São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Tráfico monitora Alckmin em favela

Visita de candidato do PSDB à Rocinha é motivo de troca de mensagens por rádio entre traficantes

"Se tiver alguma coisa, bala vai comer!", diz um deles; chefe de associação diz que não houve negociação para incursão tucana no morro


Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) acena enquanto é fotografado em laje na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro


RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Monitorado o tempo todo por soldados do tráfico, que trocavam informações por rádio-comunicadores, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, fez uma visita de quase duas horas à favela da Rocinha -considerada pela polícia o principal entreposto de drogas do Rio de Janeiro.
Na Rocinha, Alckmin passou por becos, vielas e locais que, na descrição de moradores, são normalmente perigosos e dominados por traficantes. Estava acompanhado de William de Oliveira, presidente da União Pró-Melhoramentos da Rocinha -preso ano passado, suspeito de associação para o tráfico. Nenhum traficante armado foi visto no caminho.
Desde a chegada, a movimentação da comitiva do candidato foi acompanhada por "olheiros", que relatavam por rádio o que acontecia:
- Base: fala, da Porteira (do Inferno, região da Rocinha)!
- Tá dominado. Bagulho de deputado, comboio de deputado. Se tiver alguma coisa, bala vai comer!
Apesar do monitoramento dos criminosos, não houve nenhum incidente durante a visita. Pela comunicação ao rádio, os traficantes nem sabiam ao certo quem era o visitante. "Deputado Geraldo de não sei que lá com presidente da associação!" Outro disse depois: "Vários deputados subindo... Montão de bandeirinha amarela."
A vigilância era feita até de motocicleta. Na parte alta do morro, quando Alckmin já descia por vielas, um rapaz na garupa de uma moto, pistola na cintura e vestindo colete à prova de balas, alertava ao rádio-comunicador: "Estrada da Gávea: tranqüilo!"

Sem reforço
O chefe da equipe de segurança de Alckmin, formada por policiais federais, disse que não houve reforço pelo fato de visitarem a Rocinha. Ao ouvir que o grupo foi monitorado, não pareceu surpreso: "Normal."
Questionado pela Folha logo no início da visita, William de Oliveira já afirmara que não tinha havido nenhum tipo de aviso ou negociação da associação com traficantes para permitir a ida do político à favela.
"Não precisou conversar com ninguém. A mídia divulga, e as pessoas sabem. A comunidade é tranqüila, e a Rocinha sempre foi uma "mãe", recebendo bem as autoridades. O tráfico não se impõe. Autoridade nenhuma deve ser impedida de andar em nenhum lugar; aliás, nem pessoa comum", disse.
Segundo ele, a associação pediria ao candidato projetos de urbanização e planejamento familiar e uma vila olímpica. Oliveira reclamou que Lula não esteve nenhuma vez na Rocinha durante o mandato. "Houve três oportunidades em que quase veio, mas sempre cancelou aos 45 minutos do segundo tempo", disse. Em março do ano passado, Lula desmarcou visita à favela 10 dias após a prisão de Oliveira.
Em uma laje no alto do morro, localizado na rica zona sul carioca, Alckmin criticou o lançamento, às vésperas da eleição, de programa de habitação popular da Caixa Econômica Federal, feito ontem em Brasília com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O PT ficou quatro anos e não fez nada. A Caixa Econômica estava mais preocupada em violar o sigilo de um nordestino pobre, o Francenildo, rapaz honesto", disse, em referência à quebra ilegal de sigilo do caseiro Francenildo Costa, pela qual o ex-ministro Antonio Palocci foi indiciado.


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