São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2000

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Para aliados de FHC, caixa-dois é ato corriqueiro em campanha

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A solidariedade total dos caciques governistas ao presidente Fernando Henrique Cardoso no episódio de omissão de doações eleitorais tem dois motivos: os aliados também utilizaram o caixa-dois em suas campanhas e receberam recursos do comitê presidencial em 1998.
Sob a condição de não ter os nomes revelados, líderes da base governista disseram à Folha que se sentem obrigados a não criar embaraços para o presidente porque ele ajudou indiretamente candidatos do PSDB, do PMDB e do PFL nas eleições de 1998.
O único que falou abertamente foi o líder do governo no Congresso Nacional, deputado federal Arthur Virgílio (PSDB-AM).
Apesar de dizer que não acredita que a campanha de Fernando Henrique Cardoso em 1998 tenha tido um caixa-dois e de falar em "eventual erro formal", Virgílio acha que, "em tese, o caixa-dois é corriqueiro, seja de políticos da situação e da oposição".
"Tenho pavor de hipocrisia. Duvido que qualquer campanha de grande porte tenha declarado tudo às claras", declarou o líder do governo no Congresso.

Prática comum
Os caciques governistas que fizeram declarações reservadas admitem que o caixa-dois é uma prática comum de suas campanhas. Eles afirmaram que os partidos de oposição, que sempre pedem CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) em casos dessa envergadura, estão adotando uma linha cautelosa porque também recorrem ao mesmo expediente.
Existem diversas justificativas para o emprego de caixa-dois: custos de campanha mais altos dos que os declarados, especialmente o do programa no horário gratuito na televisão, e a condição imposta por parte dos empresários de só doar dinheiro protegidos pelo anonimato.
Logo, os governistas não têm nenhum interesse em criar uma CPI no Congresso Nacional. E também nenhuma vontade, como em crises vividas pelo Executivo anteriormente, de usar os momentos difíceis pelo governo para pressionar Fernando Henrique Cardoso e tirar benefício.
Exemplo: em 1997, para evitar a instalação da CPI da compra de votos para aprovar a emenda que permitiu a reeleição de FHC, o PMDB derrubou os nomes do partido que o presidente queria levar para o ministério.
Foi naquela época que o deputado federal Eliseu Padilha (RS) e o senador Iris Resende (GO) viraram ministros dos Transportes e da Justiça, respectivamente.
Os ministeriáveis de FHC eram o deputado Aloysio Nunes Ferreira (SP), então no PMDB, e o senador José Fogaça (RS).

Socorro
Líderes da base governista afirmaram que o socorro que a campanha de Fernando Henrique Cardoso deu a candidatos da aliança foi feito de duas formas: envio direto de recursos a governistas em dificuldades por meio do caixa-dois e abertura de portas com empresários que queriam contribuir para as campanhas sem serem identificados.
O PSDB paulista, por exemplo, recebeu ajuda financeira para a campanha majoritária (que resultou na eleição do governador Mário Covas) e para irrigar candidaturas proporcionais (deputados federais e estaduais).
Tucanos nos Estados de Sergipe e de Goiás também foram beneficiados, segundo o relato de uma liderança do PSDB.
Um dos principais políticos do PMDB revelou que o comitê de campanha do presidente Fernando Henrique Cardoso ajudou peemedebistas em Alagoas, no Pará, no Rio Grande do Sul, em Goiás e no Distrito Federal.
Com o PFL não foi diferente. Candidatos a governador no Nordeste e principalmente deputados federais receberam ajuda direta ou conseguiram a indicação de onde recolher recursos para custear suas campanhas.
Um cacique do PFL classifica a ajuda de natural, devido à fidelidade dos pefelistas nas votações das diversas reformas constitucionais que o Poder Executivo aprovou durante o primeiro mandato do presidente, com o apoio do rolo compressor governista no Congresso.
Esse argumento, segundo ele, também beneficiou parlamentares de todos os partidos que participaram decisivamente da elaboração de leis importantes. Um exemplo: a Lei Geral de Telecomunicações, um projeto pilotado diretamente pelo ministro Sérgio Motta, das Comunicações, que morreu em 1998.



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