São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 2005

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TROTE MILITAR

Imagens de quartel em Curitiba mostram choques elétricos e afogamentos

Exército apura torturas em novatos

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO

O Exército abriu sindicância para investigar torturas praticadas por terceiros-sargentos veteranos contra recém-formados em quartel de Curitiba.
Imagens de trote a terceiros-sargentos novatos na 2ª Companhia de Fuzileiros do 20º Batalhão de Infantaria Blindado do Exército mostram choques elétricos, afogamentos com balde de água, aplicações de ferro de passar roupa na pele e chineladas de veteranos em novatos.
As cenas lembram as imagem de tortura promovidas por militares americanos a presos de Abu Ghraib, no Iraque.
As filmagens e fotos, feitas em agosto deste ano, foram ao ar ontem à noite no programa "Fantástico", da Rede Globo.
Nota oficial divulgada pelo Exército afirma que as imagens são "verídicas" e anuncia ter aberto sindicância para "apurar os fatos e punir os responsáveis".
O trote nos "lobinhos", como são chamados os novatos, é aplicado por veteranos da 2ª Companhia de Fuzileiros, conhecida como "Pantera".
As primeiras imagens mostram o terceiro-sargento identificado como Murilo sendo imobilizado, dentro do quarto, levando choques na barriga e tendo um ferro de passar roupa quente aplicado em suas orelhas. Murilo grita, enquanto os outros militares riem.
Em seguida, o novato é levado para sessões de afogamento no banheiro. Mesmo engasgando, ele é obrigado a pedir "socorro, Pires", que seria um veterano. Quem lidera o grupo é um militar identificado apenas como Medeiros, que está sem camisa e usando uma touca preta. Murilo é deixado no banheiro com uma cueca na cabeça.
O segundo a levar o trote é o sargento Marcos José Pacheco. Em pânico, ele grita muito quando militares ameaçam queimá-lo com ferro de passar roupa. Depois, ele passa por uma sessão de afogamento e é obrigado a repetir "eu amo os antigões".
Pacheco, já passando mal, é obrigado a ler o juramento da companhia: "Respeitar os sargentos mais antigos, receber todas as missões passadas, pagar o churrasco sem ponderação. Não chorar para o subtenente. E, se preciso for, derramar o próprio sangue em prol da tradição do pacote [trote] da 2ª Companhia Pantera Brasil". Fotos de Pacheco também seriam mostradas.
Segundo o "Fantástico", também são submetidos à tortura os sargentos Edvaldo Rodrigues da Silva, Giovani Moscatelli e Marcelo Sales Correa.
Dois dos responsáveis pela filmagem, que segundo o perito Vanderson Castilho, especialista em crimes eletrônicos, foi feita com uma máquina fotográfica digital, seriam os sargentos Deyvison Chelis e Maurício Schiavon Ramos. Também foram identificados os sargentos Sérgio Ferraz e Rafael Rosetti.
O chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, coronel Carlos Barcellos, considera a conduta de "agressão física e moral em qualquer tipo de atividade, inclusive na instituição militar, é totalmente inaceitável.


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