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TRANSIÇÃO
Lula diz que não aceita dividir ônus da crise; em nota, partido afirma que acordo põe país "contra a parede"
PT endurece discurso e rejeita "jogo de cena"
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM UMUARAMA
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma semana após aceitar, de
forma inédita, um acordo com o
Fundo Monetário Internacional,
o PT voltou a endurecer o discurso ontem, dia em que ficaram
mais claras as limitações do pacote para conter a alta do dólar.
Ao comentar o convite do presidente Fernando Henrique Cardoso para um diálogo, Luiz Inácio
Lula da Silva disse, em Umuarama (PR), que o PT não está interessado em dividir o ônus da crise. "O presidente da República
tem de assumir a responsabilidade e reconhecer que nem sequer o
acordo do FMI resolveu o problema da fuga de capitais."
Em nota à tarde, o presidente do
PT, José Dirceu, procurou, com
uma sucessão de frases fortes, deixar claro que não se deve esperar
do partido trégua na crítica à política econômica, muito menos um
pacto formal de transição.
No máximo, poderia haver consenso quanto a medidas para estimular exportações e uma minirreforma tributária emergencial.
"Não contem conosco para um
jogo de cena que oculte do povo
brasileiro a necessidade de mudanças fundamentais no rumo do
Brasil", diz Dirceu, na nota.
No mesmo documento, o partido também volta suas baterias
com mais força contra o FMI, a
mesma instituição que mereceu
crítica branda na semana passada, quando Lula aceitou o pacote.
"Encaramos o referido acordo
com o FMI como inevitável. (...)
No entanto, o país não pode ser
posto contra a parede por aqueles
que desejam impedir o povo brasileiro de tomar decisões soberanas a respeito de seu futuro", diz o
partido no documento.
Mais à frente, o mesmo texto retoma verbalização que parecia esquecida pelo partido, ao falar em
"defender a independência do
Brasil" e "não abdicar da soberania para atender aos que pretendem fazer do país um cassino".
O tom duro da nota de ontem
foi pensado para se contrapor às
manifestações da semana passada. Avalia-se internamente que o
partido não pode se dar ao luxo de
parecer suave demais em comparação com Ciro Gomes (PPS).
Lula, que foi informado antecipadamente do teor da nota, disse,
no Paraná, que o PT não tem mais
nada a ceder durante o período de
transição do Palácio do Planalto.
Para o presidenciável, a palavra
do PT sobre o cumprimento de
todos os contratos e a manutenção do superávit primário (receitas menos despesas, excluídos os
gastos com juros) de pelo menos
3,75% do PIB nos próximos três
anos já é "mais do que suficiente".
"O PT não tem mais nada a falar
sobre o assunto. Se o governo quiser seguir o PT, nós já demos nossas orientações, como fazer uma
reforma tributária e uma pressão
aos banqueiros internacionais para não cortar a linha de crédito
dos exportadores brasileiros.
Mais do que isso o governo não
não pode exigir do PT."
Encontro
A proposta de um encontro de
Lula com o presidente FHC foi
primeiro aventada pelo próprio
partido, na chamada "Carta ao
Povo Brasileiro", espécie de pronunciamento que o presidenciável fez em 22 de junho.
Questionado se a reunião poderia manchar seu rótulo de oposição, fazendo com que sua eventual gestão fosse encarada como
uma espécie de "continuísmo",
Lula disse que essa questão não
será polemizada.
"Não tem o problema da imagem. Acho que ninguém no mundo recusa um convite de um presidente da República no momento de uma crise profunda. Só um
irresponsável é que não estaria
disposto a discutir esse assunto."
Em Curitiba, Lula afirmou que
o governo está "inoperante" diante da crise. "Vamos discutir se levamos uma nova proposta para
ver se ele [governo] sai do marasmo em que se encontra."
"Venderam [FHC e equipe econômica" uma estabilidade econômica que não existe hoje], disse.
O resultado, segundo o presidenciável petista, "é o Brasil entregue
à agiotagem internacional".
No final da tarde, quando voltava para o hotel, após participar de
caminhada, o candidato do PT se
deparou com a taça da conquista
do penta pela seleção brasileira. A
Federação Paranaense de Futebol
exibe o troféu desde o dia 10, em
Curitiba. Lula pegou a taça, foi para a portaria e a ergueu na frente
dos militantes que o seguiram até
o hotel, simbolizando um gesto de
vitória. Foi muito aplaudido.
Colaborou a Agência Folha, em Curitiba
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