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SUCESSÃO
Candidato petista diz que processará emissora de TV que fez reportagem sobre a compra de seu apartamento
Denúncia contra Lula paralisa campanha
da Reportagem Local
As acusações de irregularidades
em operação envolvendo a compra do apartamento do candidato
a presidente Luiz Inácio Lula da
Silva paralisaram a campanha do
petista ontem.
Lula passou o dia tentando se explicar, mas se recusou a entrar em
detalhes sobre a aquisição da cobertura em São Bernardo para a
qual está em mudança.
Reportagem exibida anteontem
pelo "Jornal da Band", da Rede
Bandeirantes, mostrou cheque depositado pelo advogado Roberto
Teixeira, compadre de Lula, na
conta do petista no valor de R$ 10
mil. Segundo a emissora, o cheque
seria "resultado de uma transação
suspeita que envolve Teixeira, empresários e o então prefeito petista
de São Bernardo".
O cheque poderia "estar na origem do apartamento que o candidato petista comprou e para onde
se muda daqui a alguns dias",
conforme a Bandeirantes. Foi depositado em julho de 95, no mesmo período em que Lula comprou
seu apartamento.
Custo
A reportagem da Bandeirantes
afirma que "Lula pagou pouco
pelo imóvel porque ele foi construído por uma construtora que
tem relações íntimas com Roberto
Teixeira".
A construtora Dalmiro Lorenzoni teria se beneficiado pela suspensão de processo de desapropriação de um terreno pela Prefeitura de São Bernardo, então administrada pelo PT (veja quadro nesta página).
Lula acusou a Rede Bandeirantes
de estar a "serviço de outra candidatura". "A matéria da Bandeirantes é o samba do crioulo doido.
Onde querem chegar? Querem a
vinculação de um cheque depositado na minha conta quando todo
mundo sabe que vendi um carro
Omega em quatro parcelas de R$
10 mil", disse Lula.
O candidato petista à Presidência da República não foi claro em
suas explicações. Primeiro afirmou desconhecer se o pagamento
do carro havia sido feito em cheque.
"Nunca me preocupei se o cara
ia pagar com cheque ou não. Ele
tinha de depositar na minha conta
a prestação equivalente ao valor
do carro e não quero saber de
quem era o cheque", disse.
Depois, Lula afirmou que não
havia surpresa alguma com o aparecimento do cheque. "Foi um só?
Tem quatro cheques de R$ 10
mil", declarou.
Omega
De acordo com o candidato, o
dinheiro resultante da venda do
Omega serviu para dar a entrada
no pagamento do apartamento.
"Fazer ilações a partir daí é imprensa marrom, que está a serviço
do adversário", afirmou Lula.
Em nota divulgada no começo
da noite, assinada por José Dirceu,
presidente do PT, e Tarso Genro,
coordenador jurídico da campanha petista, o partido anunciou
que pedirá direito de resposta à
Rede Bandeirantes, primeiro diretamente e, depois, se necessário,
entrará com ação na Justiça.
Os petistas informam que Lula
autorizou os advogados João Roberto Egydio Piza Fontes e Márcio
Thomaz Bastos a "tomarem medidas judiciais de natureza penal e
também a solicitarem o ressarcimento por danos morais".
A nota afirma que, em 1995, Lula
vendeu um automóvel da marca
Omega para Roberto Teixeira, que
o pagou em quatro parcelas.
"Uma delas foi paga pelo advogado com cheque de terceiro, depositado na conta de Lula por meio
de endosso", diz a nota.
Na entrevista coletiva, Lula se
referiu à pessoa que comprou o
Omega como "o cara". Não disse que era Roberto Teixeira, o que
só foi divulgado à noite na nota do
PT.
Irmãos
O cheque de R$ 10 mil que apareceu na conta de Lula é de Sérgio
Lorenzoni, irmão de Dalmiro Lorenzoni, proprietário da empreiteira supostamente beneficiada na
paralisação do processo de desapropriação pela então prefeitura
petista de São Bernardo. Lula afirmou ser amigo de Dalmiro.
Na entrevista, ao perceber a participação de um repórter da Rede
Bandeirantes, Lula interrompeu
sua fala e, num gesto brusco, pegou o microfone do repórter,
abaixou-o e afirmou que não daria
declarações à emissora.
"Com a Bandeirantes a conversa vai ser na Justiça", disse.
Mesmo com os repórteres argumentando que uma simples explicação sobre a maneira utilizada
para comprar o apartamento poderia esclarecer o assunto, Lula
não quis detalhar sua participação
no caso.
"Minha vida está declarada no
Imposto de Renda", afirmou. "O
que não é possível é esquentar
uma marmita como a Bandeirantes fez. Isso tudo já foi publicado
pelo "Jornal da Tarde', em julho
do ano passado", acrescentou.
Lula insistiu em que não acredita
em prejuízo eleitoral gerado pelo
caso. Em todas as frases, deixou
transparecer que encara o episódio como uma questão pessoal entre ele e a emissora.
Lula conversou com os jornalistas brasileiros depois de uma entrevista coletiva concedida a correspondentes de veículos de comunicação estrangeiros. Nenhum
dos correspondentes fez perguntas sobre a reportagem da Rede
Bandeirantes.
Teixeira
Ademar Gianini, advogado de
Roberto Teixeira, afirmou ontem
que seu cliente não tinha informações privilegiadas sobre o possível
cancelamento da desapropriação.
"Como poderia haver informação privilegiada, se a prefeitura
iria desapropriar 40 áreas? Informação privilegiada para 40 proprietários? Isso é ridículo. Desde
que esses terrenos foram declarados de utilidade pública, em 1975,
as prefeituras nunca pagaram, então as pessoas lutavam para ter o
dinheiro ou reverter a desapropriação", disse Gianini.
Ele informou ainda que o cheque de R$ 10 mil, depositado na
conta de Lula e assinado por Sérgio Lorenzoni, foi uma das quatro
parcelas do pagamento do Omega
que o petista vendeu para o compadre.
"Ter encontrado esse cheque na
conta do Lula é prova de boa-fé",
disse. Ele afirmou que os R$ 10 mil
foram pagos por Dalmiro a Teixeira porque o empresário estava devendo honorários a seu advogado.
A Construtora Dalmiro começou a erguer os prédios no terreno
em São Bernardo, mas entrou em
falência e, com a ajuda de Teixeira, passou a obra para outra empresa que assumiu os débitos: a
Perfil, também cliente do compadre de Lula.
Gianini diz que não vê nada demais nessa triangulação. "Se você
tem um cliente que está numa situação ruim e outro que está bem,
você faz essa conciliação."
Bandeirantes
O diretor-geral de jornalismo da
Rede Bandeirantes, José Antônio
Severo, 55, negou que a emissora
esteja "a serviço de outra candidatura" -como afirmou Lula.
"Não tenho nada contra o Lula.
A Bandeirantes não favorece a
candidatura de Fernando Henrique Cardoso ou de qualquer outro", disse Severo.
Segundo ele, um exemplo de
isenção da rede é uma entrevista
que Lula deu ao programa "Fogo
Cruzado", de Paulo Henrique
Amorim, no início de maio.
"A entrevista teve grande repercussão e o pessoal da campanha
do Lula nos disse que foi a melhor
oportunidade que Lula teve para
expor suas idéias."
"Se o Lula tiver algo a dizer sobre o caso, é só ele vir aqui que a
gente bota ele no ar. Ele pode falar
o tempo que necessitar para explicar o caso", disse Severo.
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