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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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AME-O OU AME-O

Segundo Gushiken, objetivo é recuperar "auto-estima" nacional

Marketing de Lula busca estimular o patriotismo

WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A estratégia de comunicação do governo Luiz Inácio Lula da Silva vem usando a exaltação de símbolos e datas nacionais, como forma de estimular o patriotismo na população. Essa política, que se nota em diversas ações do governo e do presidente, culminou até agora na superprodução da comemoração do 7 de Setembro.
Nessa data, além de promover uma festa para 50 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, Lula assinou decreto que sugere o hasteamento da bandeira brasileira em escolas, de forma solene, às segundas ou sextas. A norma sobre o hasteamento já existia, mas havia caído no esquecimento.
As duas torres do Congresso Nacional, de 28 andares, estão cobertas com a bandeira do Brasil. No alto da bandeira, lê-se "Brasil Alfabetizado", o nome programa de alfabetização em massa lançado no último dia 8 pelo governo.
"Popularizar o 7 de Setembro significa isso que foi visto na Esplanada dos Ministérios. É entregar a festa ao povo", afirmou o ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica. "Nossa intenção é que, nos próximos anos, a festa possa ter ainda mais conteúdos populares. Também temos o desejo de que essa apropriação da data pela população possa se alastrar por todo o país", acrescentou.
Os governos militares exploraram o ufanismo com campanhas do tipo "Brasil, ame-o ou deixe-o", "O petróleo é nosso" e uso de músicas como "Eu te amo, meu Brasil", numa tentativa de esvaziar os grupos de esquerda que eram associados ao comunismo.
O objetivo era associar o regime militar à "grandeza do país", buscando a simpatia da população. Ao mesmo tempo, tentava passar a imagem de que a esquerda era contra o país. Gushiken faz questão de enfatizar que o governo Lula não é ufanista. Segundo ele, o sentimento de nação "tem tudo a ver" com patriotismo, mas em nenhuma circunstância significa qualquer tipo de nacionalismo xenófobo. "Muito menos tem qualquer sentido ufanista ou de apelo de marketing. Trata-se um patriotismo sadio."
Gushiken disse que "o objetivo de popularizar as comemorações e facilitar o acesso da população é permitir que o cidadão se aproprie das datas nacionais, já que ele é o verdadeiro "dono" de todas elas". Essa determinação, disse, partiu de Lula. Segundo o ministro, um dos objetivos do governo é resgatar o "sentimento de nação" e levar os brasileiros a recuperar a auto-estima. "O processo de mudanças desencadeado no país a partir da posse deste governo depende da participação de todos. Queremos que cada cidadão acredite que devemos e podemos construir um país melhor."
O uso da bandeira é frequente no marketing oficial, como é o caso da logomarca do principal programa social do governo Lula, o Fome Zero. Assinada pelo publicitário Duda Mendonça, a logomarca mostra talheres sobre o círculo azul da bandeira, transformado em prato. Duda doou esse trabalho ao governo no início do ano, assim como a logomarca do próprio governo -"Brasil - Um País de Todos", que chama a atenção pela profusão de cores. Nessa logomarca, a bandeira está desenhada na letra A.
Paradoxalmente, a Presidência pretende retirar a foto da bandeira que aparece atrás do porta-voz de Lula, André Singer, em suas entrevistas no Planalto. Ela deverá ser trocada pela logomarca do governo, por ser considerada um símbolo do governo anterior.



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