São Paulo, sábado, 14 de novembro de 2009

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EUA rastreiam contas ligadas à Universal

Promotoria de SP pediu investigação por suspeitar que grupo de comunicação foi comprado com recursos desviados para o exterior

Advogado da Universal evita comentar e afirma que "argumento é fraquinho'; investigação americana deve abranger os últimos 17 anos


RUBENS VALENTE
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Promotores dos Estados Unidos rastreiam dezenas de contas bancárias naquele país ligadas ao bispo Edir Macedo que, segundo os promotores de Justiça de São Paulo, foram usadas para adquirir a Rede Record e empresas de comunicação do grupo com recursos desviados da Igreja Universal.
O pedido brasileiro de colaboração, entregue ao governo norte-americano na semana passada, diz que a igreja arrecadou no Brasil dízimo junto aos fiéis e remeteu os recursos para os EUA por meio de doleiros. Em seguida, o dinheiro teria sido repatriado e usado para montar a rede de comunicação de Macedo.
Os alvos dos promotores nos EUA são Macedo, a Record, quatro empresas "offshore" e dez pessoas, incluindo o ex-deputado federal e bispo João Batista Ramos da Silva, que participaram da compra de veículos de comunicação no Brasil.
Os promotores brasileiros pediram aos EUA que quebrem o sigilo e bloqueiem os valores eventualmente encontrados em 15 contas bancárias localizadas em Miami, Nova York e Jacksonville, incluindo as registradas em nome do irmão de Edir, Celso Bezerra Macedo, e de uma empresa "offshore" ligada a ele, a CEC Trading. Os EUA já descobriram que essas 15 contas alimentaram dezenas de outras, que também estão sendo rastreadas.
Conforme a Folha revelou em outubro, a CEC recebeu US$ 1,2 milhão da Record -a emissora disse se referir à compra de equipamentos.
O alvo dos promotores inclui as contas "Titia", "Pelican", "Florida" e "Milano Finance", já investigadas pelas autoridades brasileiras por serem geridas por doleiros brasileiros e abrigarem, nos EUA, milhões de dólares cujo destino final não é inteiramente conhecido.
Elas são chamadas de "contas-ônibus", por receberem e enviarem recursos para pessoas e empresas diferentes, muitas não relacionadas entre si. Só uma das contas, "Florida", girou US$ 164 milhões (cerca de R$ 276 milhões).
Segundo os promotores, essa conta é relacionada à empresa Diskline Câmbio, sediada no Rio e hoje fechada. A agência realizou "inúmeras operações" supostamente ligadas à Universal, segundo os promotores.
O uso de doleiros nas remessas caracteriza crime tanto no Brasil quanto nos EUA.
Os promotores querem a devassa em 17 anos de movimentações (desde 1º de janeiro de 1992) das contas e a apreensão dos documentos a elas relacionados, como faturas de cartões de crédito e cheques.
Os documentos servirão como eventual prova nas investigações realizadas no Brasil.
Além do pedido de cooperação, os promotores enviaram aos EUA um relatório que narra os supostos crimes que Edir Macedo teria cometido naquele país. O relato, chamado tecnicamente de comunicação espontânea, pode servir para os EUA iniciarem investigação própria sobre Macedo.
O Brasil também enviou cópia do depoimento do ex-pastor da Universal em NY Gustavo Alves da Rocha. Ouvido pelos promotores, Rocha teria confirmado que a Igreja usou recursos de fiéis para financiar empresas do grupo.
Também ouvido por promotores no dia 21 de outubro, o ex-pastor da igreja, Carlos Magno de Miranda, afirmou que parte da compra da TV Record, avaliada pelos promotores em US$ 45 milhões, foi obtido "por meio de uma operação ilícita na Colômbia".
O secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, disse que o pedido de cooperação internacional "é um trabalho corriqueiro, que a secretaria tem enfatizado nos últimos anos". "A política do ministro [Tarso Genro] avança na área da cooperação internacional."


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