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Para aliados de FHC, caixa-dois é
ato corriqueiro em campanha
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A solidariedade total dos caciques governistas ao presidente
Fernando Henrique Cardoso no
episódio de omissão de doações
eleitorais tem dois motivos: os
aliados também utilizaram o caixa-dois em suas campanhas e receberam recursos do comitê presidencial em 1998.
Sob a condição de não ter os nomes revelados, líderes da base governista disseram à Folha que se
sentem obrigados a não criar embaraços para o presidente porque
ele ajudou indiretamente candidatos do PSDB, do PMDB e do
PFL nas eleições de 1998.
O único que falou abertamente
foi o líder do governo no Congresso Nacional, deputado federal Arthur Virgílio (PSDB-AM).
Apesar de dizer que não acredita que a campanha de Fernando
Henrique Cardoso em 1998 tenha
tido um caixa-dois e de falar em
"eventual erro formal", Virgílio
acha que, "em tese, o caixa-dois é
corriqueiro, seja de políticos da situação e da oposição".
"Tenho pavor de hipocrisia.
Duvido que qualquer campanha
de grande porte tenha declarado
tudo às claras", declarou o líder
do governo no Congresso.
Prática comum
Os caciques governistas que fizeram declarações reservadas admitem que o caixa-dois é uma
prática comum de suas campanhas. Eles afirmaram que os partidos de oposição, que sempre pedem CPI (Comissão Parlamentar
de Inquérito) em casos dessa envergadura, estão adotando uma
linha cautelosa porque também
recorrem ao mesmo expediente.
Existem diversas justificativas
para o emprego de caixa-dois:
custos de campanha mais altos
dos que os declarados, especialmente o do programa no horário
gratuito na televisão, e a condição
imposta por parte dos empresários de só doar dinheiro protegidos pelo anonimato.
Logo, os governistas não têm
nenhum interesse em criar uma
CPI no Congresso Nacional. E
também nenhuma vontade, como em crises vividas pelo Executivo anteriormente, de usar os
momentos difíceis pelo governo
para pressionar Fernando Henrique Cardoso e tirar benefício.
Exemplo: em 1997, para evitar a
instalação da CPI da compra de
votos para aprovar a emenda que
permitiu a reeleição de FHC, o
PMDB derrubou os nomes do
partido que o presidente queria
levar para o ministério.
Foi naquela época que o deputado federal Eliseu Padilha (RS) e
o senador Iris Resende (GO) viraram ministros dos Transportes e
da Justiça, respectivamente.
Os ministeriáveis de FHC eram
o deputado Aloysio Nunes Ferreira (SP), então no PMDB, e o senador José Fogaça (RS).
Socorro
Líderes da base governista afirmaram que o socorro que a campanha de Fernando Henrique
Cardoso deu a candidatos da
aliança foi feito de duas formas:
envio direto de recursos a governistas em dificuldades por meio
do caixa-dois e abertura de portas
com empresários que queriam
contribuir para as campanhas
sem serem identificados.
O PSDB paulista, por exemplo,
recebeu ajuda financeira para a
campanha majoritária (que resultou na eleição do governador Mário Covas) e para irrigar candidaturas proporcionais (deputados
federais e estaduais).
Tucanos nos Estados de Sergipe
e de Goiás também foram beneficiados, segundo o relato de uma
liderança do PSDB.
Um dos principais políticos do
PMDB revelou que o comitê de
campanha do presidente Fernando Henrique Cardoso ajudou
peemedebistas em Alagoas, no
Pará, no Rio Grande do Sul, em
Goiás e no Distrito Federal.
Com o PFL não foi diferente.
Candidatos a governador no Nordeste e principalmente deputados
federais receberam ajuda direta
ou conseguiram a indicação de
onde recolher recursos para custear suas campanhas.
Um cacique do PFL classifica a
ajuda de natural, devido à fidelidade dos pefelistas nas votações
das diversas reformas constitucionais que o Poder Executivo
aprovou durante o primeiro
mandato do presidente, com o
apoio do rolo compressor governista no Congresso.
Esse argumento, segundo ele,
também beneficiou parlamentares de todos os partidos que participaram decisivamente da elaboração de leis importantes. Um
exemplo: a Lei Geral de Telecomunicações, um projeto pilotado
diretamente pelo ministro Sérgio
Motta, das Comunicações, que
morreu em 1998.
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