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Governo teme que tropeços tirem votos das reformas
RAYMUNDO COSTA
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma sucessão de tropeços políticos e a desarticulação do governo acenderam a luz amarela no
Planalto: é real o risco de as reformas não saírem do Senado de
acordo com o figurino desenhado
pelo PT. A previdenciária a cada
dia perde votos dados como certos. A tributária, se não houver
acordo, deve se resumir a cinco
ou seis pontos consensuais.
"As reformas correm risco pela
forma autoritária com que o governo conduz o processo. Quanto
mais tempo levar para votar,
maior é o risco, porque o Planalto
comete, a cada semana, dois ou
três erros fatais", disse o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC).
PSDB e PFL baixaram a guarda
diante de alguns acenos feitos pelo governo, como a edição de medida provisória para atender a reivindicações da oposição na previdenciária e a adoção do cronograma do senador Tasso Jereissati
(PSDB-CE) na tributária.
Os últimos dias foram especialmente desgastantes para o governo. O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva chegou a ser ríspido na
cobrança de sua coordenação política, a qual culpa por alguns tropeços como o veto que fez ao projeto que destinava recursos públicos a instituições privadas de
atendimento de alunos com necessidades especiais.
Para tentar tranquilizar o ambiente, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), teve o
aval do ministro José Dirceu (Casa Civil) para reunir ontem os líderes aliados e da oposição no gabinete de Jereissati -claramente
dividindo com o líder do governo,
Aloizio Mercadante (PT-SP), a articulação política do Planalto.
Calheiros tenta se credenciar na
reforma ministerial negociada
por Lula. A escolha do gabinete de
Jereissati foi estratégica: um aceno de boa vontade ao PSDB, cujos
votos serão vitais para aprovar a
reforma da Previdência
A reunião começou tensa. "Não
adianta outro diálogo de surdo e
mudo", disse o líder do PFL, José
Agripino (RN), referindo-se a
compromissos não cumpridos
pelo governo.
Em busca de um acordo que garanta a votação da reforma previdenciária no próximo dia 25,
Mercadante acenou com a possibilidade de o governo editar uma
medida provisória incorporando
reivindicações da oposição à proposta.
Nas contas do Planalto, serão
precisos pelo menos dez votos tucanos e pefelistas para assegurar a
aprovação da reforma da Previdência. Votando a emenda, o governo espera " descontaminar" a
negociação da tributária.
Além da oposição da maioria
dos governadores, a reforma tributária empacou no Senado após
a medida provisória que aumentou a alíquota da Cofins (Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social). Os senadores
acham que foram atropelados
porque o assunto está sendo discutido na reforma.
Uma reunião da bancada do
PMDB, que tem 22 senadores, revelou um único voto a favor da
unificação da legislação do ICMS,
núcleo da reforma tributária: Hélio Costa (MG). Senadores do PT
já avisaram ao Planalto que, nessa
questão, pretendem votar com
seus Estados.
O que os líderes consideram
mais provável é a aprovação de
cinco ou seis pontos da reforma,
para atender aos interesses imediatos da União e dos Estados, e
deixar para o ano que vem o aprofundamento da discussão sobre o
ICMS.
Para evitar novas frentes de
conflito, Lula deve esperar as votações para definir a reforma ministerial. Teme desagradar a aliados que forem preteridos.
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