|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAMPO MINADO
Um dia após deixar cadeia, líder do MST, acusado de formação de quadrilha e porte ilegal de arma, volta a atacar Justiça
Judiciário é "Estado de direita", diz Rainha
CRISTIANO MACHADO
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM MIRANTE DO PARANAPANEMA (SP)
Um dia depois de sua libertação,
o líder do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
José Rainha Jr., 43, criticou a estrutura do Judiciário brasileiro.
"Temos aqui um Estado democrático de direita, não de Direito",
afirmou, ao ser questionado sobre
a atuação da Justiça no país.
Rainha ficou preso por quatro
meses e foi solto anteontem da
Penitenciária de Dracena, no
Pontal do Paranapanema (extremo-oeste de SP), principal foco
do conflito fundiário no Estado.
O STJ (Superior Tribunal de
Justiça) acolheu uma reclamação
dos advogados de Rainha, que lhe
deu direito de aguardar em liberdade a conclusão do processo em
que é acusado de porte ilegal de
arma. Rainha também responde
por formação de quadrilha e furto. O líder dos sem-terra aproveitou o primeiro dia fora da prisão
para visitar três assentamentos na
região. No início da noite de ontem, uma festa "regada a carne de
porco e forró" estava preparada
para comemorar sua liberdade.
Em entrevista à Agência Folha
na tarde de ontem, no assentamento Che Guevara, em Mirante
do Paranapanema, onde possui
um lote, Rainha disse se considerar um "perseguido da Justiça". E
defendeu uma "mudança na estrutura" do poder. "A estrutura
está velha, enferrujada. É uma estrutura de 500 anos."
Rainha também condenou a
atuação do governo do Estado na
condução do processo de reforma
agrária na região. "O governo do
Estado é inoperante, não consegue sair da teoria. Falta vontade
política, está muito devagar."
O líder do MST afirmou que o
Estado não assentou nenhuma família no Pontal neste ano, mesmo
após convênio assinado com o
Ministério do Desenvolvimento
Agrário que destinou à região
aproximadamente R$ 35 milhões.
"Foi feito o convênio, a verba foi
liberada e nenhuma família foi assentada", disse.
Rainha elogiou o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Disse
que, "em linhas gerais", já fez
mais que Fernando Henrique
Cardoso. Para Rainha, Lula conseguirá assentar até o final de seu
governo 1 milhão de famílias de
sem-terra. "Temos paciência e vamos aguardar."
O líder disse ainda que não cogita novas invasões de propriedades. "Estamos em outro momento. A luta será pacífica, pois não
podemos atropelar o tempo para
não sermos atropelados." A mobilização, disse, será feita com
marchas e acampamentos.
Ele reafirmou que não pensa em
deixar o Pontal para evitar novas
condenações. "Uma decisão dessas cabe à direção do MST. O que
se decidir eu vou aceitar. Pessoalmente, não penso em sair", afirmou, citando sua "história na região", onde vive desde 1991.
Também negou "qualquer problema" com a direção do MST
-que o proibiu de conceder entrevistas em nome do movimento
em junho, antes de sua prisão.
"Nunca houve isso [problemas],
o que houve foram interpretações
da imprensa. Estou muito bem
com o movimento", afirmou o líder do MST.
Texto Anterior: Jantar "discreto" deve reunir Lula e Corrêa Próximo Texto: Outro lado: Secretário diz que Rainha não fala pelo MST Índice
|