São Paulo, domingo, 14 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÕES

Motorista Benoni Nascimento de Moura presta depoimento à PF, nega versão do publicitário e compromete deputado do PP

Sacador de Valério liga Janene a corretora e "livra" PT de esquema

RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sacador de dinheiro das empresas do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, o motorista Benoni Nascimento de Moura, 34, relacionou, em depoimento à Polícia Federal, o deputado federal José Janene (PP-PR) à empresa corretora de seguros Bônus-Banval, de São Paulo.
O depoimento de Benoni compromete a versão de que a corretora, que recebeu cerca de R$ 2,9 milhões do esquema montado pelo PT e por Valério, seria ligada ao Partido dos Trabalhadores. A informação partira do próprio Valério, em depoimento e papéis entregues à Procuradoria Geral da República.
O motorista, que fez um saque de R$ 255 mil da conta da empresa SMPB no Banco Rural, contou à PF que "duas ou três vezes" levou o deputado Janene e seu assessor João Cláudio de Carvalho Genu da sede da corretora, na avenida Brigadeiro Faria Lima, ao aeroporto de Congonhas.
Benoni, que também disse ter levado uma vez Valério ao mesmo aeroporto, contou que nunca viu ou conhece figuras petistas relacionadas ao esquema, como o ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares, o ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira e o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu.
O motorista contou ter feito um único saque, a pedido do dono da corretora, Enivaldo Quadrado, a quem entregou o dinheiro.

Em mãos
Outros depoimentos de pessoas que fizeram saques no esquema do PT e de Marcos Valério revelaram detalhes sobre a entrega do dinheiro. Anita Leocádia, assessora do deputado Paulo Rocha (PT-PA), ex-líder do PT na Câmara, contou que em julho de 2004 o ele lhe pediu que fosse a São Paulo "e ficasse aguardando o telefonema de uma pessoa".
Em São Paulo, Leocádia recebeu um telefonema de Valério, que pediu que ela fosse ao seu encontro em um hotel, cujo nome disse não se lembrar. No quarto do hotel, ela recebeu R$ 200 mil em dinheiro das mãos do publicitário.
Valério, segundo Leocádia, não disse a origem do dinheiro, e apenas perguntou "como estava" Rocha. Do hotel, ela seguiu para um banco, onde disse ter feito depósitos "a alguns fornecedores".

Pré-campanha
Assessor parlamentar do deputado federal Professor Luizinho (PT-SP), ex-líder do governo na Câmara, desde 1995, José Nilson dos Santos contou que recorreu ao parlamentar para fazer despesas "pré-eleitorais de pré-candidatos" do PT a vereador no município de Santo André (SP).
"[O deputado] ficou de providenciar essas verbas junto ao Partido dos Trabalhadores, tendo conhecimento de que o mesmo conseguiu dinheiro com Delúbio Soares", disse Nilson.
O assessor foi então encontrar-se com o ex-tesoureiro nacional do PT, em dezembro de 2003, na sede do partido. Delúbio pessoalmente teria orientado que Santos fosse à agência do Banco Rural na avenida Paulista. Nilson narra o que se passou: "Encaminhou-se até o local indicado por Delúbio, apresentou-se ao funcionário também indicado por Delúbio, recebendo R$ 20 mil em dinheiro vivo. (...) Recebeu o dinheiro em uma sala de vidro, botou o dinheiro no bolso, assinou um recibo."
Eliane Alves Lopes, 46, funcionária em Brasília da SMPB Comunicação, de Marcos Valério, desde 1983 e atual diretora de operações da empresa, disse ter feito "seis a oito saques" de dinheiro com autorização do publicitário.
Segundo ela, sempre entregava o dinheiro nas mãos de Valério, normalmente no hall de entrada do hotel Blue Tree, de Brasília. Numa das vezes, a entrega do pacote ocorreu em plena banca de revistas "localizada na Esplanada dos Ministérios".

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