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Acusação virou prova, diz Gushiken ao sair
Ex-ministro afirma, em carta de despedida a Lula, que crise do mensalão acabou com "presunção de inocência" no país
Petista disse que pediu para deixar de ser ministro; seu substituto no Núcleo de Assuntos Estratégicos é irmão de Mercadante
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em carta ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva na qual se
despede do governo, o ex-ministro e hoje chefe do Núcleo de
Assuntos Estratégicos da Presidência, Luiz Gushiken, afirma
que a crise do mensalão abalou
o pilar da "presunção de inocência". Segundo ele, certas
acusações se transformaram
em "prova de culpa".
"Os aspectos deletérios daquela crise [do mensalão] também não podem ser esquecidos.
Na voragem das denúncias abalou-se um dos pilares do Estado
de Direito, o da presunção de
inocência, uma vez que a mera
acusação foi transformada no
equivalente à prova de culpa",
afirma o petista na carta.
Para Gushiken, o clima político-eleitoral estabeleceu "juízos distorcidos". "Com base
nesse preceito execrável buscou-se destruir reputações. O
clima político-eleitoral envenenado pela maledicência turvou o ambiente, contaminou as
percepções e estabeleceu juízos
distorcidos", disse o petista.
Na carta, Gushiken diz que
partiu dele a iniciativa de deixar o ministério. "Naquela conjuntura, (...) fiz questão de ser
destituído da condição de ministro para que, em meio à crise
política que se instalara, pudesse responder às acusações e
evitar que as inúmeras ilações
feitas contra minha conduta
prejudicassem o governo."
Com a saída de Gushiken, o
coronel Oswaldo Oliva Neto,
atual secretário-geral do NAE e
irmão do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), assume interinamente a função.
Marcos Valério
Gushiken fez parte do grupo
de ministros da coordenação
de governo, o chamado "núcleo
duro" de Lula. No ano passado,
perdeu o status de ministro ao
deixar a Secretaria de Comunicação de Governo.
Ele foi acusado por Henrique
Pizzolato, ex-diretor do Banco
do Brasil, de ter ordenado à Visanet que fizesse contrato com
o empresário Marcos Valério.
Gushiken nega.
Como chefe do NAE, Gushiken sofreu um desgaste com o
caso das cartilhas que faziam
promoção do governo. O Tribunal de Contas da União suspeita de superfaturamento. Gushiken também nega essa acusação e diz que as cartilhas foram
impressas seguindo o "procedimento padrão".
A saída de Gushiken foi classificada como simbólica pela
oposição no Senado. "A demissão encerra o núcleo duro responsável pela arquitetura de
um projeto de poder de longo
prazo que organizou um complexo esquema de corrupção",
disse o líder da minoria, Álvaro
Dias (PSDB-PR).
"[A saída] é simbólica. Agora,
do filme "Entreatos", só sobrou
a dona Marisa", disse o líder do
PFL, José Agripino Maia (RN),
citando o filme de João Moreira Salles sobre os bastidores da
campanha de Lula em 2002.
O pefelista Antonio Carlos
Magalhães (BA) ironizou: "Por
que o senhor Gushiken, (...) na
sua carta, não entrega o seu sigilo bancário, fiscal e telefônico
para que possamos fazer uma
análise da sua figura em relação
ao governo Lula?"
(EDUARDO SCOLESE E SILVIO NAVARRO)
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