São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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Comitê LGBT que apóia Marta diz que publicidade é homofóbica e desagrega

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O "Comitê LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) Marta Prefeita" divulgou ontem um manifesto de repúdio à propaganda eleitoral da candidata petista à Prefeitura de São Paulo, na qual um locutor pergunta se o eleitor procurou saber se o candidato Gilberto Kassab (DEM) é casado e se tem filhos. (O prefeito é solteiro, sem filhos.)
Considerada homofóbica, a propaganda acertou em cheio o orgulho dos militantes homossexuais do próprio PT.
Assinado por três militantes gays do PT, o documento aponta cinco razões para considerar "esse tipo de linha de campanha errado e inaceitável".
De acordo com o texto, a propaganda viola o direito à privacidade e à intimidade; reforça o preconceito e a homofobia; é uma crítica moralista e preconceituosa, que reitera a heteronormatividade; está em desacordo com a trajetória política de Marta, que é pioneira na defesa do direito de mulheres e homossexuais; e usa um argumento que "desagrega", afasta e divide a base militante.
"Ficamos perplexos. Eu acho que quem teve essa idéia infeliz dialogou com o senso comum, cometeu um equívoco eleitoral. Então os gays casados, ou lésbicas, não podem ser bons políticos?", diz Julian Rodrigues, do Setorial Nacional LGBT do PT.
O secretário da International Lesbian and Gay Association para a América Latina e Caribe, Beto de Jesus, que também é petista, considera a propaganda "um desastre". "A primeira coisa que eu fiz hoje foi ligar para a direção do partido e dizer que aquilo não podia estar acontecendo, foi intolerável."
Beto diz que a direção do partido não tinha se dado conta. Julian acredita que "a Marta não está envolvida com isso". "É coisa da coordenação da campanha, do marketing", diz.
"É a velha tática "lulista-mensalônica", do "Eu não sabia'", reage o coordenador da Diversidade Tucana, Wagner Gui Tronolone, que diz ter um bom relacionamento com os militantes gays do PT, "mas o embate eleitoral nos colocou em posições diferentes".
Tronolone acredita que, "na prática, a gestão do Kassab é muito mais progressista que a da Marta". "Quando o [Paulo] Maluf a atacou na campanha de 2000, por defender questões LTB, o comitê gay petista foi desmontado", afirma.
"Imagine! Foi dentro do PT que começou a luta partidária LGBT. Se hoje existe diversidade tucana, no DEM, no PMDB, é fruto da luta de anos dos gays petistas", diz Beto.
No fim do manifesto, os signatários solicitam ao PT que retire "imediatamente esses questionamentos preconceituosos do ar".


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