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São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2003

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REGIME MILITAR

Nota diz que governo "acoberta crimes" por criar comissão de ministros para achar ossadas do Araguaia

Famílias de desaparecidos atacam Lula

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Por entender que o governo está "acobertando crimes", familiares de mortos e desaparecidos durante o regime militar criticaram a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de criar uma comissão composta exclusivamente por ministros para localizar ossadas de dissidentes políticos da Guerrilha do Araguaia -movimento armado da década de 70.
"Infelizmente, comprovamos que o governo reafirma, com a assinatura desse decreto, a sua posição política de acobertamento dos crimes cometidos durante a ditadura militar", diz a nota.
O decreto de Lula, segundo a nota, "foi criado com o objetivo de proteger aqueles que prenderam, assassinaram e desapareceram com os opositores políticos ao regime". A nota traz a assinatura de dez entidades de direitos humanos e de 75 familiares de mortos e desaparecidos. Segundo o texto, ao agir politicamente para tratar da questão, o governo federal provoca indiretamente uma "banalização da tortura".
"Os efeitos causados pelo acobertamento dos crimes cometidos em nome da "segurança nacional" e a manutenção do aparato de repressão da ditadura militar são evidenciados na banalização da tortura e das demais violações de direitos humanos cometidas pelos agentes do Estado nos dias atuais", afirma a nota.
O tom duro das críticas se refere ao decreto 4.850, que criou a comissão interministerial, da qual os familiares de desaparecidos não fazem parte. Em 1995, FHC criou uma comissão independente, com representantes da sociedade, com a tarefa de reconhecer a responsabilidade do Estado nos casos de morte ou desaparecimento de pessoas que estavam sob tutela de forças do regime.
O ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) rebateu as críticas dizendo que a Lei de Anistia, de 1979, beneficiou tanto dissidentes quanto militares. "Atribuir ao governo atual é, no mínimo, ignorar esse fato", disse o ministro.
Miranda está equivocado, segundo Suzana Lisbôa, representante dos familiares na Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, criada por FHC e ainda em funcionamento. "A Lei de Anistia não atingiu os torturadores. Os presos políticos condenados por crimes de sangue não foram soltos, tiveram sua pena reformulada e liberdade condicional." Para Miranda,"não se deve fazer luta política" na comissão.
A presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ, Elizabeth Silveira e Silva, disse que a criação da comissão é um atraso, bem como sua atuação em caráter sigiloso.


Colaborou FERNANDA DA ESCÓSSIA, da Sucursal do Rio

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