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REGIME MILITAR
Nota diz que governo "acoberta crimes" por criar comissão de ministros para achar ossadas do Araguaia
Famílias de desaparecidos atacam Lula
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Por entender que o governo está
"acobertando crimes", familiares
de mortos e desaparecidos durante o regime militar criticaram a
decisão do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva de criar uma comissão composta exclusivamente por
ministros para localizar ossadas
de dissidentes políticos da Guerrilha do Araguaia -movimento
armado da década de 70.
"Infelizmente, comprovamos
que o governo reafirma, com a assinatura desse decreto, a sua posição política de acobertamento
dos crimes cometidos durante a
ditadura militar", diz a nota.
O decreto de Lula, segundo a
nota, "foi criado com o objetivo
de proteger aqueles que prenderam, assassinaram e desapareceram com os opositores políticos
ao regime". A nota traz a assinatura de dez entidades de direitos humanos e de 75 familiares de mortos e desaparecidos. Segundo o
texto, ao agir politicamente para
tratar da questão, o governo federal provoca indiretamente uma
"banalização da tortura".
"Os efeitos causados pelo acobertamento dos crimes cometidos em nome da "segurança nacional" e a manutenção do aparato de repressão da ditadura militar são evidenciados na banalização da tortura e das demais violações de direitos humanos cometidas pelos agentes do Estado nos
dias atuais", afirma a nota.
O tom duro das críticas se refere
ao decreto 4.850, que criou a comissão interministerial, da qual
os familiares de desaparecidos
não fazem parte. Em 1995, FHC
criou uma comissão independente, com representantes da sociedade, com a tarefa de reconhecer
a responsabilidade do Estado nos
casos de morte ou desaparecimento de pessoas que estavam
sob tutela de forças do regime.
O ministro Nilmário Miranda
(Direitos Humanos) rebateu as
críticas dizendo que a Lei de Anistia, de 1979, beneficiou tanto dissidentes quanto militares. "Atribuir
ao governo atual é, no mínimo, ignorar esse fato", disse o ministro.
Miranda está equivocado, segundo Suzana Lisbôa, representante dos familiares na Comissão
Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, criada por FHC e
ainda em funcionamento. "A Lei
de Anistia não atingiu os torturadores. Os presos políticos condenados por crimes de sangue não
foram soltos, tiveram sua pena reformulada e liberdade condicional." Para Miranda,"não se deve
fazer luta política" na comissão.
A presidente do Grupo Tortura
Nunca Mais-RJ, Elizabeth Silveira
e Silva, disse que a criação da comissão é um atraso, bem como
sua atuação em caráter sigiloso.
Colaborou FERNANDA DA ESCÓSSIA, da Sucursal do Rio
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