um novo restaurante. Questionado sobre o uso da máquina pública, ele pediu para levantar os custos do e-mail e pagou R$ 0,00000042.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista do presidente da Assembléia à Folha:

 

Folha - Por que o senhor é contra uma intervenção federal no Espírito Santo?
José Carlos Gratz -
Se tivesse de haver intervenção no Espírito Santo, por qualquer tipo de argumento, é preciso tirar do mapa do Brasil Rio de Janeiro e São Paulo.

Folha - O que impressiona aqui é que, à exceção do senhor e do governador José Ignácio (PTN), o arcebispo de Vitória, a Ordem dos Advogados do Brasil, todas as entidades e políticos dos mais variados partidos defendem a necessidade de intervenção.
Gratz -
O arcebispo aqui é mais político do que eu. Eu não gosto dele, e ele não gosta de mim. O presidente da OAB aqui é meu adversário. O PT aqui, bato tanto neles que só vou parar quando eles soluçarem. Esses grupos fazem parte de uma panela, da fofoca e têm acesso à grande imprensa.

Folha - A acusação é que há uma violência patrocinada por agentes do Estado.
Gratz -
O Espírito Santo só não tem violência. Você vai lá, come minha mulher. Eu descubro e te encho de tiro. O Estado é culpado disso? O Flamengo perde, o outro vai lá no bar e dá uns tiros. O Estado é culpado disso? O traficante do morro dá banho no outro, vira briga de quadrilha. O Estado é culpado disso? Isso é palhaçada. 99% desse troço é fofoca. Quem fala isso é um bando de moleques. Se tem a coragem de colocar no papel que há uma infiltração de criminoso nos poderes, eles têm de ter a competência para dizer que tipo de crime foi cometido ou quem é o criminoso. Isso é conversa de bêbado para delegado.

Folha - O senhor foi acusado pela CPI do Narcotráfico de liderar o crime organizado no Estado.
Gratz -
O relatório da CPI do Narcotráfico é papel higiênico usado. Um bando de vagabundos que vieram aqui.

Folha - O senhor ainda é bicheiro?
Gratz -
Meu negócio era cassino e jogo do bicho. Parei em 1990, quando assumi meu primeiro mandato. Vendi tudo e entrei na política para combater os pilantras que me sequestraram e me deixaram uma semana preso na Polícia Federal, sem mandato, sem processo.

Folha - O senhor se acha injustamente perseguido?
Gratz -
Vou dar um exemplo. Os agentes da PF encontraram em um cassino meu seis garrafas de whisky -só bebo Blue Label- e, mancomunados com esses moleques da Procuradoria da República, disseram que o presidente da Assembléia é contrabandista de bebidas. Fizeram isso para aparecer em jornal, mas até hoje não houve nem processo.

Folha - O senhor pretende entrar na política nacional?
Gratz -
Nasci para ser cacique. Na próxima eleição, vou disputar o Senado.


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