São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2006

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Acusação virou prova, diz Gushiken ao sair

Ex-ministro afirma, em carta de despedida a Lula, que crise do mensalão acabou com "presunção de inocência" no país

Petista disse que pediu para deixar de ser ministro; seu substituto no Núcleo de Assuntos Estratégicos é irmão de Mercadante

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na qual se despede do governo, o ex-ministro e hoje chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência, Luiz Gushiken, afirma que a crise do mensalão abalou o pilar da "presunção de inocência". Segundo ele, certas acusações se transformaram em "prova de culpa".
"Os aspectos deletérios daquela crise [do mensalão] também não podem ser esquecidos. Na voragem das denúncias abalou-se um dos pilares do Estado de Direito, o da presunção de inocência, uma vez que a mera acusação foi transformada no equivalente à prova de culpa", afirma o petista na carta.
Para Gushiken, o clima político-eleitoral estabeleceu "juízos distorcidos". "Com base nesse preceito execrável buscou-se destruir reputações. O clima político-eleitoral envenenado pela maledicência turvou o ambiente, contaminou as percepções e estabeleceu juízos distorcidos", disse o petista.
Na carta, Gushiken diz que partiu dele a iniciativa de deixar o ministério. "Naquela conjuntura, (...) fiz questão de ser destituído da condição de ministro para que, em meio à crise política que se instalara, pudesse responder às acusações e evitar que as inúmeras ilações feitas contra minha conduta prejudicassem o governo."
Com a saída de Gushiken, o coronel Oswaldo Oliva Neto, atual secretário-geral do NAE e irmão do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), assume interinamente a função.

Marcos Valério
Gushiken fez parte do grupo de ministros da coordenação de governo, o chamado "núcleo duro" de Lula. No ano passado, perdeu o status de ministro ao deixar a Secretaria de Comunicação de Governo.
Ele foi acusado por Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil, de ter ordenado à Visanet que fizesse contrato com o empresário Marcos Valério. Gushiken nega.
Como chefe do NAE, Gushiken sofreu um desgaste com o caso das cartilhas que faziam promoção do governo. O Tribunal de Contas da União suspeita de superfaturamento. Gushiken também nega essa acusação e diz que as cartilhas foram impressas seguindo o "procedimento padrão".
A saída de Gushiken foi classificada como simbólica pela oposição no Senado. "A demissão encerra o núcleo duro responsável pela arquitetura de um projeto de poder de longo prazo que organizou um complexo esquema de corrupção", disse o líder da minoria, Álvaro Dias (PSDB-PR).
"[A saída] é simbólica. Agora, do filme "Entreatos", só sobrou a dona Marisa", disse o líder do PFL, José Agripino Maia (RN), citando o filme de João Moreira Salles sobre os bastidores da campanha de Lula em 2002.
O pefelista Antonio Carlos Magalhães (BA) ironizou: "Por que o senhor Gushiken, (...) na sua carta, não entrega o seu sigilo bancário, fiscal e telefônico para que possamos fazer uma análise da sua figura em relação ao governo Lula?" (EDUARDO SCOLESE E SILVIO NAVARRO)


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