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CANDIDATOS NA FOLHA/MALUF
Em sabatina realizada ontem pela Folha, ex-prefeito faz ataques a Serra, promete manter vários programas da atual administração municipal em SP e diz que presidente só peca por "juros altos"
Maluf poupa Marta e afirma que Lula o inspira a disputar
Jorge/Araújo/Folha Imagem
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Paulo Maluf durante sabatina realizada pela Folha |
JOSIAS DE SOUZA
COLUNISTA DA FOLHA
Paulo Maluf (PP) disse ontem que participa da campanha à Prefeitura
de São Paulo tendo como "modelo" o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT). Referindo-se à sua própria trajetória -sete derrotas nas oito eleições majoritárias que já disputou-, Maluf comparou: "O Lula é
um modelo pra mim. Ele perdeu todas as eleições e ganhou uma, para
presidente [...] Só perde quem não põe o time em campo". Por isso o ex-prefeito afirma que concorre novamente.
"Sou candidato à melhor biografia de São Paulo." Em sabatina promovida pela Folha, Maluf dispensou à "oponente" Marta Suplicy (PT) tratamento de aliado. Evitou deliberadamente atacá-la.
Prometeu manter vários programas da atual gestão municipal.
Reservou as críticas a outro oponente, José Serra (PSDB).
Ex-adversário histórico do PT
na capital paulista, Maluf soou irreconhecível. Derramou-se em
elogios ao presidente da República. "O Lula de 82 era o Lula das
greves. O Lula de hoje é um homem maduro, está fazendo um
governo honesto [...] Veio daquela esquerda para o centro."
Maluf mencionou uma única
divergência em relação à administração Lula: "Só discordo das
taxas de juros". Em relação à gestão petista em São Paulo, realçou
os programas que, iniciados sob
Marta, serão mantidos caso vença
as eleições. Citou, por exemplo, o
bilhete único, ("vou aumentar de
duas para três horas"), o CEU
("vou construir cem escolas") e a
distribuição de uniformes escolares ("farei com que sejam fabricados em São Paulo, dando emprego aqui na cidade").
Quanto a Serra, Maluf disse que,
como ministro do Planejamento
do governo FHC, ele ajudou a elaborar a política de juros altos que
tonificou nos últimos anos a dívida pública do município de São
Paulo. Acusou-o, de resto, de
"mentir" no programa eleitoral
gratuito da televisão. Serra estaria
avocando para si a autoria de
obras que, segundo Maluf, foram
iniciadas em gestões suas.
O candidato do PP foi sabatinado das 15h10 às 17h, no Teatro Folha (Shopping Pátio Higienópolis). Respondeu a perguntas do
psicanalista Contardo Calligaris
(colunista da Ilustrada) e pelos
jornalistas Clóvis Rossi e Gilberto
Dimenstein (colunistas e membros do Conselho Editorial da Folha), Renata Lo Prete (editora do
"Painel") e Nilson Camargo (editor responsável do jornal "Agora". Respondeu também a perguntas formuladas pela platéia.
RETOMADA DO CRESCIMENTO
O apreço de Maluf pelo ex-adversário político Lula pode ser resumido numa frase pronunciada:
"Eu hoje votaria nele para presidente da República". O ex-prefeito disse que não precisa ler os jornais para detectar a retomada do
desenvolvimento econômico.
Maluf disse que gere os negócios da família por meio de telefonemas aos filhos. "Ligo diariamente. O que eles me dizem é que,
para setembro e outubro, já não
temos mercadorias em estoque
para entregar. Tudo foi vendido."
"Só tenho uma discordância
com o Lula e o [Antonio] Palocci:
a taxa de juros alta." Juros "pornográficos", definiu Maluf. "Iniciados no tempo em que o Serra
era ministro do Planejamento e
Pedro Malan, ministro da Fazenda". O ex-prefeito recusou-se a estender as críticas a Palocci.
Maluf compara o cenário atual
com a atmosfera vivida no governo de Fernando Henrique Cardoso. "Fui prefeito há sete anos, não
faz muito tempo. A economia
brasileira era a oitava maior do
mundo. Hoje é a 15ª. Fomos ultrapassados pela China, pela Coréia,
pela Espanha e até pelo México,
que tinha uma economia menor
do que a do Estado de São Paulo."
