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EUA rastreiam contas ligadas à Universal
Promotoria de SP pediu investigação por suspeitar que grupo de comunicação foi comprado com recursos desviados para o exterior
Advogado da Universal evita comentar e afirma que "argumento é fraquinho'; investigação americana deve abranger os últimos 17 anos
RUBENS VALENTE
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Promotores dos Estados
Unidos rastreiam dezenas de
contas bancárias naquele país
ligadas ao bispo Edir Macedo
que, segundo os promotores de
Justiça de São Paulo, foram
usadas para adquirir a Rede Record e empresas de comunicação do grupo com recursos desviados da Igreja Universal.
O pedido brasileiro de colaboração, entregue ao governo
norte-americano na semana
passada, diz que a igreja arrecadou no Brasil dízimo junto aos
fiéis e remeteu os recursos para
os EUA por meio de doleiros.
Em seguida, o dinheiro teria sido repatriado e usado para
montar a rede de comunicação
de Macedo.
Os alvos dos promotores nos
EUA são Macedo, a Record,
quatro empresas "offshore" e
dez pessoas, incluindo o ex-deputado federal e bispo João Batista Ramos da Silva, que participaram da compra de veículos
de comunicação no Brasil.
Os promotores brasileiros
pediram aos EUA que quebrem
o sigilo e bloqueiem os valores
eventualmente encontrados
em 15 contas bancárias localizadas em Miami, Nova York e
Jacksonville, incluindo as registradas em nome do irmão de
Edir, Celso Bezerra Macedo, e
de uma empresa "offshore" ligada a ele, a CEC Trading. Os
EUA já descobriram que essas
15 contas alimentaram dezenas
de outras, que também estão
sendo rastreadas.
Conforme a Folha revelou
em outubro, a CEC recebeu
US$ 1,2 milhão da Record -a
emissora disse se referir à compra de equipamentos.
O alvo dos promotores inclui
as contas "Titia", "Pelican",
"Florida" e "Milano Finance",
já investigadas pelas autoridades brasileiras por serem geridas por doleiros brasileiros e
abrigarem, nos EUA, milhões
de dólares cujo destino final
não é inteiramente conhecido.
Elas são chamadas de "contas-ônibus", por receberem e
enviarem recursos para pessoas e empresas diferentes,
muitas não relacionadas entre
si. Só uma das contas, "Florida", girou US$ 164 milhões
(cerca de R$ 276 milhões).
Segundo os promotores, essa
conta é relacionada à empresa
Diskline Câmbio, sediada no
Rio e hoje fechada. A agência
realizou "inúmeras operações"
supostamente ligadas à Universal, segundo os promotores.
O uso de doleiros nas remessas caracteriza crime tanto no
Brasil quanto nos EUA.
Os promotores querem a devassa em 17 anos de movimentações (desde 1º de janeiro de
1992) das contas e a apreensão
dos documentos a elas relacionados, como faturas de cartões
de crédito e cheques.
Os documentos servirão como eventual prova nas investigações realizadas no Brasil.
Além do pedido de cooperação, os promotores enviaram
aos EUA um relatório que narra os supostos crimes que Edir
Macedo teria cometido naquele país. O relato, chamado tecnicamente de comunicação espontânea, pode servir para os
EUA iniciarem investigação
própria sobre Macedo.
O Brasil também enviou cópia do depoimento do ex-pastor da Universal em NY Gustavo Alves da Rocha. Ouvido pelos promotores, Rocha teria
confirmado que a Igreja usou
recursos de fiéis para financiar
empresas do grupo.
Também ouvido por promotores no dia 21 de outubro, o
ex-pastor da igreja, Carlos
Magno de Miranda, afirmou
que parte da compra da TV Record, avaliada pelos promotores em US$ 45 milhões, foi obtido "por meio de uma operação ilícita na Colômbia".
O secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, disse que o pedido de cooperação
internacional "é um trabalho
corriqueiro, que a secretaria
tem enfatizado nos últimos
anos". "A política do ministro
[Tarso Genro] avança na área
da cooperação internacional."
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