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CONFLITO AGRÁRIO
Sem-terra monta acampamento com mil moradores da zona urbana ao lado de fazenda do reverendo Moon
MST recruta diretor de escola e taxista em MS
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) montou um acampamento com pelo
menos mil moradores da zona urbana de Miranda (194 km de
Campo Grande, na entrada do
Pantanal). O município possui
20,8 mil habitantes, pouco mais
da metade deles está na cidade.
Ao lado de barracos feitos com
lona preta, bambus e folha de palmeiras, ficam estacionados carros, camionetes, motos e caminhões de parte dos acampados.
Entre as pessoas que moram
nos barracos, estão o professor Elcio Ojeda, 37, também diretor de
uma escola estadual, e o taxista
João Ferrari, 49, cujo táxi, um
Monza cinza, pode ser visto ao lado de um barraco logo na entrada. Eles também têm casas na cidade, situada a 10 km do local.
Os moradores da cidade que viraram sem-terra contam também
com a assistência de um advogado. O acampamento que começou com 35 pessoas no dia 7 de junho já possui, segundo estimava
feita na semana passada pela Polícia Militar, 1.050 moradores. Na
versão do MST, são 4.500.
Os barracos foram montados às
margens da cerca da fazenda Rodeio, que pertence à Associação
das Famílias para Unificação e
Paz Mundial, instituição fundada
no Brasil pelo reverendo coreano
Sun Myung Moon, 83.
O líder do MST no acampamento, Jair Rodrigues, 31, afirmou
que, em vez de invadir a fazenda,
a estratégia do movimento é
"pressionar" do lado de fora para
desapropriação das terras com o
aumento do número de acampados vindos da cidade.
Rodrigues disse que o MST chega a fazer por dia a inscrição de 30
pessoas interessadas em pertencer ao acampamento. A reportagem constatou na quinta-feira
passada, apesar da chuva, o movimento de caminhões carregados
com folhas de palmeira e lenha
para formação de novos barracos.
Exigências
Não há nenhuma seleção de
candidatos a sem-terra por parte
do MST. Segundo Rodrigues, as
pessoas se inscrevem e ganham
direito de montar o barraco. Exige-se delas apenas que sigam as
normas do acampamento, incluindo não usar drogas, armas
ou ingerir bebidas alcoólicas.
O motorista Antônio Samuel,
31, que deixará o emprego na cidade no dia 17, disse ter sido o primeiro a acampar na frente da fazenda, com mais 34 pessoas.
Segundo ele, depois dessa iniciativa, o grupo resolveu chamar
o MST para montar o acampamento, que ganhou centenas de
adeptos em um mês.
O professor Ojeda (de geografia) afirma que está de férias na escola em que trabalha. Por ser servidor público, disse saber que não
pode receber terra da reforma
agrária. Segundo informou o professor, sua intenção é estudar a situação dos sem-terra para escrever uma dissertação de mestrado.
Taxista e sem-terra
Há oito anos como taxista em
Miranda, Ferrari reclama da falta
de clientes com a redução no número de turistas na cidade situada
no Pantanal.
Apesar de possuir residência na
cidade, Ferrari montou um barraco no acampamento. Ele pretende
ganhar um pedaço de terra para
cultivar alfaces, atividade que já
desenvolve na zona urbana, e
quer voltar "à roça que deixou no
interior de São Paulo em 1988".
A vendedora de salgados Rosilda Cordeiro, 60, fez sua inscrição,
na última quinta à tarde, para pertencer ao acampamento. A Agência Folha acompanhou a inscrição
dela.
Cristiane Coutinho, advogada
da associação do reverendo
Moon, afirma que os acampados
vêm entrando na fazenda para retirar madeira, apesar de uma decisão judicial que proíbe os sem-terra de invadirem a propriedade.
Cristiane afirma que o MST recruta comerciantes e até servidores para fazer parte do acampamento. Em Bonito (a 249 km de
Campo Grande), o MST mantém
invadida desde o dia 12 de maio a
fazenda Aruanã, que também
pertence ao reverendo.
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