TRAMPOLIM
Maluf apresentou-se como único candidato que não enxerga a
Prefeitura de São Paulo como entreposto para futuras aventuras
políticas. "Tenho 73 anos. Só o
que me permito é ter o desejo a
mais uma reeleição. Quero chegar
aqui aos 77 anos e pedir voto para
mais um mandato." Quanto aos
adversários, "estão olhando a prefeitura como trampolim para o
governo do Estado e para a Presidência da República".
JOSÉ SERRA
Sempre que se referiu a Marta,
Maluf a poupou. Evitou até mesmo atribuir-lhe responsabilidade
pelo incremento da dívida do município de São Paulo. "A prefeita
não tem culpa pelos juros." Esquivou-se de comentar novos empréstimos contraídos sob Marta.
Mas não se esqueceu de desencavar a passagem de Serra por Brasília, durante a presidência de FHC.
Embora Serra tenha se notabilizado pelo contraponto que exercia
no comando econômico, Maluf
equiparou-o a Pedro Malan.
"O que elevou a dívida de São
Paulo foi o fato de que, em 1995,
entrou o governo tucano. Malan
na Fazenda e Serra no Planejamento. Eles só beneficiaram os
banqueiros. Instituíram juros
pornográficos."
E repetiu: "A prefeita não tem
culpa da política implantada pelo
Serra; 95% da dívida vem do custo
financeiro do Serra e do Malan.
Uns 5% ela [Marta] fez". Economizou nas referências a Palocci:
"O erro dele foi continuar a política do Malan e do Serra".
Seu alvo era mesmo Serra. Até a
passagem de Serra pelo Ministério da Saúde, da qual o ex-ministro se orgulha, Maluf considerou
ruim. Atirou também contra o vice da chapa adversária: "O Serra
foi um dos que mais criticaram o
Celso Pitta. E foi buscar para vice
o braço direito do Pitta, secretário
da gestão dele, Gilberto Kassab".
PESQUISAS ELEITORAIS
Provocado a comentar a desidratação de seus índices nas pesquisas de intenção de voto (caiu
de 16% para 12%, segundo a última sondagem realizada pelo Datafolha), Maluf declarou: "Fui o
melhor prefeito de São Paulo. A
aprovação da minha última gestão, 58%, foi atestada pelo próprio
Datafolha. Se não estou melhor
nas pesquisas, algo está errado.
Ou está errado o Datafolha ou está errada a minha campanha".
O ex-prefeito acha, de resto, que
a imprensa não dispensa à sua
candidatura o tratamento que ela
merece. Considera-se vítima de
"preconceito". Mencionando a
coluna do ombudsman da Folha,
Marcelo Beraba, insinuou que o
jornal privilegia José Serra.
SEMELHANÇAS COM MARTA
Maluf foi instado também a se
pronunciar a respeito de comentários feitos por Luiza Erundina
(PSB), primeira candidata a comparecer, na sexta-feira, à série de
sabatinas da Folha. Erundina disse que Marta realiza uma gestão
que a faz parecida com Maluf.
"No bom sentido, se ela se parece comigo, sai ganhando. Tenho
um acervo de serviços prestados à
cidade de São Paulo. Acordo cedo
e trabalho até tarde."
DUDA MENDONÇA
Maluf se refere ao publicitário
que o serviu no passado e que hoje toca a campanha de Marta Suplicy como um "excepcional comunicador". "Em 92, me ajudou a
ganhar do melhor candidato do
PT, o Eduardo Suplicy." A julgar
pelas alfinetadas, o ex-prefeito
guarda certa mágoa de Duda: "Ele
também é bom marqueteiro de si
mesmo. Um dia disse a ele que ele
próprio deveria ser candidato".
Maluf sugere que Duda, dono
de um pavio curto, pode vir a ter
problemas com sua cliente atual:
"A personalidade da prefeita é
forte. Não sei se o Duda consegue
segurar". A campanha de Marta,
segundo Maluf, é "muito boa".
OBRAS
No discurso que fez nos dez primeiros minutos, Maluf referiu-se
com orgulho às obras que realizou na cidade. "Fui prefeito duas
vezes. Não existe nessa cidade
uma única obra importante construída nos últimos 25 anos que
não tenha minha participação."
