São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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ELEIÇÕES 2006/CAMPANHA

Sem a presença de artistas, público em comícios mingua

Campanhas de Lula e de Alckmin têm dificuldade de atrair pessoas em eventos, mesmo oferecendo comida e transporte

Segundo cientista político, apesar de showmício reunir público artificial, candidatos conseguiam transmitir alguma mensagem política

FÁBIO ZANINI
SILVIO NAVARRO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A nova lei eleitoral transformou os comícios, que já foram considerados a alma das disputas presidenciais, em eventos frios, rápidos e pequenos.
No primeiro mês de campanha nas ruas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) tiveram dificuldades para atrair público.
Acabaram optando por muitos eventos fechados e recorreram ao que é chamado eufemisticamente de "mobilização estimulada" -desde passar ônibus arrebanhando militantes a, no caso de aliados dos tucanos em Brasília, dar lanche.
A média de público dos sete primeiros comícios de Lula ficou em 3.600 pessoas, de acordo com levantamentos da Polícia Militar. Os petistas prometiam tirar o atraso em uma série de eventos neste final de semana. Anteontem, Lula reuniu 3.500 pessoas em Salvador e 5.000 em Fortaleza, segundo a PM. Alckmin se saiu melhor, com média de 9.600 até agora.
São sombras distantes dos números registrados em 2002. Lula chegou a colocar 150 mil pessoas em Salvador. José Serra, o tucano de então, pôs 120 mil em Ananindeua (PA).
Há consenso entre os partidos de que a responsável pela decadência dos comícios é a proibição de artistas. Para baratear campanhas, a nova legislação vetou showmícios.
Em 2002, os megacomícios de Lula pelo Brasil eram "escada" para shows da dupla sertaneja Zezé di Camargo & Luciano, que entrava no palco após os discursos políticos. Serra arrebanhava multidões com o grupo adolescente KLB.
Entre os coordenadores das campanhas de Lula e Alckmin, o discurso é de que a nova lei eleitoral é positiva. "O fim do showmício favorece candidatos mais pobres, é mais discussão", diz o coordenador da campanha tucana, Sérgio Guerra.
Mas existe a preocupação, entre tucanos e petistas, em levar mais gente para os comícios, que costumam ser vistos como termômetros das campanhas. "Temos o desafio de bolar novas estratégias de atingir a militância", diz João Felício, responsável pela mobilização na campanha de Lula.
Para o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, os showmícios atraíam um público "artificial", mas que ainda assim acabava assimilando algo da mensagem política. "Ainda que o comparecimento fosse devido à música, o recado dos candidatos era recebido." Ele prevê um teto de no máximo 30 mil pessoas, com a nova realidade. "Em cidades do interior, os comícios continuarão a ter certa importância, até como evento social", diz.
Em 24 de julho, prevendo problemas com o quórum de um evento em Brasília com Lula, o PT do Distrito Federal correu ônibus pelas cidades satélite com o modesto objetivo de arrebanhar 5.000 pessoas. Conseguiu só 2.800.
A campanha de Alckmin tem optado por reuniões em auditórios e caminhadas em locais que atraem público, como feiras livres e praças. Dois grandes comícios ocorreram no Distrito Federal, onde o tucano deparou-se com multidões de 30 mil pessoas: em Taguatinga, com militantes do ex-governador Joaquim Roriz (PMDB), e no Parque da Cidade, no ato com José Roberto Arruda (PFL). Nos dois casos, os militantes ganharam lanche e transporte.


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