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Ligações elevam suspeitas sobre Lorenzetti
Acusados de negociar a compra do dossiê antitucano trocaram 159 telefonemas na semana em que a operação foi desmontada
Cruzamento feito com base nas quebras de sigilo mostra que as ligações subiram no dia 14, na véspera da prisão de Gedimar e Valdebran
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os ex-petistas acusados de
negociar a compra do dossiê
contra políticos do PSDB trocaram entre si pelo menos 159 ligações telefônicas na semana
em que a operação foi desmontada. Em 79% delas, figura o
nome de Jorge Lorenzetti, ex-coordenador do setor de inteligência da campanha de Luiz
Inácio Lula da Silva e apontado
pela Polícia Federal como o articulador da trama.
Os dados são resultado de um
cruzamento feito pela Folha,
do dia 11 até o dia 18 de setembro, com base nas quebras de
sigilo telefônico dos principais
acusados de participar do esquema. As ligações se intensificaram no dia 14, data em que a
compra do material foi fechada
e véspera da prisão de Gedimar
Passos e Valdebran Padilha
com o R$ 1,75 milhão que seria
usado na compra do dossiê.
Nesse dia, Lorenzetti -que
foi expulso do PT- ligou 15 vezes para um telefone que supostamente estava sendo usado por Hamilton Lacerda, ex-assessor do candidato derrotado do PT ao governo de São
Paulo, Aloizio Mercadante.
As investigações indicam, até
o momento, que um dos principais objetivos da negociação
era reunir elementos para prejudicar o adversário de Mercadante, o tucano José Serra, que
venceu no primeiro turno.
No relatório parcial da PF sobre o caso, Lorenzetti é classificado como "a pessoa que articulou em âmbito nacional a
compra do dossiê". Para os policiais, Lacerda seria o homem
que entregou o dinheiro a Gedimar e Valdebran, no hotel
Ibis Congonhas, em São Paulo,
para concluir a negociação. Lacerda foi flagrado pelo sistema
interno de TV do hotel carregando a mesma mala encontrada com Gedimar.
Incluindo o número pessoal
de Lacerda e o telefone "frio"
que seria usado por ele, houve
pelo menos 55 ligações entre
ele e Lorenzetti na semana em
que o caso veio à tona.
Mesmo após a prisão de Gedimar e Valdebran, realizada
pela PF na madrugada do dia 15
de setembro, as ligações entre
os acusados continuaram. As
quebras de sigilo mostram que
Lorenzetti tentou por mais de
dez vezes falar com Gedimar
-na ocasião já detido pela PF.
Não é possível saber quantas ligações foram completadas. Gedimar, ex-agente da PF contratado da campanha de Lula, trabalhava subordinado a Lorenzetti. Outros dois suspeitos de
participar da trama, Oswaldo
Bargas e Expedito Veloso, que
também compunham o núcleo
de inteligência da campanha de
Lula, trocaram ligações entre
si, com Lacerda e com Lorenzetti. Na manhã da prisão, Bargas ligou quatro vezes para o
suposto número "frio" de Lacerda, por exemplo.
Além das ligações entre si, os
suspeitos receberam e fizeram
ligações para telefones do PT e
para ramais do Palácio do Planalto. De acordo com as investigações da PF, todos os suspeitos usavam pelo menos dois celulares, um considerado "seguro" e outro pessoal.
Na ocasião, eles eram chefiados por Ricardo Berzoini, então presidente do PT e coordenador da campanha de Lula.
Berzoini está afastado da presidência do PT. O comitê de campanha de Berzoini fez ligações
para a Caso Sistemas (empresa
em nome da mulher do ex-secretário particular do presidente Lula Freud Godoy) e para Oswaldo Bargas, no dia 13 de
setembro.
(RANIER BRAGON, LEONARDO SOUZA E ADRIANO CEOLIN)
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