São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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JANIO DE FREITAS

Uma lição


Lula reagiu à expulsão da Odebrecht com ato típico da diplomacia dos Estados Unidos na América Latina

A MENSAGEM mandada a Lula pelo presidente Rafael Correa, do Equador, põe em termos corretos um assunto deformado com prepotência pelo governo brasileiro.
Ao sustar a ida de uma comissão ministerial ao Equador, onde estudaria a ligação Manto-Manaus que interessa também ao Brasil, Lula reagiu à expulsão da empreiteira Odebrecht com um ato típico da diplomacia tradicional dos Estados Unidos na América Latina. Foi uma decisão para agradar a onda de parte da imprensa contra os governos acusados "de esquerda", quando não de "indígenas", no tema de fermentação destas semanas. Mas a lição de equilíbrio diplomático e convivência altiva veio do Equador, com o pedido de que Lula libere a ida da comissão porque a expulsão da Odebrecht é problema entre um país soberano e uma empresa privada.
Espantoso mesmo, porém, é o alheamento com que o governo Lula adotou a atitude que menos convém ao Brasil, até do ponto de vista mais simples. É fato objetivo e comprovado que a hidrelétrica construída por Odebrecht, sob fiscalização técnica de Furnas, reduziu a apenas seis meses as dezenas de anos de vida útil próprias das suas semelhantes. Pifou. E, com a responsabilidade de gerar 12% da energia para o país, criou-lhe a ameaça de um apagão parcial. É claro que a Odebrecht negou falha sua, mas também é fato que a confirmou na prática, ao entregar-se a obras de reparo.
Diante desses fatos comprovados, o governo equatoriano poderia criar, e explorar, numerosas represálias fortes e problemáticas. Sem faltar com a responsabilidade governamental, a expulsão da Odebrecht, como a de Furnas se ocorrer, eliminou o risco de complicações maiores, inclusive as provenientes da rua, que já se insinuavam. O problema dos pretendidos ressarcimentos fica no plano judicial ou de negociações, com a possibilidade, na primeira hipótese, de que a Odebrecht chegue até a tribunais internacionais. A redução de complicações graves foi muito positiva para o Brasil.
Nesta mesma altura, vê-se o governo Lula sob as recentes notícias de que o Brasil está em dificuldade, ou impossibilidade, de comprar aviões de caça que não sejam de fabricantes americanos, porque o governo dos Estados Unidos não o admitiria. Não são os aviões mais atualizados, não são os mais adequados às dimensões brasileiras, não são de menor preço e custo posterior. O veto pode até facilitar a compra de caças europeus, na qual há grupos muito interessados fora e dentro do governo. Mas negócio não é soberania.
A compra do sistema de vigilância e controle aéreo da Amazônia teve que ser no fabricante americano Raytheon, e não a do sistema europeu mais conveniente, porque o governo americano assim exigiu e Fernando Henrique cedeu. Os americanos seriam capazes de montar para a Amazônia um sistema a cujos dados não tenham acesso secreto? Foram-se o negócio e a soberania, vão-se as informações.
As bases dos Estados Unidos no Equador foram convidadas a retirar-se, e concluir a retirada no decorrer de 2009. Concordaram em sair. O Equador, nos seus cinco séculos, quer conhecer a soberania. O Brasil não tem o direito de opor-se, ainda mais por uma causa tão ruim. Melhor faria se imitasse o Equador.


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