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MINISTÉRIO PÚBLICO
Juiz diz que limitação pode comprometer isenção das apurações
Para espanhol, órgão precisa ter liberdade para investigar
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A limitação do Ministério Público nas tarefas investigativas pode
ser um empecilho para a isenção
nas apurações criminais, com
conseqüências até mesmo para o
combate ao terrorismo.
A opinião é do juiz espanhol
Baltasar Garzón, 48, que se notabilizou em 1998 por ter pedido a
extradição de Augusto Pinochet,
acusando-o de genocídio, terror e
tortura contra cidadãos espanhóis. Por causa do pedido, o ex-ditador chileno chegou a ficar detido 503 dias em Londres, mas a
Justiça britânica o livrou da extradição alegando razões humanitárias e de saúde.
Garzón concedeu entrevista à
Agência Folha ontem à tarde, durante a 4ª Conferência Executiva
de Segurança Pública para a América do Sul, da Associação Internacional de Chefes de Polícia.
"É absolutamente essencial que
o Ministério Público possa desenvolver suas investigações e a direção dessas investigações, com um
controle sobre a investigação policial", disse ele.
"Na Europa é assim. Seria impensável que um integrante do
Ministério Público não pudesse
dirigir as investigações policiais.
Um juiz de instrução, como é o
meu caso, que seria o equivalente
ao fiscal federal, sempre tem um
controle e uma direção sobre o
que é investigado", disse.
Na sua opinião, é preciso que
um órgão independente conduza
as investigações. "Isso é fundamental para realçar a separação
de poderes em um Estado de Direito, democrático. Não pode ficar apenas nas mãos do Poder
Executivo, até porque pode ser o
próprio Poder Executivo que esteja sendo investigado."
Sobre se o afastamento do Ministério Público Federal dos casos
de lavagem de dinheiro -aos
quais tem se dedicado- prejudicaria a apuração de atos terroristas e das suas eventuais conexões
na área da Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai), Garzón
foi enfático: "Não restam dúvidas
de que sim, seria prejudicial".
Juiz da Audiência Nacional da
Espanha, especializado em áreas
como terrorismo, narcotráfico,
lavagem de dinheiro, crime organizado e extradição, Garzón afirmou que a atribuição investigativa exclusiva da polícia a coloca
sob controle do Executivo.
O juiz defendeu um possível
controle externo do Judiciário no
Brasil, mas com ressalvas:
"Na Espanha, há um conselho
geral do Judiciário. É um organismo autônomo, que não tem caráter jurisdicional, mas faculdades
administrativas e de políticas de
nomeações e disciplinares. Se a
iniciativa que no Brasil se tenta
desenvolver é assim, não vejo
problemas".
Sobre um dos temas pelos quais
mais se tornou conhecido, os
atentados aos direitos humanos
nos regimes militares na América
Latina, ele elogiou os atuais governantes do continente, sobretudo
o presidente argentino, Néstor
Kirchner, pela colaboração.
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