MINISTÉRIO PÚBLICO
Afora Serra e seus aliados tucanos, só a imprensa e "certos
membros do Ministério Público"
mereceram referências ácidas.
Deu-se no momento em que
respondia a uma pergunta sobre a
acusação de superfaturamento de
obras que realizou como prefeito.
Mencionaram especialmente o
túnel Ayrton Senna e a avenida
Água Espraiada (atual avenida
Jornalista Roberto Marinho).
"Minhas contas estão todas
aprovadas, com louvor, pelo Tribunal de Contas do Município."
Maluf prosseguiu: "Pior do que
as mentiras, só as meias-verdades. O túnel Ayrton Senna foi
contratado na gestão de Jânio
Quadros. Vieram os planos Verão, Collor e Real. Os juros foram
à Lua. Peguei o contrato e terminei. O que não admito é ser julgado e condenado por procuradores que, numa relação incestuosa
com a imprensa, ficam abastecendo o noticiário contra mim".
DINHEIRO NA SUÍÇA
Em resposta a outra pergunta,
Maluf repetiu que não tem dinheiro fora do país. Lembrado de
que documentos enviados ao Brasil pelo governo da Suíça indicam
o contrário, reagiu: "Não vi esses
documentos. Se você viu, cometeu uma ilegalidade. Não poderia
ter acesso ao processo".
Em tom de desafio, disse: "Se forem verificar, verão que só perdi
patrimônio durante a minha vida
pública. Moro na mesma casa há
40 anos, não tenho estação de rádio, emissora de TV nem jornal".
Maluf concordou com a constatação de que, curiosamente, os
demais candidatos à Prefeitura de
São Paulo não exploram em suas
campanhas as acusações patrimoniais que lhe são feitas pelo
Ministério Público. "Se não me
acusam é porque são mais honestos do que parte da imprensa."
PECADOS
Maluf disse que o julgamento
que interessa a ele não é o dos promotores nem o dos jornalistas.
"Tenho certeza de que, chegando
lá em cima, Deus vai computar os
pecados que tenho, pequenos, e
as minhas virtudes. Fará o balanço e me deixará entrar." Um dos
inquiridores da platéia quis saber
quais seriam os pecados pequenos, já que os grandes Maluf decerto não se disporia a revelar.
"Não posso dizer. Mas a Sylvia,
minha mulher, me perdoa porque
sou um ótimo marido."
SEGURANÇA
O melhor remédio para atenuar
o mal da insegurança urbana é, na
opinião de Maluf, o aumento da
oferta de empregos. "Ninguém
nasce bandido", disse o ex-prefeito. "Quem transforma o habitante
da cidade em bandido são os governos e a sociedade."
No Brasil, a responsabilidade
pela segurança pública é do governador do Estado, não do prefeito. Maluf disse que a legislação
precisa mudar. Em cidades com
mais de 6 milhões de habitantes, a
"segurança deveria ser responsabilidade dos prefeitos".
MENORES INFRATORES
Maluf posicionou-se a favor da
redução da maioridade penal de
18 para 16 anos. Ele acha que adolescentes que praticam crimes
"hediondos" devem ser julgados e
punidos como adultos. Acha que
as punições mais draconianas poderiam eventualmente ser estendidas até a garotos de 14 anos.
MALUF POR MALUF
Questionado se malufismo é o
mesmo que populismo de direita,
refletiu: "O que é Paulo Maluf? É
trabalho. Trabalho muito, enxugo
orçamentos e realizo bastante. Se
atender ao povo desse jeito é populismo, então sou populista. Se
fazer funcionar as coisas é ser de
direita, então eu sou de direita".
FOLHA
Ao agradecer à "oportunidade
democrática" do convite para
participar da série de sabatinas,
Maluf afirmou que é um admirador de Octavio Frias de Oliveira,
publisher da Folha: "A Folha tem
demonstrado nesses últimos
anos, com seus acertos e seus erros, que é um jornal que procura o
perfeccionismo, por meio de seu
"Manual de Redação", e por meio
de pessoas com as quais tenho o
privilégio de conviver. Como o sr.
Frias, que é um exemplo para todos nós. Um homem que aos 92
anos de idade não se aposenta,
trabalha todos os dias".
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