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França não transferirá 100% da tecnologia, diz especialista
Alguns sistemas "mais sensíveis" jamais serão exportados, afirma Renaud Bellais
Para economista, contrato com o Brasil é fundamental para que a Dassault, que produz o avião, mantenha a fabricação dos caças Rafale
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
A proposta francesa de transferência total de tecnologia ao
Brasil nas negociações para a
compra de 36 caças Rafale deve
ser vista com cautela, na opinião do economista Renaud
Bellais, da Comissão de Defesa
da Fundação Concorde e especialista em indústria de defesa.
Segundo ele, é provável que o
governo francês e a Dassault,
empresa que fabrica os caças,
concordem em transferir 100%
do conhecimento necessário
para a linha de produção dos
aviões, como processos de certificação, homologação e validação de etapas da produção-
mas dificilmente vão revelar as
"tecnologias mais sensíveis ".
"Um avião tem diferentes
tecnologias, como aerodinâmica, estrutura, sistemas embarcados etc. O importante é saber
a que tipo de tecnologia o governo francês se refere. Por
exemplo, existem tecnologias
de radar que nunca serão exportadas ", argumenta.
Para o especialista, a regra
seguida pelo Ministério da Defesa é que seus aviões estejam
sempre equipados com sistemas mais avançados que os que
integram as unidades exportadas. "O objetivo é que os sistemas utilizados nos aviões do
Exército francês sejam mais
eficazes do que aqueles integrados nos aviões exportados para
não nos encontrarmos na mesma situação vivida no Iraque,
em que o Exército se deparou
com equipamentos franceses."
Segundo Bellais, a tecnologia
mais sensível são os sistemas
embarcados, tais como navegação, comunicação, dados de voo
e sistemas de controle, ou ainda
os sistemas de armas. No caso
dos Rafales, parte desses sistemas são fabricados pela francesa Thales, em que a Dassault
tem participação.
Embora os detalhes ainda
não tenham sido definidos, a
França se diz disposta a transferir ao Brasil 100% da tecnologia para a fabricação dos caças.
Paris garante que o objetivo é
que, no final do processo, não
somente o Brasil seja capaz de
construir um avião equivalente
ao Rafale, mas que os dois países construam juntos a próxima geração de caças franceses.
Como parte do acordo, a
França também pretende comprar entre 10 e 15 unidades do
futuro avião de transporte militar KC-390 da Embraer. Em
entrevista a uma rádio francesa, o ministro da Defesa, Hervé
Morin, chamou o avião brasileiro de "carrinho de mão" e
disse que eles não têm o mesmo
nível do A400M, avião europeu
que está sendo desenvolvido
com participação francesa.
Contrato vital
Desde seu primeiro voo, em
1996, os caças franceses nunca
conseguiram decolar para as
exportações. O contrato com o
governo francês, que previa a
entrega de 294 aviões até 2012,
foi revisto para baixo e não deve
ultrapassar 280 unidades.
Para Bellais, um contrato de
exportação hoje é vital para que
a Dassault possa continuar a fabricar os caças. "O problema
atual é que a maior parte das
encomendas já foi feita, e a produção está recuando", diz.
Segundo ele, o risco é que a
produção recue a menos de 15
aviões por ano, mínimo necessário para manter a viabilidade
econômica do projeto. "Nesse
caso, a Dassault corre o risco de
perder a mão de obra e a competência necessárias para a fabricação dos caças".
Um porta-voz do construtor
negou que o futuro da empresa
dependa do acordo com o Brasil. Segundo ele, a produção está garantida pelo contrato com
o governo francês até 2025.
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