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JANIO DE FREITAS
Ricos incômodos
A quantidade e a variedade de indícios de crimes financeiro-eleitorais nas planilhas da campanha de Fernando
Henrique Cardoso e, com igual
substância, em numerosas declarações de arrecadadores e
doadores envolvem, além do
que já foi citado, indícios fortes
de outros crimes, como sonegação de impostos pessoais e altas
quantias não contabilizadas em
empresas.
O assunto, portanto, já tem a
ver também com a Receita Federal, além da Procuradoria da
República já ativada pelo procurador Luiz Francisco de Souza.
A propósito, e antes de tudo
mais, convém ajustar uma ordem de grandeza. Os "pelos menos R$ 10,120 milhões" citados
na Folha pelos repórteres Andréa Michael e Wladimir Gramacho, como importância que
foi arrecadada, mas não declarada à Justiça Eleitoral, considerado o câmbio da época, são
US$ 10,120 milhões.
Além de respeitarem a sigla da
moeda inscrita nos documentos,
o real de então, os repórteres ativeram-se ao montante de doações absolutamente omitidas na
prestação de contas à Justiça. O
montante final é, porém, muito
maior. Pelo menos uns 50%
maior, consideradas as doações
que figuraram na prestação de
contas, mas com valores menores do que os verdadeiros, ou registrados nos documentos internos da campanha. Parte dessas
doações o gato fernandista comeu. Sem incorrer em exagero,
os US$ 10,120 milhões arrecadados e desaparecidos são coisa de
U$ 15 milhões, ou uns R$ 30 milhões corrigidos - pelo que se
tem até agora.
Uma distinção é necessária:
doações omitidas na declaração
ao TSE não comprometem, necessariamente, os doadores. Ao
que tudo indica, houve doações
feitas com legitimidade, e do seu
registro e destino esses doadores
não são responsáveis. Também
por isso o propósito do procurador Luiz Francisco de Souza, de
providenciar auditorias nos
doadores não citados ao TSE, é
correto e promissor. Servirá para separar as doações legítimas
e as outras, que aparecem misturadas, por força dos registros
da campanha, e talvez comprometam quem não fez por isso.
Das várias declarações explícitas ou indiretamente relacionadas às revelações da Folha, a
que diz respeito a jornalistas
(não muitos, é verdade) não
passará em vão. É, claro, de Fernando Henrique Cardoso:
"Quanto mais livre, mais incômoda (para o governante) for a
imprensa, maior será o sinal de
que o país é democrático".
Pode ser verdade, mas quanto
mais incômoda a imprensa, é sinal, também, de quanto o governo e o governante são ruins.
Ou não haveria como e por que
os incomodar.
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