São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS BINGOS

Empresário evitou fazer ligação entre ex-ministro da Casa Civil e Waldomiro Diniz, flagrado cobrando propina em vídeo de 2002

Cachoeira poupa Dirceu na CPI dos Bingos

HUDSON CORRÊA
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Em depoimento ontem à CPI dos Bingos, que evitou convocar o ex-ministro José Dirceu, o empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, afirmou que o ex-subchefe da Casa Civil Waldomiro Diniz agia sozinho em esquema de cobrança de propina. O empresário evitou fazer qualquer ligação entre a atuação de Waldomiro e Dirceu.
Cachoeira acusou o subprocurador da República José Roberto Santoro de omissão por não ter investigado a atuação de Waldomiro na renovação de contrato da CEF (Caixa Econômica Federal) com a multinacional Gtech.
Senadores de oposição reclamaram de "blindagem" a Dirceu e sinalizaram que Cachoeira estaria protegendo integrantes do PT. "Ele está tentando salvar alguém do governo, responsabilizar somente o Waldomiro para não chegar no Dirceu", disse o senador Leonel Pavan (PSDB-SC). "O depoente teve uma preocupação muito grande em dizer que Waldomiro agia de forma solitária", declarou o relator da CPI, Garibaldi Alves (PMDB-RN).
Pivô da primeira crise do governo, Waldomiro aparece em vídeo negociando propina com Cachoeira. A fita foi gravada pelo próprio empresário, em julho 2002, quando o ex-assessor de Dirceu presidia a estatal Loterj (loteria estadual do Rio). Trechos da gravação foram divulgados na revista "Época" em 2004.
Ontem no depoimento à CPI, Cachoeira declarou ter sido procurado Santoro, na véspera da publicação da revista, para entregar cópia do vídeo.
"Ele [Santoro] queria esquentar a fita que já tinha em mãos", disse Cachoeira. Segundo ele, o subprocurador buscava dessa maneira formalizar o recebimento da fita entregue bem antes pelo jornalista Mino Pedrosa, ex-assessor de Cachoeira. Pedrosa também teria passado a gravação à imprensa.
O empresário afirmou que tinha feito "uma queixa crime" sobre Waldomiro quase um ano antes sem que Santoro tomasse providências, por isso o acusou de omissão. "No final de março de 2003 procurei o subprocurador José Roberto Santoro. Disse que Waldomiro poderia ter interferido no contrato. Santoro não tomou meu depoimento", afirmou Cachoeira, que disse ainda, na época, ter relato ao subprocurador que detinha o vídeo sobre cobrança de propina.
A assessoria de Santoro informou que ele está em férias até agosto e disse não ter contato com o subprocurador. A Folha deixou recado no celular dele.
Segundo o relator da CPI, Dirceu o procurou na quinta-feira passada e pediu para não ser convocado. Na Câmara, Dirceu negou o contato com o relator da CPI. A maioria dos integrantes da comissão justificou a não-convocação de Dirceu pela ausência de um fato concreto contra ele. "Para ser chamado, precisa haver um fato, o que ainda não foi apresentado", disse o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Cachoeira disse que Waldomiro pediu propina de R$ 100 mil a R$ 300 mil em troca de favorecimento em licitação e ainda pediu dinheiro para campanhas eleitorais de Benedita da Silva (PT), do então candidato do PT ao governo do Distrito Federal Geraldo Magela e da governadora do Rio, Rosinha Garotinho (PMDB).
"Sobre o Magela, ele mentiu à imprensa, nunca pediu", afirmou Cachoeira. O empresário afirmou acreditar que Waldomiro recolhia a propina para uso próprio. "Não acredito que esse dinheiro era para campanha. Era para ele", afirmou. Como assessor da Casa Civil, Waldomiro, diz Cachoeira, intermediou a renovação do contrato entre a Gtech a CEF, no valor de R$ 25 milhões por mês. Para o Ministério Público, o negócio prejudicou a estatal.


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