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RIO
Rosinha se elege resgatando o eleitorado de antigos redutos de Brizola e Chagas Freitas
Casal Garotinho herda "brizolismo"
DA SUCURSAL DO RIO
Secretária de Ação Social do governo de Anthony Garotinho, Rosinha Matheus (PSB) se elegeu
governadora do Rio de Janeiro
como herdeira de uma tradição
clientelista e assistencialista adotada por Chagas Freitas (PMDB),
nos anos 70, por Leonel Brizola
(PDT), nos 80 e 90, e por seu marido, a partir de 1998.
Com 51% dos votos válidos, Rosinha reaglutinou o eleitorado de
antigos redutos brizolistas e chaguistas (Baixada Fluminense e zonas oeste e norte da capital), que
havia se pulverizado a partir de
1994 entre o PT, de Benedita da
Silva, e o PSDB, do ex-governador
Marcello Alencar. Graças ao marido, Rosinha também incorporou os votos do interior.
"Há uma continuidade no padrão de negociação política entre
Executivo e políticos locais desde
Chagas até Garotinho, passando
por Brizola", afirma o historiador
Carlos Eduardo Sarmento, da
Fundação Getúlio Vargas.
Governador do antigo Estado
da Guanabara (1971-1975) e do
Rio (1979-1983), Chagas Freitas
comandava uma rede de lideranças locais que, em troca de obras e
cargos, faziam campanha para
políticos chaguistas. Era a chamada política da "bica d"água". "Tratava-se do acesso aos bens públicos mais básicos. Aquilo que devia ser universalizado, necessitava
da figura do intermediário, que
fazia o contato entre população e
poder público", diz Sarmento.
Com a abertura política, no início dos anos 80, as associações de
moradores ocuparam o papel dos
antigos chefes locais e o chaguismo perdeu força política.O que
facilitou a transferência de votos
da Baixada e das zonas oeste e
norte para Brizola, então uma liderança histórica e carismática,
recém-chegada do exílio, que se
elegeu governador, em 82.
"Mas, ao contrário do chaguismo, o brizolismo assumiu [o governo" sem máquina. Brizola se
elegeu sem maioria na Assembléia e foi obrigado a compor com
o PMDB chaguista para governar", afirma o cientista político
João Trajano Sento-Sé, da Uerj
(Universidade do Estado do Rio).
Os chefes locais do chaguismo
foram substituídos em boa parte
por líderes de associação de moradores. Ex-presidente do Conselho de Representantes da Famerj
(Federação das Associações de
Moradores do Rio), Almir Paulo
de Lima diz que alguns secretários "cooptavam" lideranças comunitárias em troca de voto.
"Em alguns casos, as associações de moradores tiveram participação até na indicação de funcionários para os Cieps", afirma.
Sarmento confirma a prática:
"O sistema de admissão de alunos
nos Cieps [Centros Integrados de
Educação Pública" era assistencialista. Havia uma demanda
muito maior do que ofertas de vagas. Eram usados padrões políticos de seleção".
Religião
Eleito governador pelo PDT em
1998, com apoio do PT, Garotinho levou ao assistencialismo político um novo ingrediente: o vínculo religioso. "Garotinho usou as
igrejas, o templo, como fórum de
intermediação política, como fazia o Brizola com as associações
de moradores e Chagas com os
seus líderes locais", afirma o cientista político Antônio Carlos Alkmim, da PUC do Rio.
Para Sento-Sé, da Uerj, é muito
cedo, porém, para falar em "garotinismo". "Em 1998, o Garotinho
tem um desempenho muito bom
na capital em função da aliança
com o PT, principalmente com
Benedita. O primeiro pleito que
ele pode ser identificado como fenômeno eleitoral é a partir da eleição da Rosinha este ano."
Na geografia do voto, Brizola,
Garotinho e, agora, Rosinha conseguiram, percentualmente, mais
votos na Baixada que no Estado.
Enquanto no Estado a governadora eleita teve 51,3%, no antigo
reduto brizolista ela conseguiu
63,1%. Brizola, em 1990, teve
60,8% dos votos no Estado e
72,6%, na Baixada.
No segundo turno de 1998, Garotinho teve 46,9% no Estado e
49,2% na Baixada.
Para Alckmin, que estudou os
mapas eleitorais das eleições para
governador desde 82, a diferença
é que, enquanto Brizola cresceu
da capital e da Baixada para o interior, Garotinho fez o caminho
inverso. "Garotinho só entrou no
eleitorado do Rio, especificamente os da zona oeste e norte, por
causa da aliança do PDT, seu partido, com o PT de Benedita."
(MURILO FIUZA DE MELO e RAFAEL CARIELLO)
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