São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Presidente da CPI diz que depoimento pode ser invalidado, pois depoente teria esquecido detalhes importantes

Empresário reafirma propina em Sto. André

RENATO FRANZINI
DA REDAÇÃO

O empresário Luiz Alberto Gabrilli Filho, 67, disse ontem em depoimento a CPI na Câmara de Santo André que pagou por cinco anos propina para poder operar linhas de ônibus na cidade.
Com isso, Gabrilli reafirmou o teor do que havia dito em janeiro ao Ministério Público, que iniciou naquele mês investigação de um suposto esquema de corrupção na prefeitura da cidade, administrada pelo PT desde 1997.
Mas o depoimento à CPI pode ser invalidado. De acordo com o presidente da comissão, vereador Antonio Leite (PT), Gabrilli se esqueceu de fatos relevantes em sua fala. "Isso [o esquecimento] revela que ele tem lapsos de memória, o que diminui bastante a qualidade de seu depoimento", disse.
O empresário se recupera de um transplante de rim feito em maio e aparentava bastante cansaço no depoimento ontem.
Depois de falar por cerca de 20 minutos, seus advogados pediram uma pausa, que durou 25 minutos. Depois do intervalo, Leite perguntou a Gabrilli se ele tinha condições de continuar. "Estou bem", respondeu. Sua fala durou mais 40 minutos.
Segundo Leite, a CPI vai se reunir com a assessoria jurídica da Câmara até a próxima quarta-feira para avaliar a validade do depoimento. A opinião não é unânime entre os integrantes da comissão. Para o vereador Donizete Pereira (PV), relator da CPI, o depoimento é válido. "Acredito que ele [Gabrilli] está melhor hoje do que na época do depoimento ao Ministério Público", disse.

R$ 40.800
Gabrilli foi uma das principais testemunhas ouvidas por promotores estaduais depois da morte do prefeito Celso Daniel, em 20 de janeiro deste ano.
Os promotores investigavam a possibilidade de haver relação entre a morte e supostos casos de corrupção na prefeitura.
Aos promotores, Gabrilli disse que participou de reuniões em que se acertou o valor da propina. Afirmou também ter ouvido que o dinheiro seria usado para financiar campanhas do PT.
Ontem, Gabrilli detalhou como foi o pagamento. Segundo ele, foram pagos R$ 40.800 mensais de 1997 a dezembro de 2001, o que seria equivalente a R$ 550 por ônibus. O dinheiro seria entregue ao empresário Ronan Maria Pinto, que o repassava ao secretário afastado de Serviços Municipais de Santo André, vereador Klinger Luiz de Oliveira Souza.
Ronan e Gabrilli formaram o consórcio Nova Santo André, vencedor de um concorrência em 1997 para explorar linhas de ônibus em Santo André.
Segundo Gabrilli, nesse período de cinco anos, suas empresas, a Viação São José e a Expresso Guarará, não pagaram propina por dois meses. Em represália, Klinger teria colocado uma empresa para concorrer com Gabrilli em uma de suas linhas de ônibus.
Gabrilli não foi questionado pelos vereadores se o dinheiro ia para o PT. Em curta entrevista dada após o depoimento, disse que isso "foi comentado [com os supostos participantes do esquema]. Mas não sei se é para campanha".
O depoimento de Gabrilli à CPI deveria ter sido tomado em 16 de outubro, antes do segundo turno da votação para presidente. Mas uma manobra dos vereadores jogou o depoimento para ontem.
Com isso, eles foram obrigados a prorrogar o prazo final da CPI para a próxima sexta-feira.
Ontem, o presidente da CPI informou que deve pedir nova prorrogação de 30 dias para concluir o relatório final.
A CPI, que é dominada por vereadores da situação, foi criada em junho. Leite disse que "o depoimento não trouxe nenhuma prova contundente e está no mesmo patamar dos outros".
Segundo ele, os outros não trouxeram provas que comprovassem o suposto esquema de corrupção.



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