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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS BINGOS
Empresário evitou fazer ligação entre ex-ministro da Casa Civil e Waldomiro Diniz, flagrado cobrando propina em vídeo de 2002
Cachoeira poupa Dirceu na CPI dos Bingos
HUDSON CORRÊA
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Em depoimento ontem à CPI
dos Bingos, que evitou convocar o
ex-ministro José Dirceu, o empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, afirmou que o ex-subchefe da Casa
Civil Waldomiro Diniz agia sozinho em esquema de cobrança de
propina. O empresário evitou fazer qualquer ligação entre a atuação de Waldomiro e Dirceu.
Cachoeira acusou o subprocurador da República José Roberto
Santoro de omissão por não ter
investigado a atuação de Waldomiro na renovação de contrato da
CEF (Caixa Econômica Federal)
com a multinacional Gtech.
Senadores de oposição reclamaram de "blindagem" a Dirceu e sinalizaram que Cachoeira estaria
protegendo integrantes do PT.
"Ele está tentando salvar alguém
do governo, responsabilizar somente o Waldomiro para não
chegar no Dirceu", disse o senador Leonel Pavan (PSDB-SC). "O
depoente teve uma preocupação
muito grande em dizer que Waldomiro agia de forma solitária",
declarou o relator da CPI, Garibaldi Alves (PMDB-RN).
Pivô da primeira crise do governo, Waldomiro aparece em vídeo
negociando propina com Cachoeira. A fita foi gravada pelo
próprio empresário, em julho
2002, quando o ex-assessor de
Dirceu presidia a estatal Loterj
(loteria estadual do Rio). Trechos
da gravação foram divulgados na
revista "Época" em 2004.
Ontem no depoimento à CPI,
Cachoeira declarou ter sido procurado Santoro, na véspera da
publicação da revista, para entregar cópia do vídeo.
"Ele [Santoro] queria esquentar
a fita que já tinha em mãos", disse
Cachoeira. Segundo ele, o subprocurador buscava dessa maneira formalizar o recebimento da fita entregue bem antes pelo jornalista Mino Pedrosa, ex-assessor de
Cachoeira. Pedrosa também teria
passado a gravação à imprensa.
O empresário afirmou que tinha feito "uma queixa crime" sobre Waldomiro quase um ano antes sem que Santoro tomasse providências, por isso o acusou de
omissão. "No final de março de
2003 procurei o subprocurador
José Roberto Santoro. Disse que
Waldomiro poderia ter interferido no contrato. Santoro não tomou meu depoimento", afirmou
Cachoeira, que disse ainda, na
época, ter relato ao subprocurador que detinha o vídeo sobre cobrança de propina.
A assessoria de Santoro informou que ele está em férias até
agosto e disse não ter contato com
o subprocurador. A Folha deixou
recado no celular dele.
Segundo o relator da CPI, Dirceu o procurou na quinta-feira
passada e pediu para não ser convocado. Na Câmara, Dirceu negou o contato com o relator da
CPI. A maioria dos integrantes da
comissão justificou a não-convocação de Dirceu pela ausência de
um fato concreto contra ele. "Para
ser chamado, precisa haver um
fato, o que ainda não foi apresentado", disse o senador Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA).
Cachoeira disse que Waldomiro
pediu propina de R$ 100 mil a R$
300 mil em troca de favorecimento em licitação e ainda pediu dinheiro para campanhas eleitorais
de Benedita da Silva (PT), do então candidato do PT ao governo
do Distrito Federal Geraldo Magela e da governadora do Rio, Rosinha Garotinho (PMDB).
"Sobre o Magela, ele mentiu à
imprensa, nunca pediu", afirmou
Cachoeira. O empresário afirmou
acreditar que Waldomiro recolhia a propina para uso próprio.
"Não acredito que esse dinheiro
era para campanha. Era para ele",
afirmou. Como assessor da Casa
Civil, Waldomiro, diz Cachoeira,
intermediou a renovação do contrato entre a Gtech a CEF, no valor
de R$ 25 milhões por mês. Para o
Ministério Público, o negócio prejudicou a estatal.
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