São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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CAMINHONAÇO
Proprietários de terra do RS contratam caminhoneiros para levar suas máquinas até Brasília
Grande produtor "terceiriza" protesto

Evelson de Freitas/Folha Imagem
Os cerca de 300 caminhões que participam da manifestação dos produtores rurais passam por Londrina, Paraná


ROBERTO COSSO
enviado a Guarapuava (PR)

A maioria dos grandes proprietários de terra do Rio Grande do Sul não participa da caravana a Brasília. Eles contrataram caminhoneiros para levar máquinas e engrossar o protesto.
Para poupar tempo, os agricultores sairão hoje à noite de várias cidades gaúchas em 32 ônibus fretados, que além de mais confortáveis são mais rápidos e transitam durante a noite.
Cerca de 200 caminhões deixaram o Estado na quinta-feira de manhã e iniciaram uma rota por cidades de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais.
Osmar Lagemann, 54, foi contratado em Santa Bárbara do Sul (RS) para levar duas colheitadeiras até uma fazenda em Luziânia (GO), por R$ 1.250.
"O fazendeiro disse que eu tinha de ir com a caravana e ficar em Brasília até sábado. Só depois vou entregar as máquinas", afirma Lagemann, que participou da paralisação dos caminhoneiros no mês passado. Ele se diz favorável à manifestação dos agricultores. "O fazendeiro que me contratou vai de ônibus no sábado (hoje)."
O caminhoneiro Waldir Lippert, 35, também participa da caravana dos agricultores do Sul, apesar de não ser produtor rural. Ele arrendou suas terras e sustenta a família com o caminhão, que ontem levava um trator e duas semeadeiras para Brasília.
"Fiz um acordo com o Sindicato Rural de Carazinho (RS): peguei as máquinas emprestadas de dois vizinhos e o sindicato vai pagar meus custos. Tenho nota fiscal de tudo", conta Lippert.
A justificativa apresentada pelas lideranças do movimento para o fato é que os produtores tinham compromissos importantes em suas cidades e só por isso não viajaram com a caravana.
Até o presidente da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), Carlos Rivaci Sperotto, ficou em Porto Alegre, sob o pretexto de cuidar das invasões de terra do Estado.
Também no Pará, onde começaram ontem as movimentações dos caminhões que farão parte da manifestação dos agricultores, alguns grupos de produtores fretaram ônibus para sair hoje em direção a Brasília.
Os agricultores pretendem tomar com máquinas e equipamentos a Esplanada dos Ministérios, a partir das 22h de segunda-feira, e manter entre 10 mil e 15 mil pessoas acampadas lá até o próximo sábado.
Eles reivindicam soluções do governo para três problemas: falta de renda do produtor rural, desrespeito ao direito de propriedade e endividamento agrícola.

Paraná
A rota sul da caravana dos caminhoneiros percorreu ontem o trecho entre as cidades paranaenses de Guarapuava e Londrina.
Em Pitanga, os caminhões passaram na frente de um pequeno acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Muitos agricultores buzinaram e cumprimentaram os sem-terra, que responderam com alegria às gentilezas. Hoje eles almoçam em Presidente Prudente (SP) e vão até São José do Rio Preto (SP). Amanhã, o grupo segue para Uberlândia (MG).


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