São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2006

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Ligações elevam suspeitas sobre Lorenzetti

Acusados de negociar a compra do dossiê antitucano trocaram 159 telefonemas na semana em que a operação foi desmontada

Cruzamento feito com base nas quebras de sigilo mostra que as ligações subiram no dia 14, na véspera da prisão de Gedimar e Valdebran

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os ex-petistas acusados de negociar a compra do dossiê contra políticos do PSDB trocaram entre si pelo menos 159 ligações telefônicas na semana em que a operação foi desmontada. Em 79% delas, figura o nome de Jorge Lorenzetti, ex-coordenador do setor de inteligência da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva e apontado pela Polícia Federal como o articulador da trama.
Os dados são resultado de um cruzamento feito pela Folha, do dia 11 até o dia 18 de setembro, com base nas quebras de sigilo telefônico dos principais acusados de participar do esquema. As ligações se intensificaram no dia 14, data em que a compra do material foi fechada e véspera da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha com o R$ 1,75 milhão que seria usado na compra do dossiê.
Nesse dia, Lorenzetti -que foi expulso do PT- ligou 15 vezes para um telefone que supostamente estava sendo usado por Hamilton Lacerda, ex-assessor do candidato derrotado do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante.
As investigações indicam, até o momento, que um dos principais objetivos da negociação era reunir elementos para prejudicar o adversário de Mercadante, o tucano José Serra, que venceu no primeiro turno.
No relatório parcial da PF sobre o caso, Lorenzetti é classificado como "a pessoa que articulou em âmbito nacional a compra do dossiê". Para os policiais, Lacerda seria o homem que entregou o dinheiro a Gedimar e Valdebran, no hotel Ibis Congonhas, em São Paulo, para concluir a negociação. Lacerda foi flagrado pelo sistema interno de TV do hotel carregando a mesma mala encontrada com Gedimar.
Incluindo o número pessoal de Lacerda e o telefone "frio" que seria usado por ele, houve pelo menos 55 ligações entre ele e Lorenzetti na semana em que o caso veio à tona.
Mesmo após a prisão de Gedimar e Valdebran, realizada pela PF na madrugada do dia 15 de setembro, as ligações entre os acusados continuaram. As quebras de sigilo mostram que Lorenzetti tentou por mais de dez vezes falar com Gedimar -na ocasião já detido pela PF. Não é possível saber quantas ligações foram completadas. Gedimar, ex-agente da PF contratado da campanha de Lula, trabalhava subordinado a Lorenzetti. Outros dois suspeitos de participar da trama, Oswaldo Bargas e Expedito Veloso, que também compunham o núcleo de inteligência da campanha de Lula, trocaram ligações entre si, com Lacerda e com Lorenzetti. Na manhã da prisão, Bargas ligou quatro vezes para o suposto número "frio" de Lacerda, por exemplo.
Além das ligações entre si, os suspeitos receberam e fizeram ligações para telefones do PT e para ramais do Palácio do Planalto. De acordo com as investigações da PF, todos os suspeitos usavam pelo menos dois celulares, um considerado "seguro" e outro pessoal.
Na ocasião, eles eram chefiados por Ricardo Berzoini, então presidente do PT e coordenador da campanha de Lula. Berzoini está afastado da presidência do PT. O comitê de campanha de Berzoini fez ligações para a Caso Sistemas (empresa em nome da mulher do ex-secretário particular do presidente Lula Freud Godoy) e para Oswaldo Bargas, no dia 13 de setembro.
(RANIER BRAGON, LEONARDO SOUZA E ADRIANO CEOLIN)


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