São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2004

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ANÁLISE

Dúvida é sobre o futuro

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Hoje, podemos afirmar com segurança que as medidas no campo econômico deram certo."
"Passamos por períodos difíceis; porém, estamos começando a viver um momento melhor na vida brasileira. Os investimentos estão acontecendo, a economia está se aquecendo e novos empregos estão surgindo, na cidade e no campo."
"Voltamos a ser um país em crescimento. Podemos sonhar com um futuro melhor, com um país mais digno, mais justo."
As declarações acima, muito semelhantes às de Lula ontem, são de um pronunciamento em cadeia de rádio e TV do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no feriado do Dia da Independência, em 7 de setembro de 2000 -o último ano de crescimento econômico mais vigoroso do país, de 4,36%.
Como agora, há quatro anos a economia brasileira vivia um momento de melhora após um longo período de estagnação. Perto das eleições municipais, o governo exibia os indicadores favoráveis para recuperar popularidade e força política.
Também como agora, havia consenso entre os especialistas de que estava assegurada uma boa expansão percentual do PIB no ano corrente -mesmo porque os patamares anteriores da produção nacional eram muito baixos. A dúvida era se o crescimento se repetiria nos anos seguintes.

Atropelamento
A história é conhecida. O país foi atropelado pela escassez de energia elétrica, pelo colapso da Argentina, pelos atentados terroristas contra os EUA, pela incerteza eleitoral, pela ameaça de volta da inflação. Foram três anos de crise.
Hoje, a rigor, só há uma diferença importante em relação ao cenário econômico de quatro anos atrás: um superávit comercial que, embalado pelo bom momento do comércio global, caminha para os US$ 30 bilhões neste ano, contra um déficit de US$ 700 milhões em 2000.
Se é verdade que os dólares das exportações tornam o país menos vulnerável aos solavancos externos, outros sinais de fragilidade permanecem, alguns em níveis ainda mais elevados. O principal é a dívida pública, que, de 49% do PIB em 2000, saltou para 56%.
A infra-estrutura e os investimentos seguem abaixo do necessário, o que pode levar o crescimento a gerar inflação, ainda mais diante da alta internacional do petróleo. Não por acaso, o Banco Central já fala em elevar os juros novamente.


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